Não quero com isto dizer que o Brasileirão é fraco: desenganem-se. É talvez o campeonato mais competitivo do mundo, porquanto a rotação de campeões assim o consente. Tem grandes jogadores. Tem bons estádios e espetaculares torcidas, que fazem do futebol uma festa maravilhosa (quando não são levadas ao extremo, como às vezes, de modo infeliz, acontece!). Mas os seus jogadores não estão em campo com um objetivo tático. Estão para dar show, para dar cuecas e reviengas. Às vezes fazer uns golos… enquanto no Brasil for mais importante dar um lençol ao adversário dentro da área, do que manter o equilíbrio tático da equipa, a canarinha nunca mais vai voltar a ser campeã do mundo.
Paulo Bento terá a difícil missão de vingar num clube que em 2013 e 2014 foi campeão brasileiro. A torcida celeste é muito exigente e ainda por cima o rival Atlético Mineiro está bem melhor que este Cruzeiro. Quer em termos organizativos, quer em soluções no plantel. A falta de paciência no Brasil para com os treinadores (mais uma herança lusitana) será um obstáculo a Bento, que precisará de tempo para mudar mentalidades.
Por exemplo, todos ficaram surpreendidos com o treino que o Cruzeiro realizou no dia do próprio jogo com o Figueirense. 2-2 foi o resultado final, mas a Raposa perdia por 2-0 já na segunda parte. Treinar no dia de jogo foi algo que nunca se fez em Terras de Vera Cruz. É sabido que treinar em dias de partida até é bom para a recuperação física dos jogadores. Outra questão é a de que Paulo Bento fecha os treinos à imprensa depois dos quinze minutos. Algo que lhe valeu muitas perguntas na conferência de imprensa. Para além destas novas técnicas, Bento irá, com certeza, introduzir outras. Como a equipa reagirá a isso é um mistério. Veremos o que acontece a partir daqui.
Ficaremos todos muito curiosos para ver o desempenho do treinador português ao leme de um dos maiores clubes do Brasil. Eu, particularmente, não achando que Paulo Bento seja um treinador de topo, se fizer que as mentalidades mudem em Belo Horizonte e espalhando-se de Minas Gerais para o resto do Brasil, ficarei contente. Mas com tranquilidade – por sinal, uma frase que voltará a estar em voga, agora do outro lado do Atlântico. Porque esse “orgulhosamente sós” do Brasil já não faz sentido. O orgulho bacoco tem de mudar. O Brasil já não tem o melhor futebol. Mas com uma pequena ajuda de fora poderá voltar a tê-lo. Tem matéria mais que suficiente para isso. Basta querer.
Foto de capa: Cruzeiro EC