Gonçalo Maria concedeu uma entrevista ao Bola na Rede onde abordou a transferência para a Naval 1893, a entrada dos investidores e a época do histórico clube português no Campeonato de Portugal. Atualmente, o clube da Figueira da Foz ocupa a 2.ª posição da Série C da competição, e o defesa de 29 anos abordou os objetivos individuais e coletivos para o restante da temporada.
«MESMO TENDO CLUBES INTERESSADOS EM DIVISÕES SUPERIORES, PREFIRO ESCOLHER BONS PROJETOS»
Bola na Rede: Gonçalo, antes de mais, obrigado por ter aceitado o nosso convite.
Gonçalo Maria: É um prazer estar aqui.
Bola na Rede: Como têm sido os teus primeiros tempos na Naval 1893 esta temporada, onde já levas 12 jogos, um golo e três assistências?
Gonçalo Maria: Tem sido muito bom e até superou as minhas expectativas. Ao longo da minha carreira tenho procurado aceitar sempre bons projetos, e a Naval não foge à regra. É um projeto sólido e foi por isso que vim, mesmo estando no Campeonato de Portugal. Acreditei nas pessoas, acreditei no projeto e, felizmente, tem corrido bem. No início tive de me adaptar a uma cidade nova, a Figueira da Foz, que eu não conhecia, mas tenho gostado bastante e as coisas têm estado a correr bem. Começámos com duas derrotas, mas conseguimos dar a volta por cima. Agora vimos de uma boa sequência de jogos e já estamos em segundo lugar.
Bola na Rede: O que te levou a sair do Belenenses e escolher a Naval 1893 esta temporada?
Gonçalo Maria: Quem tratou da minha transferência foi o Gonçalo Tenreiro, que é o diretor-geral. Não é a primeira nem a segunda vez que faço isto na minha carreira: mesmo tendo clubes interessados em divisões superiores, eu prefiro escolher bons projetos. Na altura estava a jogar na Segunda Liga e saí para o Campeonato de Portugal para ir para o Belenenses, porque era um bom projeto. Depois, com o Belenenses, subo à Segunda Liga e vou para o Vitória FC. Ou seja, tinha novamente a hipótese de ir para clubes da Liga 3, mas optei por ir para um clube do Campeonato de Portugal, o Vitória, que tinha acabado de descer. Agora aconteceu o mesmo: optei pelo clube e não pela divisão. Eu gosto de projetos aliciantes, gosto de jogar em clubes grandes, jogar para ganhar e para subir de divisão. Já consegui algumas subidas e espero continuar neste trajeto, que é o que me dá prazer: bons projetos e vencer, acima de tudo.


Bola na Rede: Desde o seu regresso em 2017, a Naval tem contado com o apoio de investidores para se reerguer desportivamente. Quão importante tem sido este investimento em infraestruturas, formação e equipa sénior para os objetivos do clube?
Gonçalo Maria: Tem sido muito importante. Acho que, sem eles, não seria possível isto estar a acontecer. Tenho apenas alguns meses de experiência com eles, mas parecem ser pessoas sérias, dedicadas ao clube e que gostam da cidade. Hoje em dia, quando ouvimos falar em investidores, às vezes ficamos um bocadinho de pé atrás devido aos péssimos casos que temos tido no nosso futebol, mas até agora tem corrido bem e têm conseguido ajudar a Naval a crescer. Este ano estamos bem, não sei onde vamos parar, mas jogo a jogo temos construído algo bonito. Sem os investidores, era impossível isto estar a acontecer.
«TENHO APENAS ALGUNS MESES DE EXPERIÊNCIA COM OS INVESTIDORES, MAS ELES PARECEM SER PESSOAS SÉRIAS, DEDICADAS AO CLUBE E QUE GOSTAM DA CIDADE»
Bola na Rede: Segundo o presidente da Naval, esta época iria haver um maior investimento na formação. Como olhas para a formação e vês os jovens com potencial para dar o salto para a equipa sénior?
Gonçalo Maria: Tem sido positivo, porque tem havido essa ponte. Os nossos juniores estão muito bem no campeonato e têm vindo regularmente treinar connosco. Temos miúdos de primeiro ano de sénior que vêm da formação da Naval, que no ano passado jogavam nos juniores. Tem havido essa ligação, o que nem sempre acontece quando entram investidores. Muitas vezes, com investidores, essa ligação entre formação e equipa principal perde-se. Acho que temos um plantel equilibrado: jogadores locais, jogadores de outras cidades e jogadores da formação, uma boa mescla. As coisas têm corrido bem, não só para nós, mas também para os juniores, que têm ganho e estão bem classificados.


Bola na Rede: Existe o desejo, por parte da direção, treinadores e jogadores, de levar novamente a Naval aos campeonatos profissionais?
Gonçalo Maria: Claro. Há essa ambição. Nós queremos e sabemos que é difícil. Sabemos que talvez não seja este ano, mas, acima de tudo, queremos estabelecer a Naval nos campeonatos nacionais. É importante as pessoas voltarem a reconhecer a Naval como um clube grande. Se conseguirmos somar subidas de divisão, quanto mais cedo melhor, mas o essencial é a Naval afirmar-se novamente nos campeonatos nacionais e conquistar o respeito perante os adversários. Como disse, as coisas estão a correr bem e estamos em segundo lugar. Se o campeonato acabasse hoje, íamos à fase de subida. Por isso, é continuar jogo a jogo, com calma e de forma séria.
Bola na Rede: Ao longo do teu percurso, tens feito parte de várias equipas históricas do futebol português nos últimos anos… Belenenses, Vitória FC, Estrela da Amadora e agora a Naval. Como é que avalias todas estas passagens por clubes que, um dia, tiveram uma importância histórica no nosso futebol nacional?
Gonçalo Maria: Para mim, é um motivo de orgulho. Quando acabar a minha carreira, poder olhar para trás e dizer que passei por esses grandes clubes do futebol português. Apesar de alguns não estarem no contexto que merecem, neste caso, o Estrela da Amadora já voltou à Primeira Liga, felizmente, são clubes que merecem estar mais acima. A minha intenção é contribuir para que voltem aos campeonatos onde merecem estar. Como disse há pouco, são projetos que me dão prazer e gosto em estar, independentemente das divisões. Estava na Segunda Liga e fui jogar duas divisões abaixo para o Belenenses porque era o Belenenses. Tinha hipóteses de ficar na Liga 3, mas quis ir para o Campeonato de Portugal representar o Vitória FC porque era o Vitória FC, para mim, era impensável recusar o convite. Agora aconteceu o mesmo: podia ter ficado na Liga 3, mas quando surgiu a hipótese da Naval, olhei logo com bons olhos a possibilidade de vir ajudar o clube. E acho que tomei uma boa decisão.




Bola na Rede: Quais são, na tua opinião, as principais diferenças entre a Liga 3 da época passada e o Campeonato de Portugal desta temporada?
Gonçalo Maria: Acho que a qualidade técnica do jogador português está lá, seja no Campeonato de Portugal, na Liga 3 ou na Segunda Liga. Muitas vezes, o que faz a diferença é a mentalidade, a vontade de ganhar e de treinar. Isso é o que separa, talvez, um jogador de Segunda Liga, de Liga 3 ou de Campeonato de Portugal. No caso da Naval, posso dizer que essa mentalidade está a mudar. Nota-se uma diferença gigante entre o início da época e aquilo que é agora. Hoje, qualquer jogador que vem treinar connosco sente dificuldade, porque é um treino difícil, intenso e no qual todos querem ganhar. Esta mentalidade foi sendo incutida ao longo dos meses e acho que estamos no caminho certo e tem de ser assim. Nas experiências que tive de subida de divisão, por exemplo, o melhor indicador era ter plantéis onde todos queriam ganhar no treino. Não havia “onze titular” garantido, porque estava sempre um suplente a morder os calcanhares ao titular. Ninguém adormecia. Só falando do treino, isso depois fazia com que os resultados aparecessem ao fim de semana. E, até agora, tem corrido bem.
«NÃO TEMOS O OBJETIVO DECLARADO DE SUBIR DE DIVISÃO, MAS DE ESTABELECER A NAVAL NOS CAMPEONATOS NACIONAIS»
Bola na Rede: Há o objetivo declarado da subida de divisão entre os objetivos definidos para a temporada?
Gonçalo Maria: Não. O objetivo não é declarado como sendo a subida de divisão. O objetivo é a Naval estabelecer-se nos campeonatos nacionais, claro, tentando sempre fazer a melhor classificação possível. Se conseguirmos subir este ano, seria um sonho para todos, mas não é um objetivo assumido. É evidente que todos querem subir, mas o foco está na manutenção, para que a Naval possa começar a afirmar-se nos campeonatos nacionais. Sabemos que temos uma boa equipa, com bons jogadores que já estiveram num nível acima, e que podemos surpreender. Mas acho que ainda é cedo para falarmos disso. Inevitavelmente, estamos a terminar a primeira volta e estamos entre os dois primeiros classificados. Começa a surgir essa conversa sobre a subida, é natural, faz parte, e eu acho que também é bom sonhar com isso. Mas temos os pés bem assentes no chão e sabemos que será muito complicado.
Bola na Rede: Quais são as tuas perspetivas individuais e para o restante da temporada?
Gonçalo Maria: Individualmente, quero fazer todos os jogos, se possível, e terminar com bons números. Até agora, com um golo e três assistências, tem corrido bem, e quero aumentar essas estatísticas. Mas, claro, se pudesse trocar esses números individuais por uma subida de divisão, assinava já por baixo. Coletivamente, é jogo a jogo, continuar a conquistar pontos, e acredito que a parte individual vai surgindo naturalmente.


Bola na Rede: No passado domingo, conquistaram uma vitória importante diante do Lajense, nos Açores. Esse triunfo foi muito importante para as vossas aspirações?
Gonçalo Maria: Foi uma vitória muito importante, num campo muito difícil, numa viagem difícil, nunca é fácil jogar nos Açores e este jogo não foi exceção. Foi um jogo de muita luta, mas felizmente a vitória sorriu para nós e continuamos a nossa caminhada, jogo a jogo. Mas esse capítulo já está fechado: agora olhamos para o Marialvas, que é o nosso próximo adversário.
Bola na Rede: No próximo jogo recebem o Marialvas, que ocupa a 8.ª posição e perdeu o último jogo diante do Mortágua. O que é que esperas do jogo?
Gonçalo Maria: Tal como com o Lajense, sabemos que não vai ser um jogo fácil. Não há jogos fáceis nesta divisão e os resultados têm provado isso mesmo, onde o primeiro classificado perde pontos com equipas mais abaixo na tabela. Tem sido um campeonato de muita luta entre todos. O Marialvas também está a lutar pela vida e quer somar pontos, por isso sabemos que não vamos ter uma tarefa fácil em nossa casa. Queremos muito continuar a boa sequência de jogos que temos tido e acredito que seja possível conquistarmos a vitória. Estamos confiantes, com os pés assentes no chão, mas queremos muito ganhar.
Bola na Rede: Obrigado pela entrevista.
Gonçalo Maria: Foi um prazer.

