«Neste momento não consigo ver um jogo de futebol com cronómetro» Entrevista BnR com Tarantini

Professor Neca entrevista À BnR

No evento Football Talks 2022, organizado pela Federação Portuguesa, de Futebol, o Bola na Rede teve a oportunidade estar à conversa com o ex-jogador Tarantini, atualmente treinador-adjunto do FC Famalicão. O principal tópico de conversa foi a questão do tempo útil de jogo e de possíveis medidas e mudanças de mentalidade necessárias para que o mesmo tenha o melhor aproveitamento possível.

«Acredito que a mudança de mentalidade pode ajudar a aumentar o tempo útil de jogo, mas sobretudo, a qualidade de jogo» 

Bola na Rede: Hoje no Footbal Talks, disse que “o tempo útil não pode nem deve passar ao lado dos jogadores”, achas que às vezes, fora das quatro linhas, os jogadores podem querer dizer que querem contribuir para o tempo útil de jogo, mas assim que o jogo começa, essa preocupação passa para segundo plano?

Tarantini: Acho que não pode passar em claro no jogador, mas não podemos esquecer, obviamente a personalidade do jogador, mas sobretudo também a influência que o treinador tem sobre o jogador, aí sim acho que que é uma ação muito importante do treinador sobre o jogador. No fundo acho que o jogador não deve ficar indiferente a um resultado positivo e a um mau jogo de futebol. Acho que todos nós deveremos caminhar para uma melhor qualidade de jogo e não ficar indiferente a isso.

Foi por isso que eu falei na questão da vergonha porque também já a senti em campo, felizmente poucas vezes, mas acredito que essa mudança de mentalidade pode ajudar a aumentar o tempo útil de jogo, mas sobretudo, a qualidade de jogo.

Bola na Rede: Uma das soluções que tem sido discutida para aumentar o tempo útil de jogo é a questão de haver um tempo cronometrado, sobretudo a hipótese de se fazer 60 minutos de jogo cronometrado. Hoje o seu colega de painel João Marcelino concordou com a ideia, ontem o Presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, mostrou-se muito contra essa ideia, qual é a sua posição sobre esta possível medida?

Tarantini: Vou ser sincero, nunca pensei muito sobre isso, mas tudo vai mudar no futebol se isso acontecer, a intensidade de jogo, a forma de ver bolas paradas… Neste momento, eu não consigo ver um jogo de futebol com cronómetro, acho que partilho mais essa opinião do presidente, mas sobretudo acho que, se nós conseguirmos evoluir a qualidade de jogo dos 90 minutos, certamente esse aspeto nunca se vai falar no futebol, ou pelo menos não tão cedo.

Eu olhava mais para resolver estes problemas que podem estar a acontecer, estar no fundo da tabela [das ligas europeias com mais tempo útil de jogo], ninguém quer estar no fundo da tabela como está a acontecer com a Liga Portuguesa, portanto temos que olhar seriamente e perceber se esta diminuição do tempo útil de jogo está associada à qualidade de jogo. Se sim, então vamos mudar isso, se não, provavelmente deveríamos apenas falar dessa qualidade e não sobre o tempo útil de jogo.

Bola na Rede: No Football Talks um dos seus colegas de painel, Rui Vitória, disse que os cartões amarelos, os pontapés de baliza e os festejos dos golos é que perdem mais tempo e que não podíamos só focar a atenção na perda de tempo em substituições; na sua opinião, compensarem-se 45 segundos por cada paragem para substituição é uma medida que não trará nenhuma mudança significativa para o tempo útil de jogo?

Tarantini: Acho que ainda é um pouco cedo para perceber a qualidade desse tempo de compensação. Aqui a questão é que, se formos olhar apenas para aumentar o tempo de compensação, as coisas não vão ser resolvidas, acho que não é por aí. Sobretudo, é olhar para isso e perceber onde estamos a falhar e como podemos melhorar – a diminuição do número de faltas, ações mais rápidas, uma forma mais rápida para os cartões amarelos que diminua o tempo. Portanto, temos que encontrar outras soluções. Eu acredito que a própria arbitragem quis melhorar o tempo útil de jogo com essa ação, agora não me parece que só aumentar o tempo de compensação possa ser a solução.

Bola na Rede: Em agosto, o Presidente da Liga Portugal, Pedro Proença, anunciou o Prémio Não Para, que premiaria monetariamente as equipas que tivessem o maior tempo útil de jogo por cada jornada. Parece-lhe uma boa medida?

Tarantini: Sim, vai um bocadinho de encontro àquilo que eu falei, esta questão dos jogadores e treinadores estarem associados a bons comportamentos, querer que o futebol aumente de qualidade, portanto parece-me ser uma medida que possa ajudar a que o tempo útil de jogo aumente e a qualidade de jogo também.

Bola na Rede: Neste momento, o Tarantini é treinador-adjunto do FC Famalicão desde a época passada, na sua equipa técnica, tentam passar essa ideia aos jogadores de que é preciso proporcionar um bom futebol aos adeptos e de não estar só focado em ganhar a qualquer custo?

Tarantini: Sim, isso tem a ver muito com o próprio jogo e o Rui [Pedro Silva] tem uma ideia sobretudo de futebol positivo, o presidente falou disso, da valorização de jogadores através de jogo, da boa ideia de jogo. Essa é a nossa ideia, sabemos que às vezes corre bem, outras vezes corre mal, mas sobretudo da nossa parte temos a competência de ir pelo caminho que queremos para ganhar jogo, mas sobretudo pela ideia de jogo, que os adeptos se envolvam com ela, portanto tem que haver aqui uma sinergia de ideias para que isso se consigo confluir, e não a todo o custo de ganhar, não é isso que nós queremos. Estamos a trabalhar para isso e espero sobretudo que corra dessa forma, porque se correr bem será bom para todos.

Afonso Viana Santos
Afonso Viana Santoshttp://www.bolanarede.pt
Desde pequeno que o desporto faz parte da sua vida. Adora as táticas envolvidas no futebol europeu e americano e também é apaixonado por wrestling.

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