📲 Segue o Bola na Rede nos canais oficiais:

O globetrotter da tática – Entrevista a Eduardo Almeida

- Advertisement -

BnR: Foram muitos os clubes portugueses pelos quais passou mas interessa-me bastante esta sua multiculturalidade tática, digamos assim. Já falámos de Hong Kong e Tanzânia mas há mais. Fale-nos um pouco dessa sua vivência nas diferentes realidades do futebol mundial.

EA: De facto são todas realidades muito distintas: Hong Kong é uma cidade cosmopolita, onde há dinheiro mas não envolve muita paixão pela modalidade. Tínhamos excelentes condições para trabalhar, era inclusive, o melhor clube e sim, gostei de lá trabalhar e da cidade.

Depois o oposto, que é a Tanzânia, onde não haviam quase condições de trabalho, uma realidade completamente diferente! Para perceberem, chegámos a fazer viagens de 18h, com animais selvagens à frente e a ter que parar o autocarro para eles passarem. Por outro lado, havia muita paixão, mesmo com pouco dinheiro. Com eles vivi o futebol na sua fase mais pura, na sua essência.

A seguir, Malásia, que é Ásia, embora mais evoluída, mas com as suas limitações. Lá participei na abertura de uma academia, que até ali não existia e foi muito interessante. Dar a oportunidade a miúdos para praticarem e começarem com 10/11 anos e agora, alguns estão nas respetivas seleções. Ainda há pouco tempo, um deles, me enviou uma mensagem a dizer: “Mister eu vou à seleção”. Portanto, começámos um trabalho de base, juntamente com um trabalho de seniores e isso foi muito enriquecedor. Era no Norte da Malásia, onde a população é maioritariamente muçulmana e senti muitas diferenças culturais mas não houve qualquer problema. Na Tanzânia também senti mas era fifty fifty, ali era mais radical mas tenho alguma facilidade de adaptação também, e não tive, até hoje, quaisquer problemas.

E novamente, ocorre outra grande mudança de ambiente, a Hungria. Surgiu através de um amigo que me indicou e também posso dizer que gostei muito. Era um clube pequeno, em que o presidente controlava tudo e as pessoas que lá trabalhavam eram uma família, como que uma aldeia, e acarinhavam-me muito. Eles recebem as pessoas incrivelmente bem, ganhei uma mini-família com quem mantenho sempre contacto. Em termos de futebol, já é muito bom, muito perto da Europa: rígidos, influência nórdica, físico em detrimento do tático, com um treino muito especializado, um pouco mais ao nosso estilo. Consegui introduzir algumas alterações e foi muito positivo.

Em termos de experiência internacional, a última foi Laos, através de um ex-jogador que me indicou. A minha maior promoção são os jogadores que treino e chegam a outros clubes e acabam por me indicar. Apesar de já ter estado na Ásia, Laos tem uma cultura diferente, mais budista. É um país grande mas com pouca população, bastante seguro também mas pouco desenvolvido. Quanto ao futebol, o campeonato não é dos melhores, existem duas equipas boas, que era a minha, o Lane Xang Intra, e a Laotoyota, e mais uma vez, não era aquela paixão pela modalidade. Como costumo dizer, na Ásia pagam como profissionais e são amadores e noutros países, são profissionais e recebem como amadores.

A que me marcou mais de todas foi, sem dúvida e por incrível que pareça, a Tanzânia, que em termos de trabalho tinha menos condições mas que me deu muita alegria. Se algum dia tiver de morar noutro país por opção, é lá!

Fonte: Eduardo Almeida
Fonte: Eduardo Almeida

BnR:Vi uma entrevista em que disse que era conhecido por ter “experiência em equipas aflitas”. Como é que explica esse reconhecimento?

EA: Posso dizer que só comecei uma época de início quando tive no Pinhalnovense. Como principal só comecei uma época, fiz uma equipa, a do Pinhalnovense da presente época mas só realizei 5 jogos e fui demitido sem nunca perder . Todas as outras comecei sempre a meio ou já na parte final dos campeonatos e sempre com o objetivo de ajudar as equipas. Tenho aceite todas as propostas e já tenho tido sucesso em algumas equipas, noutras nem tanto mas as dificuldades também fazem parte. No entanto, tenho tido mais sucesso que o contrário. Gosto quando tudo está mal, dá-me mais força para tentar apoiar e dar tudo, é isso que me satisfaz: sairmos de situações difíceis para depois podermos festejar. Uma manutenção, em situações como tenho apanhado algumas equipas, é um título. Não estou a dizer que não gosto de começar uma época e lutar por títulos mas nunca tive essa oportunidade até hoje. Nunca fui muito de falar de mim mas já que pergunta, a verdade é que já passei por quase todas as divisões, por várias realidades e tive que superar muitas situações, em vários pontos do mundo com culturas, métodos e jogadores muito distintos. Às vezes as coisas não correm bem e nem sempre é possível ter a família connosco e isso torna-nos mais completos como profissionais e pessoas e obriga-nos a dar a volta e a lutar para virar o rumo dos acontecimentos a nosso favor.

BnR: Pegando na sua vasta experiência com as camadas mais jovens, diga-nos, que valores gosta de transmitir aos seus jogadores?

EA: Os valores que eu transmito e com os quais trabalho em equipas séniores e com qualquer jogador são a seriedade, honestidade e entrega no trabalho. Dar o que temos e o que não temos e quem não o quiser fazer, não pode trabalhar no mesmo grupo que eu. Sou muito sincero e por vezes custa mas não consigo ter um jogador no plantel que eu sei que não conto com ele mas está ali porque me custa mandá-lo embora e é bom rapaz, isso não acontece!  Custa mais dizer uma vez que ele nunca irá jogar, do que estar todas as semanas a mentir. Sou frontal na vida e no futebol também o sou. Peço-lhes honestidade e trabalho no nosso caminho, independentemente do escalão, salário ou clube. Profissionalismo e rigor acima de tudo. Mas também tenho sempre a porta aberta para os jogadores e tento sempre ser amigo deles e ajudar no que for possível.

Patrícia Ribeiro Fernandes
Patrícia Ribeiro Fernandeshttp://www.bolanarede.pt
Desde que se conhece que a Patrícia gosta de bola e chegou mesmo a jogar, mas a vida seguiu por outros rumos. Como mulher de paixões que é, encontra no Benfica a maior de todas e é a escrever que se sente em casa.                                                                                                                                                 A Patrícia escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Swansea de Vítor Matos volta a perder no Championship na visita ao terreno do Stoke City

O Swansea de Vítor Matos voltou às derrotas no Championship. Na visita ao terreno do Stoke City, desaire por 2-1.

Alanyaspor de João Pereira soma 3º empate consecutivo na Liga Turca

O Alanyaspor voltou a empatar na Liga Turca. Conjunto orientado por João Pereira somou um ponto na visita ao terreno do Kayserispor.

Académico de Viseu bate Farense e aproxima-se do pódio da Segunda Liga

O Académico de Viseu ganhou 2-0 ao Farense, no Estádio do Fontelo. A partida marcou a decima quarta jornada da Segunda Liga.

Sérgio Oliveira torna-se problema para o Sport Recife: eis as novidades sobre o futuro do português

O futuro de Sérgio Oliveira no Sport Recife está envolto em dúvidas. O médio tem um salário insuportável para o clube após a descida de divisão.

PUB

Mais Artigos Populares

Igor Zubeldía autocrítico após nova derrota da Real Sociedad: «Fizemos figura de parvos. Assim, qualquer equipa de qualquer divisão nos ganha»

Igor Zubeldía não se mostrou nada satisfeito com mais uma derrota da Real Sociedad. Bascos perderam com o Girona na La Liga.

Geovany Quenda vai ser operado em Londres e ficar ao encargo do Chelsea

Geovany Quenda já está ligado contratualmente ao Chelsea. Blues vão assumir a operação à lesão do extremo do Sporting.

Atlético Madrid regressa às vitórias na La Liga após 2 derrotas e vence Valência na abertura da 16ª jornada

O Atlético Madrid voltou às vitórias na La Liga. Depois de duas derrotas, os colchoneros venceram o Valência na 16.ª jornada.