Paulo Mendes orienta o Marco 09, única equipa que ainda não sofreu golos nos Campeonatos Nacionais: «Do ponta-de-lança ao guarda-redes, todos têm mostrado um enorme compromisso»

Paulo Mendes, técnico do Marco 09, concedeu uma entrevista ao Bola na Rede, onde falou sobre as dificuldades na preparação da pré-época devido a questões administrativas que levaram o clube à Liga 3, o arranque da temporada e o impressionante registo defensivo: o Marco 09 é, até ao momento, o único clube dos campeonatos nacionais que ainda não sofreu golos na temporada 2025/26.

Ao fim de seis jogos – quatro na Liga 3 e dois na Taça de Portugal – o Marco 09 continua a ser a única equipa, desde o Campeonato de Portugal até à Primeira Liga, que ainda não sofreu golos. Em entrevista ao Bola na Rede, o treinador Paulo Mendes abordou os desafios da preparação da pré-época, as questões administrativas que ditaram a inesperada subida de divisão e o arranque da temporada na Liga 3 e na Prova Rainha.

Entrevista a Paulo Mendes

Ao recordar o arranque da época, Paulo Mendes destacou a incerteza vivida nas primeiras semanas de trabalho, marcada pelas dúvidas em torno da inscrição do Boavista nas competições profissionais e pela indefinição sobre a divisão em que o Marco 09 iria competir:

  • «Aquando da minha apresentação ainda não havia grandes desenvolvimentos acerca da situação do Boavista. Aliás, nem sequer era equacionado. No meu círculo de amigos até diziam que eu já sabia que o Marco 09 ia subir à Liga 3, mas a verdade é que não sabia mesmo de nada. Nem sequer essa hipótese se colocava naquela altura. E mesmo quando começou a ser falado, ninguém acreditava que fosse possível, tendo em conta a dimensão do Boavista e a própria conjuntura do futebol português. O Boavista é conhecido por ter sete vidas. Com a não aprovação da inscrição do Boavista na Segunda Liga, aí sim começámos a acreditar um bocadinho mais e tivemos de travar o planeamento que estava a ser feito. Recordo-me de que, dois dias antes de começar a pré-época, só tínhamos 13 jogadores. E quando arrancámos a pré-época, ainda não havia definição se íamos para a Liga 3 ou para o Campeonato de Portugal. Com o adiar dos prazos que a federação concedeu ao Boavista, tivemos de acelerar o nosso projeto e arriscar, no sentido de que, fosse no Campeonato de Portugal ou na Liga 3, o caminho seria o mesmo. Depois confirmou-se a presença na Liga 3, mas surgiu outro fator: a alteração dos regulamentos. São semelhantes, mas na inscrição de jogadores são diferentes. Na Liga 3 só podemos inscrever 23 jogadores, mais quatro sub-21, enquanto no Campeonato de Portugal podemos inscrever 25. E a realidade é que dois jogadores fazem diferença em termos de planeamento, sobretudo para quem sobe de divisão por repescagem. Tivemos de enquadrar o nosso plantel com a realidade competitiva e isso criou-nos dificuldades na gestão, porque queríamos trazer mais um ou outro jogador, mas tivemos de jogar com as inscrições. Tudo isto sem nunca abdicar dos jogadores que já estavam connosco, esse foi um princípio desde o início. Tivemos também de ajustar com a questão dos sub-21 e procurar jogadores que pudessem entrar nessa lista e, ao mesmo tempo, serem interessantes para nós. Foi um processo muito complicado de gerir, que terminou há pouco tempo, mas que felizmente conseguimos levar a bom porto. Focámo-nos muito na base do Campeonato de Portugal para preparar esta temporada na Liga 3, porque o nosso projeto era já de subida de divisão. Acreditámos que essa base nos iria dar sustentabilidade. Mas também tivemos a noção, e ficou notório nas primeiras jornadas, da ausência de mais uma ou outra opção que nos tornasse mais competitivos. Com a chegada dessas soluções, o plantel ficou mais forte. E quando digo isto, não é tirar valor a quem estava a jogar, mas sim porque, mesmo nos treinos, o desenvolvimento individual diário de cada um cresce muito mais quando existe competitividade interna».

Mesmo com a responsabilidade acrescida de liderar um clube com passado nas ligas profissionais, o técnico de apenas 33 anos garante que lida bem com a pressão e que a exigência começa sempre por si próprio:

  • «Não sinto uma responsabilidade acrescida. Aliás, sou daquelas pessoas que lida bem com pressão, gosto de exigência porque, antes de exigir aos meus jogadores, cobro-me muito a mim mesmo. Costumo dizer que me cobro dez vezes mais do que cobro aos meus jogadores. A forma como lido com isso é muito simples: sou capaz de assumir, em frente ao meu grupo de trabalho, que errei numa substituição ou no planeamento, sem problema nenhum. Quero também que os meus jogadores façam o mesmo: quando erram, que admitam. Não sinto essa exigência extra, sinto sim responsabilidade. Apesar de se chamar Marco 09, o clube deriva do Futebol Clube do Marco. São dois nomes distintos, mas, em termos de objeto desportivo e representação da cidade, representam o mesmo. O Futebol Clube do Marco já esteve na Segunda Liga e chegou a disputar a subida à Primeira Liga. Esse é um passado que já ficou para trás mas, a ambição das pessoas que atualmente estão envolvidas no clube, administradores da SAD é colocar o clube novamente nessa dimensão e, se possível, ultrapassá-la. Mas tudo tem de ser feito com passos sustentados. O primeiro passo é estabilizar o Marco na Liga 3 e garantir a manutenção».

Na hora de falar sobre o grupo que tem à disposição, Paulo Mendes mostrou a satisfação em poder contar com jogadores mais experientes e jovens à procura do seu espaço:

  • «Nós temos aqui uma mescla de juventude e experiência. Temos vários jogadores com muita experiência, mas também muita juventude, malta entre os 18 e os 24 anos. Esta mescla é entre malta que está com fome de aparecer no futebol, que quer mudar as suas vidas e as das suas famílias, e os jogadores mais experientes, que ainda têm fome de mostrar que estão vivos. Não estão no futebol apenas para receber o ordenado ao final do mês; são jogadores que, apesar de já terem estado noutros palcos, ainda gostam de desfrutar do jogo e de provar que ainda estão vivos. Este foi um pilar que quisemos ter na construção do plantel: jogadores com fome de bola e de triunfar, os que querem aparecer, e a malta que já apareceu, mas que ainda vive dessa fome. Porque há muita gente que entra no mundo do comodismo, em que tanto faz ganhar ou perder, o que importa é receber o salário no final do mês. E na constituição do plantel, quisemos fugir disso».

No que toca ao registo ofensivo (três golos em seis jogos), o treinador do Marco 09 referiu que os números não refletem aquilo que a equipa tem produzido em campo:

  • «Eu até muitas vezes digo, em tom de brincadeira, que estou em modo Trapattoni. Quem olha para o Marco e vê 1-0, 0-0, 1-0, 0-0, pensa que está ali uma equipa extremamente defensiva, que aproveita uma bola parada ou uma transição e não quer sofrer. É completamente o oposto. Quem vê os jogos vê uma equipa super ofensiva, muito pressionante e competitiva, que cria muitas oportunidades de golo. Infelizmente, a bola não está a entrar por alguns pormenores: gestos técnicos não apropriados, ataque à baliza não eficiente, às vezes falta de sorte ou exibições dos guarda-redes. Por exemplo, no jogo com o Elvas, tivemos duas bolas em cima da linha de golo: uma saiu por cima e outra foi finalizada e bateu no poste. Há diversos fatores que não controlamos, mas os que controlamos, os pormenores técnicos, ataque à baliza, preenchimento dos espaços, é nisso que estamos a trabalhar diariamente, no desenvolvimento individual de cada atleta. No aspeto coletivo, estamos a criar situações de golo, que é a parte mais difícil. Agora é ter paciência. O que não podemos é desperdiçar tantas oportunidades e prolongar esse desperdício por demasiado tempo. À medida que o campeonato avança, as equipas vão ficando mais competitivas, ganhando mais conhecimento e fortalecendo-se tanto individual como coletivamente. Por isso, é fundamental que comecemos a amealhar pontos desde já».

Se a frente de ataque ainda procura uma maior eficácia, a consistência defensiva tem sido o cartão de visita do conjunto de Marco de Canaveses. Para Paulo Mendes, a explicação está no compromisso do grupo:

  • «O segredo é o grupo. Recordo-me da minha primeira intervenção com o grupo, no dia da apresentação, em que dei o exemplo do PSG. O PSG, enquanto tinha Messi, Neymar e Mbappé, ganhava apenas o que era meramente esperado, o Campeonato e a Taça, e nem sempre. Quando se desfêz de todas essas estrelas, passou a vencer de forma incontestável, e exemplo disso foi a final da Champions contra o Inter. E a estrela da equipa, nesse contexto, era o primeiro homem a pressionar, o primeiro a ter um compromisso defensivo super elevado. Esse tem sido o nosso segredo: desde o primeiro minuto, todos estão disponíveis para a pressão. Temos ainda muito a melhorar, porque, apesar de ainda não termos sofrido golos, há momentos em que nem sempre estamos bem organizados, mesmo com essa disponibilidade total dos atletas. Mas o que acabo por transmitir ao grupo é que, se ainda não somos perfeitos e mesmo assim não sofremos golos, quando atingirmos a perfeição será ainda melhor. E quando digo isto refiro-me a detalhes individuais. Muitas vezes digo ao grupo que um ou outro comportamento pode colocar-nos em perigo de sofrer. Felizmente, o grupo aceita isso, as individualidades aceitam e abraçam o desafio. Há um compromisso coletivo, uma capacidade de trabalho, resiliência e superação, os jogadores desdobram-se para cobrir a posição de um colega. Esse tem sido o nosso segredo: desde o ponta-de-lança ao guarda-redes, todos têm mostrado um compromisso enorme. E, quando todos falham, o guarda-redes também tem aparecido para fazer as intervenções. Tem estado num bom momento de forma».

Já a pensar no duelo que se segue diante do SC São João de Ver, o técnico mostrou respeito pelo adversário e alertou para as dificuldades que o Marco terá pela frente:

  • «São fatores que eu não valorizo. O São João de Ver vem de uma boa vitória com números expressivos e, nos últimos dez dias, reforçou o plantel com cinco ou seis reforços e bons reforços. Acredito que esses jogadores já vão ser opção, até porque tiveram algum desempenho no resultado do último jogo. Vai ser um jogo extremamente difícil. O São João de Ver quer dar continuidade a este momento positivo, e não podemos ignorar que vieram de um empate precioso no último minuto em São João da Madeira. Vai ser um jogo de extrema dificuldade para nós, e iremos disputá-lo da melhor forma possível, tendo como objetivo vencer. Temos consciência de que vamos defrontar um adversário moralizado, que quer começar a subir na tabela».
Marco 09
Fonte: Marco 09
Rodrigo Lima
Rodrigo Limahttp://www.bolanarede.pt
Rodrigo é licenciado em Ciências da Comunicação e trabalha atualmente na área do jornalismo desportivo. Apaixonado pelo mundo do desporto, tem no futebol a sua principal área de interesse e análise.

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