«Jorge Mendes perguntou-me onde queria jogar. Dois dias depois assinei pelo Benfica» – Entrevista BnR com Fábio Faria

– Benfica: Parte 2 –

“Podia ter tido oportunidades no campeonato e conquistado o lugar”

BnR: À entrada para a segunda época, sabias que não contavas para JJ?

FF: Eu fui o jogador com mais minutos nessa pré-época, porque como fui ao play-off com o Valladolid, a minha época só acabou no final de julho e o Benfica começava a época poucos dias depois. Quando estava ultimar os preparativos para sair de Espanha, recebo uma chamada do Shéu “O mister Jesus quer que te apresentes na terça-feira em Lisboa”. “Mas Sr. Shéu, acabei o campeonato ontem e não tive férias”. “Mas ele precisa de jogadores e quer-te lá” e o que é que eu dizer? Arranquei para Lisboa e estava com um andamento superior a todos porque vinham de férias. Fiz os jogos todos o lado do Miguel Vítor, mas com a venda do Coentrão para o Real vem o Garay e percebi que a escolha para ser o quarto central seria entre mim e o Miguel. No último dia de transferências fui falar com o mister – ele achava que eu devia ser emprestado, que só ia jogar no Benfica a partir dos 25 anos – e surgiu a oportunidade de ir para o Paços com o Rui Vitória; ele e o Carlos Carneiro foram ter a Lisboa, viram um jogo comigo no camarote e convenceram-me. Quando chego a Paços de Ferreira, o Rui Vitória passada uma semana assina pelo Vitória SC. Mexeu um bocadinho comigo e as coisas não correram bem, apesar de termos uma boa equipa. Com a vinda do mister Calisto comecei a jogar regularmente, mas num jogo para a Taça frente ao FC Porto cometo um penalti sobre o Hulk nos últimos minutos e deixei de ser opção. Foi quando comecei a falar com o Benfica para se arranjar outra opção. Quando surgiu a possibilidade de ir para o Rio Ave não hesitei.

BnR: Já voltamos a Paços. Ainda no Benfica, como explicas a opção sistemática num Emerson que não rendia em detrimento de, por exemplo, Capdevila?

FF: O Emerson, quando chegou, tinha muitas dificuldades táticas. Tecnicamente era um jogador evoluído, mas taticamente (…) o Jesus dava-lhe cada “dura”! Em vez de ser eu, passou para ele e assim já estava mais descansado. Era bom jogador, mas não era tinha as características que o Jesus aprecia num lateral: era alto, mas não era móvel e rápido; ele gosta de laterais com muito andamento, sempre para a frente. Até acho que ele podia ser um excelente central; lembro-me de um jogo muito bom que ele fez em Stamford Bridge nessa posição. Olhava para ele e achava-o parecido comigo.
O Capdevila, que tinha sido campeão do mundo em 2010, vem com um ordenado gigantesco e notava-se que estava ali para passar férias e que não estava para se chatear. Chegou para aí com 10 kg a mais; o Jesus estava “tolo” com ele “As férias foram só churrascos, hein?”, dizia-lhe. Estava em final de carreira, já tinha ganho tudo, vinha com moral e conseguiu um bom contrato. Mas dávamo-nos muito bem, porque ele era um “palhaço”, gente boa. Ele jogou pouco por causa disto, o Jesus não é burro.

BnR: Sentias que podias ter tido uma oportunidade?

FF: Sinto que se não tivesse sido emprestado ao Valladolid, talvez tivesse mais minutos. Estava em Espanha e via os jogos… o Roderick, por exemplo, fez dois ou três jogos a titular. Como o Jesus estava a apostar tudo na Liga Europa, se calhar podia ter tido oportunidades no campeonato e, quem sabe, conquistado o lugar.

BnR: Em Paços de Ferreira cruzas-te com Melgarejo, extremo de origem que JJ adaptou, curiosamente, a defesa-esquerdo. Surpreendeu-te?

FF: Ele era o nosso melhor marcador. Tinha faro de golo. Mas sim, surpreendeu-me porque ele não gostava de defender no Paços (…) mas o Fábio também não gostava de fazê-lo no Rio Ave… mas quando chegas a um clube grande sujeitas-te a tudo.

BnR: Pergunto-te também por Luisinho, outra adaptação.

FF: A do Luisinho não, até porque também já tinha sido meu colega no Rio Ave. À imagem do Fábio, é um jogador “ranhoso”, mas tecnicamente muito bom. Pensei que ia ter mais minutos, porque tinha uma personalidade que o mister Jesus aprecia: que dá tudo e que detesta perder.
Também como o Michel. Lembras-te? Era ponta-de-lança.

BnR: Claro! O Imperador da Mata Real.

FF: Era um fora de série, mas não queria nada com isto. Tinha uma qualidade impressionante! Vinha do Futsal e tecnicamente foi dos melhores jogadores que vi. Às vezes a culpa não é só dos treinadores: quando tens três ou quatro oportunidades e nunca jogas, a culpa não pode ser de mais ninguém.

BnR: Mudas-te para Vila do Conde a meio da época e reencontras alguns colegas. Satisfaz-me esta curiosidade: como é dividir o balneário com Tarantini, uma figura à parte do nosso futebol?

FF: Ele já é a imagem do Rio Ave. Conheci o Tarantini no ano em que subimos à Primeira Liga. Ele veio para o Rio Ave nessa altura e, até hoje, tenho uma grande relação com ele e com a mulher. Desde cedo que percebi que era um jogador diferente: tinhas uma conversa com ele e dizias “Fogo, este gajo percebe de tudo”. Outra: quando íamos para estágio, queríamos era jogar Playstation ou às cartas e ele sempre com o seu livrinho, a estudar. Para te ser sincero, achei que não ia conseguir ter a carreira que teve; evoluiu mesmo muito! Depois começas a treinar com ele e percebes que é um jogador muito inteligente. Eu, se fosse treinador, gostava de tê-lo na minha equipa, porque sabe o que fazer em cada momento do jogo. E é sempre ele e mais dez. como pessoa é espetacular; quando deixei o futebol, entrei na Universidade, mas tive algumas dificuldades para escolher o curso e aconselhei-me com ele. Está sempre disposto a ajudar. Vai ser um excelente técnico e acho que será o próximo treinador do Rio Ave.

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Miguel Ferreira de Araújo
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