Armando Sá é treinador-adjunto do Pacific FC (Liga do Canadá) há vários anos e ambiciona ser treinador principal. Esta é uma pequena conversa sobre a experiência no Canadá, futuro, identidade de jogo, Benfica (por onde passou como jogador) e o Mundial 2026.
«Sou um treinador versátil, não fico preso a uma única estratégia»
Bola na Rede: Antes de mais, obrigado por ter aceitado o nosso convite e por este tempo. É treinador-adjunto do Pacific FC, clube da Primeira Liga do Canadá. Como tem sido a experiência?
Armando Sá: Obrigado, é um prazer. Tem sido uma experiência muito boa. É uma liga que está a crescer e a seguir os mesmos passos da MLS. Já tem acesso à Liga dos Campeões da CONCACAF, o que é interessante. Conseguimos defrontar equipas da MLS e do México, equipas fortes. É um trabalho de que tenho gostado bastante e as coisas têm corrido bem e estou feliz por crescer dia a dia como treinador.
Bola na Rede: Que diferenças sente entre a Liga do Canadá e a de Portugal?
Armando Sá: Ainda há muita diferença. A Liga do Canadá tem momentos que são ao nível da Segunda Liga e outros que são de Liga 3. Depende dos jogos. Ainda falta para chegar a um nível mais alto, é uma liga que tem sete anos. O futebol em si também é um futebol muito corrido, com muitas transições, à base da força e jogo direto. Comparado com a Europa, que é mais tático, mais tecnicista, a Liga do Canadá tem um estilo mais direto, agressivo e atlético.
Bola na Rede: Tem como objetivo ser treinador principal?
Armando Sá: Sim. O objetivo é esse: um dia tomar conta de um projeto e implementar as minhas ideias. Criar a minha própria filosofia de jogo. Claro que é tudo um processo. Sinto que já estou preparado para isso, agora a questão é de aparecer oportunidades certas.
Bola na Rede: Como define a sua identidade de jogo?
Armando Sá: Para mim, a equipa está em primeiro lugar. Sou um treinador que gosta de pressionar alto, de marcação homem a homem, de ter capacidade para construir e criar dinâmicas. Sou fã do Roberto De Zerbi, tem equipas que gostam de ter bola e de mandar no jogo. Valorizo a pressão alta e a capacidade de recuperar a bola o mais rápido possível para apanhar as equipas desorganizadas. Claro que também depende dos jogadores que possamos ter, tudo se adapta. Se tiver jogadores de muita transição, acho que tenho aproveitar isso. Sou um treinador versátil, não fico preso a uma única estratégia. Gosto de perceber o jogo e que os meus jogadores também entendam e consigam ler o jogo. Conseguimos adaptar-nos a várias situações do jogo. Jogo o que o jogo me pede. Gosto também muito da organização tática sem bola e da criação de espaços para conseguir finalizar.
Bola na Rede: Quais são as suas referências nacionais?
Armando Sá: O mister Mourinho é uma das referências que todos temos como treinador, é um exemplo para todos. Abriu portas para todos os treinadores. Gosto também do mister Jorge Jesus, que em termos táticos, é um treinador muito bom e uma pessoa que admiro bastante. E agora também gosto do Ruben Amorim, é um treinador muito simples na sua abordagem ao jogo. As equipas sabem o que querem, com objetivos muito claros de jogo.
«Benfica campeão? Acredito. Tudo está em aberto»


Bola na Rede: Já falou em José Mourinho e queria saber a sua opinião, tendo em conta que, como jogador, passou pelo Benfica.
Armando Sá: Das vezes que joguei contra José Mourinho, sempre foi um treinador com as equipas muito unidas, coesas, que lutam por cada bola. Ele trabalha muito a parte mental do jogador. Penso que o forte dele é trazer os jogadores para si, juntá-los, criar a vontade, faz um grupo muito unido. Une as tropas e lutam por um objetivo claro. Lembro-me do jogo quando ganhou com o Inter Milão ao Barcelona, não tinha o mesmo nível, mas juntou aquele grupo. Até me lembro do Eto’o a jogar na lateral. Ele consegue juntar os jogadores e tem uma causa.
Bola na Rede: Acredita que o Benfica pode ser campeão?
Armando Sá: Acredito. Tudo está em aberto. Nestes últimos jogos do Benfica, nota-se outro Benfica. Essa união de grupo que disse. Vê-se mais uma equipa dentro de campo, a trabalhar por cada resultado, a tentar a todo o custo atingir o objetivo. Morderam a ideia de Mourinho, vão para o campo, arregaçam as mangas e toca a trabalhar. O Benfica está num momento bom, muito confiante.
Bola na Rede: E como olha para o plantel do Benfica?
Armando Sá: Acredito que o Benfica tem de ter reforços, mas também tenho uma ideia própria. O José Mourinho ganhou agora um grupo e este estilo de jogo está a dar-lhe resultados. É um meio-campo muito trabalhador, não tem os extremos que muita gente fala. Tem a subida mais dos laterais. Tem um meio campo muito batalhador. Jogadores que trabalham na frente que fazem pressão na saída de bola dos adversários com o apoio deste meio-campo. Se o Benfica vai reforçar, tem de reforçar na mesma ideia que está a ter de jogo. É o estilo de jogo que José Mourinho tem neste momento e está a dar resultados. Se vão buscar extremos e depois muda-se para um sistema de 4-3-3 com os extremos muito abertos, se calhar o Benfica perde consistência no meio. O que está a dar sucesso agora ao Benfica é a consistência no meio. Tem de se pensar muito bem. O mister Mourinho e o staff claro que sabem quais são os planos.


«Portugal é e sempre será um dos candidatos a ganhar o mundial»
Bola na Rede: No próximo ano, o Mundial 2026 vai ser organizado no Canadá, Estados Unidos e México. Como está a ser o impacto no país?
Armando Sá: A partir de agora, o impacto começa a ser maior. O Mundial está à porta. Depois do sorteio, penso que as pessoas começam a ter mais entusiasmo, começa a haver mais procura para os jogos. Está a ser um impacto positivo. Vai ser um Mundial com muitas surpresas. O Canadá é uma seleção que pode surpreender, tem uma seleção muito boa, jogadores que jogam em grandes clubes. Tem um treinador [Jesse Marsch] que vem do Leeds United, é muito experiente, trouxe uma ideia clara para o estilo de jogo. E se calhar vai haver outras a surpreender.
Bola na Rede: Como olha para o grupo de Portugal?
Armando Sá: Portugal tem um grupo acessível. Nesta fase, também passam três equipas de cada grupo, então não há muitas dificuldades. Há sim nos próximos confrontos. Podem cruzar-se equipas muito poderosas.
Bola na Rede: Acredita que Portugal pode ganhar o Mundial?
Armando Sá: Portugal é e sempre será um dos candidatos a ganhar o Mundial, devido à qualidade de jogadores. Tudo o que move. Acredito que é uma das candidatas. Tudo depende também da sorte, quem se pode encontrar pela frente. Tem possibilidade de ganhar, sim.



