Se olharmos aos números, Marrocos teve um número assinalável de remates nas três partidas do grupo B, mas apenas uma percentagem reduzida foi enquadrada com a baliza. No estilo, foi fácil de reconhecer, e se pegarmos no caso do jogo com Portugal, a qualidade de jogo ofensiva da equipa do norte de África.
Fernando Santos não escondeu no final desse encontro alguma irritação pela seleção das quinas não conseguir ter bola. Aí entra o mérito marroquino. O pressing no último terço atacante foi imagem de marca e, com bola, a qualidade e intensidade com que agredia rumo aos espaços, sobretudo nos flancos, era um problema para qualquer defesa.
Nordi Amrabat, Ziyach e Harit foram provavelmente os jogadores que mais se destacaram neste modelo de Hervé Renard que se mostrou ao mundo com um espírito de luta abnegado. O problema foi a finalização e ser letal dentro da área. Renard recorreu a três pontas-de-lança: El Kaabi (titular na estreia com o Irão), Boutaib (titular nos outros dois encontros) e En-Nesyri (entrou na segunda parte contra a Espanha).

Fonte: Fédération Royale Marocaine de Football
Os marroquinos só marcaram no último jogo, e logo dois golos, mas aí, contra ‘La Roja’, o jogo já foi diferente. Quem teve mais bola (como facilmente se previa) foi a Espanha e aí os ‘leões-do-atlas’ tiveram de lutar contra a própria identidade, daí os seis amarelos que registaram ao contrário dos jogos com Portugal e Irão onde apenas viram um amarelo em cada. Na despedida, também sobressaiu, aliado à eficácia, outro dado: o poderio nas bolas paradas ofensivas.
O elo mais fraco no que diz respeito a uma linguagem setorial terá sido a defesa e também um específico momento do jogo: a transição defensiva. Benatia não tem um colega no eixo defensivo do seu nível e isso nota-se. No primeiro jogo foi Saiss, no segundo foi Manuel da Costa. No terceiro, o central da Juventus foi poupado por Hervé Renard. Quer um quer o outro não convencem.
Por outro lado, como Marrocos gosta de jogar subido, foram visíveis as dificuldades em suster os adversários quando ativavam o contra-ataque. Os laterais projetavam-se muito e ia valendo um meio-campo sólido (El Ahmadi, Boussoufa e Belhanda) que foi assegurando equilíbrio, mas faltou articulação com o coração do ataque…
Agora só em setembro volta a competir. Dia 6, com o Malawi, para a qualificação da CAN 2019. Gostava de ver Renard continuar em Marrocos e sustentar ainda mais este projeto magrebino. No próximo mundial, voltariam e creio que voltarão a ser candidatos a surpreender. É uma pena deixar de ver esta seleção jogar. Os 90 minutos passam rápido!…
Foto de Capa: Fédération Royale Marocaine de Football
Artigo revisto por: Jorge Neves