«Cruyff disse que eu o fazia lembrar a ele próprio» – Entrevista BnR com Dani

– Pesadelo em Londres –

BnR: Na tua chegada ao West Ham, Harry Redknapp diz “My missus fancies him. Even I don’t know whether to play him or fuck him”. O Slaven Bilic disse recentemente “Dani (…) não era só uma cara bonita, era tudo à volta dele, como falava, como sorria, até como tocava na bola. Tudo nele era muito sexy“. Sentes que chegar a Londres com rótulo de “playboy” te prejudica?

D: Sim, sim. Atenção, eu chego a Londres com 18 anos, e também os jornais ingleses me põem o rótulo. Eles normalmente só tinham duas ou três páginas a falar dos jogos nos dias a seguir, era muito pouco. Nos jornais não havia só desporto. Mas eu chego ao primeiro treino, e estavam lá uma série de jornalistas.

Dani na estreia pelo West Ham
Fonte: West Ham United FC

BnR: Não era habitual naquela altura?

D: Não. Os meus colegas comentaram que no West Ham nunca tinham jornalistas nos treinos; e nos jogos, só se fizessem um resultado extraordinário é que apareciam nessas três páginas. Disseram que eu cheguei e estavam logo na primeira página. Ainda por cima num dia de treinos. Foi quando um dos jornais põe “Dads, lock up your daugthers! Dani has arrived”. Quando vi aquilo, disse “Meu Deus, o que é isto? Onde é que eu estou?”. Eu era muito jovem, fui para Londres sozinho e foram umas semanas muito difíceis no início. Em Lisboa, vivia com os meus pais e a minha irmã, tinha muitos amigos. De repente, estou completamente sozinho em Londres. Isso custou-me imenso.

BnR: O que é que o Redknapp te diz na primeira vez que falam?

D: Disse-me que eu vinha para ajudar. O West Ham estava numa situação difícil na tabela classificativa. Eles fizeram duas contratações de inverno, eu e um romeno [n.d.r. Dumitrescu], que fomos para ajudar a equipa a sair da zona de despromoção. E nós logo em dois ou três meses conseguimos isso.

BnR: Tens uma estreia de sonho no West Ham. O que te recordas desse dia?

D: Derby de Londres contra o Tottenham. Marco um golo de cabeça e ganhamos 1-0. Nos cantos, eu ficava fora da área para tentar rematar, mas estava aos papéis. A bola ia para um lado, para o outro. Eu só pensava “Isto não dá nada, não consigo acertar com os tempos, os espaços, onde é que a bola vai cair…”. Ainda não tinha uma boa perceção do jogo em Inglaterra, e não conseguia estar nos sítios certos. Decidi ir para dentro da área no canto, e, se não me engano, é o Slaven Bilic que cabeceia primeiro. O guarda-redes defende, eu estou ali ao lado e, “pumba”, de cabeça. Foi logo a imprensa toda a fazer elogios, os meus colegas todos doidos. O próprio treinador também!

BnR: Que diferenças encontras na mudança para o futebol inglês?

D: Em Inglaterra, havia uma forma de jogar e de ver o futebol completamente diferente de tudo o que eu tinha encontrado. Em termos de futebol profissional, eu tinha uns meses de Sporting, e sem regularidade. Ainda mais, o West Ham era pontapé para a frente, o ponta-de-lança Iain Dowie ganhar as bolas, jogar com as sobras, com a luta. Tudo muito diferente daquilo a que estava habituado e daquilo que eu poderia trazer ao jogo. Nos primeiros momentos, andava a ver a bola voar de um lado para outro. Jogávamos duas vezes por semana e treinava-se pouco. Em um ou dois dias por semana tínhamos um treino mais intenso. E nesses treinos não havia cá trabalho tático. Era aquecer e depois peladinha, estrangeiros contra os ingleses.

BnR: Quais as melhores memórias dos tempos em Londres?

D: [Dani ri-se a bom rir]. Tantos bons momentos. Lembro-me de que na segunda equipa estavam o Frank Lampard e o Rio Ferdinand. Eles tinham o hábito de pôr os jogadores da segunda equipa a limpar as botas dos jogadores da primeira. Era uma forma de fazer com que sentissem a importância de chegar à primeira equipa. Lembro-me de um dia estar a sair do treino e de ver o Lampard e o Ferdinand a limpar botas. Eles tinham a minha idade e já nos tínhamos cruzado nas seleções jovens. Falava muito com eles e dávamo-nos bem. Eu ao vê-los a fazer aquilo, disse “Epá não, então vocês agora vão limpar as minhas botas? Estão malucos ou quê?” (risos).

BnR: É muito à inglesa isso de pôr os mais novos a limpar as botas.

D: É. Lembro-me também de que eu ia para o treino com o Bilic ou com o John Harkes, um americano, e falávamos de futebol, de Inglaterra e aquela fase em que a equipa começou a jogar bem. Fizemos coisas que eles próprios diziam “Estamos a jogar de outra maneira, estamos a jogar pelo chão. Tu pões a bola no chão, pões a equipa a querer trocar a bola, a ter momentos que não é só pontapé para a frente.” Mas depois tínhamos 70/80% do plantel que jogava à inglesa, futebol direto, nada de pôr a bola no chão. Ficou sempre a tentativa de mudar essa mentalidade, de dizer algumas vezes “Calma, não é preciso pôr sempre a bola na frente e tentar ganhar a segunda bola”.

BnR: Tu e o Iain Dowie eram uma boa imagem desse contraste na forma de jogar.

D: Sim. No jogo com o Tottenham, eu fui o “Man of the Match”, e, no final, eu e o Iain Dowie fomos entrevistados. O jornalista pergunta ao Dowie, ele já tinha 10 ou 11 anos de Premier League, “Já se fala que tu e o Dani são a dupla de atacantes mais bonita da Premier League”. E ele responde-lhe “Dêem-lhe 10 ou 11 anos de Premier League e vão ver que ele vai ficar tão feio como eu”. Ele tinha a zona das sobrancelhas toda inchada dos anos todos de cotoveladas e saltos para disputar a bola. Fica a memória da capacidade que houve dos ingleses receberem esta ideia de jogar de outra maneira, ter mais calma na forma como abordamos o jogo e os próprios treinadores estarem um bocadinho mais abertos para isso.

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Frederico Seruya
Frederico Seruya
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