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«Trabalhamos a médio-longo prazo para um dia lutar por títulos» – Entrevista Bola na Rede a Francisco Neto

Francisco Neto é selecionador feminino há uma década e o rosto mais visível do crescimento de uma seleção que tornou as qualificações para as fases finais uma mera nota de rodapé. Depois de um Europeu na Suíça cuja ambição não foi traduzida em resultados e antes de um ciclo exigente com vista à presença na fase final do Mundial 2027, o selecionador nacional falou com o Bola na Rede sobre o futebol jogado por elas, dos desafios da seleção ao futuro que se quer mais brilhante. A entrevista foi realizada à margem do Portugal Football Summit.

«Como são os treinadores quem mais aparece nas televisões e dá a cara, temos outra responsabilidade e a nossa voz tem outro tipo de impacto».

Francisco Neto
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Bola na Rede: Francisco Neto, qual a importância do futebol feminino português marcar presença em eventos desta dimensão?

Francisco Neto: Acho que o mais importante é a organização do evento. Um evento que toca em todas as modalidades e nos stakeholders do futebol, futsal e futebol de praia é importantíssimo. Como é lógico, num evento desta dimensão organizado pela nossa direção, pela nossa Federação, seria impossível não estar o futebol feminino envolvido. A partilha das boas práticas que se estão a fazer no mundo é muito importante na reflexão daquilo que é o futebol para os próximos anos. É um momento muito importante e que marca algo histórico em Portugal.

Bola na Rede: Quão importante é ser a Federação Portuguesa de Futebol a estar envolvida em iniciativas de maior abertura e contacto com o público?

Francisco Neto: Acima de tudo é uma “obrigação” nossa, entre aspas. Não é bem uma obrigação, mas uma responsabilidade nossa. Essa é a palavra correta. É uma responsabilidade nossa ter momentos de reflexão do futebol em Portugal e do futebol mundial. Sem dúvida nenhuma que a direção da Federação organizou este evento a pensar nisso. É uma responsabilidade e os momentos de reflexão fazem parte do desenvolvimento de uma modalidade no país.

Bola na Rede: Na sua presença surge o maior rosto da evolução do futebol feminino em Portugal?

Francisco Neto: Não. Sou uma peça na engrenagem, nada mais do que isso. Não tenho pretensões a ser mais do que isso. Falou-se muito sobre os recursos humanos, gestão de recursos humanos e o lado menos visível de uma equipa ou organização. Esses muitas vezes são mais importantes que as caras visíveis. Também sabemos que, como são os treinadores quem mais aparece nas televisões e dá a cara, temos outra responsabilidade e a nossa voz tem outro tipo de impacto. No final do dia, se não trabalharmos todos para o mesmo e sentirmos que a nossa missão é importante, não fazemos desenvolver nenhuma das modalidades.

Bola na Rede: É nos recursos humanos e financeiros que o futebol feminino mais tem crescido? Depois de equipas técnicas pequenas e processos pouco individualizados, sente nesta dimensão o crescimento?

Francisco Neto: É uma das dimensões, sem dúvida nenhuma. O profissionalismo tem surgido, com aumento do número de jogadoras, do número de clubes e de staff técnico e de apoio. Todo esse desenvolvimento é importantíssimo. Esse crescimento tem-se notado não só em Portugal, mas no mundo inteiro. É algo que vai continuar. Estamos cada vez com estruturas maiores e mais profissionalizadas para dar resposta ao nosso jogo e boas condições para que as jogadoras consigam ter o seu desenvolvimento e o nosso produto seja apreciado por quem vê. Acima de tudo, para que os adeptos se identifiquem com o que vão ver aos estádios.

«A nossa frustração ao vir embora é sinal de que temos uma ambição muito grande de poder fazer coisas diferentes».

Francisco Neto
Inglaterra aplica goleada a Portugal
Fonte: Edmilson Monteiro / Bola na Rede

Bola na Rede: Já passaram uns meses do Europeu, cuja presença foi mais um ponto alto do futebol feminino em Portugal. Que reflexões é que se faz de uma presença, com um lado positivo, mas com um sabor agridoce pela ambição que não se traduziu necessariamente em resultados?

Francisco Neto: Para estar ao mais alto nível é ótimo estar presente. Ainda agora estivemos no Congresso de Análise Final do Campeonato da Europa e houve indicadores de coisas boas que fizemos. Também há indicadores de coisas não tão boas. Estudámos muito e isto é um trajeto que estamos a fazer. Percebemos que, se queremos continuar, chegar e um dia lutar por títulos, e é por isso que trabalhamos a médio-longo prazo, temos de crescer e marcar presença habitual nas fases finais. Aí, temos de continuar a crescer e ser melhores em alguns momentos de jogo e em todas as suas fases. No lado técnico e tático temos nitidamente de ser melhores, no lado físico também temos de continuar o crescimento porque a exigência está alta. Como disseste e bem, a nossa presença e frustração ao vir embora é sinal de que acreditamos que em tão pouco tempo crescemos tanto, mas temos uma ambição muito grande de poder fazer coisas diferentes. É o que temos de continuar a fazer.

Bola na Rede: Nos próximos encontros particulares, Portugal vai defrontar os EUA, os Países Baixos e o Brasil. É sinal que se quer passar a esse patamar de forma definitiva?

Francisco Neto: Quem acompanhou, e o Bola na Rede é sinónimo disso, tem acompanhado muito de perto o futebol feminino, percebeu que o nosso crescimento nos últimos 10 anos foi nessa dimensão. Nitidamente, ao jogar com os melhores tornamo-nos melhores. Com a alteração dos calendários competitivos, a oportunidade de realizar jogos particulares reduziu drasticamente nos últimos dois anos. Tínhamos estas duas janelas e não havia outra solução senão jogar com os melhores possíveis. As condições são sempre difíceis. Jogar nos EUA em tão pouco tempo, com uma viagem apertada e pouco tempo de recuperação, é um desafio a que temos de expor as nossas jogadoras. Se queremos voltar a um Campeonato do Mundo, que é a nossa próxima missão, temos de jogar contra as melhores para as preparar. Foi assim que conseguimos lá chegar e para nós é uma fórmula de sucesso que queremos voltar a repetir. São quatro jogos de uma exigência brutal para fazer crescer as nossas jogadoras.

«O melhor momento no clube não significa que, em espaço de seleção, o rendimento consiga ser equivalente».

Francisco Neto
Francisco Neto
Fonte: Ana Beles / Bola na Rede

Bola na Rede: Numa altura de convocatórias, cada português é um selecionador. Numa reflexão mais geral, entre um grupo mais fechado com uma aposta na continuidade, e um que privilegie o momento das jogadoras no clube, quais os benefícios de cada uma das dimensões?

Francisco Neto: É difícil fazer essa análise porque as coisas não são estanques. Não ficas só com um grupo ou só com os melhores momentos. As pessoas têm de perceber que o melhor momento no clube não significa que, em espaço de seleção, o rendimento consiga ser equivalente. A nossa visão, e o que temos feito, é tentar aproveitar o melhor momento dos clubes para trazer novos nomes ao espaço de seleção, ou seja, as convocatórias terem espaço aberto para as jogadoras poderem vir. Depois é preciso perceber, em espaço de seleção, que há o grupo que te dá estabilidade pela ideia de jogo e pela continuidade de estar há muito tempo a trabalhar com elas. Há muito pouco tempo de trabalho e tens de ter sempre um grupo que te dê alguma sustentabilidade, mas também de aproveitar o que de bom têm feito no clube e perceber qual é a resposta que dão dentro do espaço de seleção. É o que temos vindo a fazer: chamar jogadoras, trazê-las a nós e perceber dentro do rendimento dos clubes, o que podem render em espaço de seleção e dentro das que nos dão a estabilidade, de que forma é que as mais novas podem render. Temos inúmeros casos de jogadoras que têm conseguido agarrar as possibilidades e manter-se connosco.

Bola na Rede: Numa convocatória cada vez mais difícil. O Benfica está na Champions League, o Sporting e o Braga na Europa Cup e o Torreense venceu os dois últimos títulos nacionais. Como vê o crescimento sustentado dos clubes no futebol feminino e quais os desafios que traz ao selecionador nacional?

Francisco Neto: É ótimo ver isso, ver o trajeto das sub-19, as jogadoras sub-20 a entrar nos plantéis dos clubes. É o processo normal de qualquer seleção e de um projeto que há 10 anos tinha menos jogadoras selecionáveis. Hoje em dia temos mais jogadoras selecionáveis e espero – e acredito – que daqui a 10 anos tenhamos ainda mais jogadoras selecionáveis. É ótima a competitividade interna e a possibilidade de agregar jogadoras novas ao espaço de seleção. Temos também o espaço sub-23 onde conseguimos fazer crescer jogadoras na dimensão internacional. Estamos contentes com isso, mas precisamos sempre de mais e queremos mais.

Bola na Rede: Já há objetivos para o Mundial em 2027?

Francisco Neto: Sabemos que a qualificação para um Campeonato do Mundo é muito difícil. Assim foi para o último [2023]. Há muito poucas vagas da UEFA para lá estar e será um desafio muito grande. O modelo de qualificação também alterou e será um desafio muito grande para todas as seleções da UEFA. Temos de estar preparados para isso. Acima de tudo, temos de preparar os jogos particulares e a partir de fevereiro jogar a qualificação na Liga das Nações para chegar à fase final dos playoffs em boa posição.

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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