«Já passou o tempo em que só ganhar para nós era bom» – Entrevista Bola na Rede a Andreia Faria

Tanto no Benfica como na seleção, Andreia Faria tem ganho maior protagonismo no meio-campo, zona cerebral do jogo, e onde a própria admitiu gostar de ter o controlo. A caminho do Euro 2025 Feminino, a média passou o equilíbrio que demonstra dentro de campo para aquele que colocou nas palavras, num discurso realista e ambicioso. Em entrevista ao Bola na Rede, Andreia Faria fala da temporada do Benfica, dos desafios de pensar o jogo e de o jogar bem e no que Portugal pode esperar das Navegadoras na Suíça.

«Temos aproveitado para trabalhar alguns dos pontos e das situações em que necessitávamos mais de coordenação».

Andreia Faria

Bola na Rede: Quais as primeiras expectativas para o Europeu?

Andreia Faria: Neste momento estamos a trabalhar para conseguir chegar ao mais alto nível ao Europeu e encararmos os jogos a um nível alto, para podermos competir. Temos as expectativas de dar o nosso melhor e de alcançar os melhores resultados possíveis.

Bola na Rede: Em que pontos é que os últimos jogos da seleção, com algumas derrotas pesadas, permitiram crescer e retirar ilações positivas?

Andreia Faria: Obviamente é sempre uma experiência que não é positiva. Se pudéssemos mudar esses resultados, queríamos que fossem mais positivos e vantajosos para nós. Neste momento temos de nos focar no que conseguimos controlar, que são os próximos jogos. Temos aproveitado este estágio para trabalhar alguns dos pontos e das situações em que necessitávamos mais de coordenação. Tem sido muito positivo. Estamos todas muito focadas e unidas para conseguirmos melhorar essas situações e apresentarmo-nos a nível superior.

Bola na Rede: Onde é que Portugal mais pode crescer do ponto de vista coletivo? Portugal tem mudado o comportamento com bola e procurado um estilo de jogo mais impositivo, pode estar a sentir algumas dores de crescimento?

Andreia Faria: Sim. Acho que o futebol feminino português e a jogadora portuguesa têm evoluído muito pelo contexto da Primeira Liga Feminina e por termos muitas jogadoras a jogar no estrangeiro. O futebol é feito de fases e vivemos uma fase menos positiva, mas não significa que no Europeu a voltemos a viver. Estamos a tentar dar a volta à situação e sabemos que somos capazes de o fazer porque já o fomos num passado próximo.

Bola na Rede: Chegaste à seleção ainda no 4-4-2 losango muito característico e Portugal agora tem jogado num 3-5-2 algo diferente. Dentro de campo, e principalmente para uma média, quais as principais diferenças?

Andreia Faria: Acho que nos conseguimos adaptar muito bem. Esse 4-4-2 era muito usual e agora, mesmo no Benfica, temos jogado com três centrais. Acho que é de fácil adaptação porque não varia muito a nossa ideia de jogo. Varia a forma como estamos posicionadas, mas acho que a nossa ideia de ter bola e controlar o jogo mantém-se similar. Não há muita alteração.

«O Benfica é o clube português que mais aposta no futebol feminino e que mais contribuiu para esta evolução tão rápida».

Andreia Faria
Andreia Faria Benfica
Fonte: Pedro Barrelas / Bola na Rede

Bola na Rede: Pensando no Benfica, qual a avaliação que fazem de uma época em que foram campeãs e venceram a Taça da Liga, mas acabaram por perder a final da Taça de Portugal e falhar o acesso à Champions League?

Andreia Faria: Depois de uma época muito positiva há dois anos, onde fomos aos quartos de final da Champions e fizemos o pleno, obviamente que as expectativas estavam muito elevadas. Mesmo as nossas expectativas estavam assim. Obviamente que esta época ficou um bocado aquém porque não conseguimos os quatro títulos. No entanto, a conquista do pentacampeonato, que foi um feito histórico em Portugal, e da Taça da Liga é algo que nos deixa boas sensações. Queremos melhorar para no próximo ano voltar ao pleno.

Bola na Rede: No Benfica sentes que há um crescimento do futebol feminino e da aposta na vossa equipa.

Andreia Faria: O Benfica é o clube português que mais aposta no futebol feminino e que mais contribuiu para esta evolução tão rápida. Em apenas seis anos o Benfica já disputou os quartos de final da Champions League e logo no ano de criação ganhámos a Taça de Portugal. Acho que o Benfica está a fazer uma aposta muito acertada em nós e na formação das miúdas. Vai ser crucial que continuem a apostar como têm feito. Nós só temos de agradecer porque nos permite estar neste nível.

Bola na Rede: Quem é a tua principal referência no futebol feminino?

Andreia Faria: A Cláudia Neto. Sempre foi uma jogadora que admirei muito. Adorava vê-la e tirar certas ideias do futebol dela. Ainda hoje, com 35 anos, se mantém a um nível altíssimo. Sem dúvida que é uma das melhores, senão a melhor, e a média mais difícil de marcar do meu ponto de vista. É uma referência.

Bola na Rede: Com um perfil em certa linha parecido e na nova geração do futebol feminino, a Kika Nazareth saiu do Benfica este verão e esteve os últimos meses sem dar o contributo à seleção por estar lesionada. É possível arranjar um paralelismo entre as duas situações, desde a adaptação coletiva do Benfica a Portugal, que teve de lidar com esta ausência. Sentes que quando há uma individualidade que vai embora, mais que uma solução individual é preciso arranjar mecanismos coletivos para suprir essa ausência.

Andreia Faria: Sim. Sem dúvida que a Kika é uma jogadora brilhante e faz muita diferença. No entanto, no Benfica tínhamos um processo muito bem definido que não dependia de apenas de uma jogadora. Obviamente que rasgos individuais ajudam sempre muito a equipa, sem dúvida. Com a saída da Kika tivemos de nos adaptar em algumas situações. Temos outras jogadoras para a posição com muita qualidade, mas com características diferentes da Kika. Isso é um dos pontos. Temos de nos adaptar de forma rápida à jogadora e às características da jogadora que está a ocupar a posição. Isso é um dos pontos, mas não diria que o Benfica ficou mais fraco. Ficou diferente e as jogadoras têm de se saber adaptar a estas saídas.

«Gosto de jogar mais atrás, porque consigo gerir melhor os momentos de jogo e dosear quando ir para a frente e quando ir para trás».

Andreia Faria
Andreia Faria Portugal 3
Fonte: Federação Portuguesa de Futebol

Bola na Rede: Nesta adaptação já jogaste mais baixo, perto da saída de bola, e como 10. Onde te sentes mais confortável e achas que o teu jogo pode sair mais potenciado?

Andreia Faria: Sem dúvida que me sinto mais confortável mais próxima das centrais, na saída de bola e construção, do que em posições mais avançadas. Obviamente que me consigo adaptar e fazê-lo, mas consigo contribuir muito mais com aquilo que são as minhas características de jogo numa posição mais recuada ou como 8 num duplo pivô.

Bola na Rede: Qual a importância neste papel mais baixo da gestão dos ritmos e do controlo do jogo?

Andreia Faria: É conseguir medir muito bem os momentos que atravessamos num jogo. Ele tem 90 minutos e temos de perceber se o adversário está mais cansado, se estamos por cima, se temos de acelerar ou pausar. Essa é uma das características e um dos papéis cruciais da minha parte no Benfica. É uma parte do jogo que gosto de controlar e de gerir, daí dizer que gosto de jogar mais atrás, porque consigo gerir melhor os momentos de jogo e dosear quando ir para a frente e quando ir para trás. É um momento muito importante do jogo.

Bola na Rede: Na seleção além de ti temos a Andreia Norton, a Andreia Jacinto e, mesmo que agora lesionada, a Andreia Bravo. Ter o nome de Andreia é uma garantia de qualidade no meio-campo?

Andreia Faria: [risos] Acho que sim. Espero que continue assim, que é um bom sinal. Na seleção temos jogadoras com muita qualidade e é uma competição muito saudável. Somos todas muito amigas e está a correr tudo muito bem.

Bola na Rede: Nos últimos meses tens ganho algum protagonismo na seleção. Como tens visto esse crescimento do ponto de vista pessoal?

Andreia Faria: É muito difícil conseguir afirmar-me neste lote de jogadoras e ter minutos. Estou muito contente porque a verdade é que ao longo dos últimos tempos tenho conseguido somar mais minutos. Isso é opção do mister e eu faço o meu trabalho para poder continuar a contribuir. Tem sido positivo e sido uma boa evolução.

«Para além de ganhar queremos boas exibições, bom futebol e que as pessoas gostem de nos ver».

Andreia Faria
Andreia Faria Portugal 2
Fonte: Federação Portuguesa de Futebol

Bola na Rede: A nível de estágio e de grupo, como está tudo a ser preparado para esta competição?

Andreia Faria: O nosso grupo é sempre muito bom e positivo. É tudo boa onda e é muito tranquilo de se trabalhar. Ao mesmo tempo é muito sério e focado nos nossos objetivos e, no treino, focado em fazer o trabalho porque é para isso que nós cá estamos. Queremos continuar a trabalhar para dar uma boa resposta.

Bola na Rede: Já traçaram objetivos para o Europeu?

Andreia Faria: Acho que o nosso objetivo é sempre vencer e jogar bem.

Bola na Rede: Qual o peso que o jogar bem ganhou na seleção portuguesa?

Andreia Faria: Muito. Hoje em dia acho que não nós focamos só em ganhar. Já passou o tempo em que só isso para nós era bom. Neste momento, para além de ganhar queremos boas exibições, bom futebol e que as pessoas gostem de nos ver. É isso que traz adeptos para o futebol feminino. Não é só ganhar, é jogar bem e trazer um futebol atrativo para os adeptos.

Bola na Rede: Tens alguma mensagem a deixar aos portugueses, na antecâmara de um Europeu a jogar na Suíça?

Andreia Faria: Espero que muitos dos emigrantes na Suíça consigam viver um bocado do nosso país e que nos venham apoiar. Aos portugueses, espero que se possam deslocar lá e aos que não podem que acompanhem na televisão. Vamos fazer tudo para os orgulhar e representar ao máximo e da melhor forma Portugal.

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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