«A minha aventura como treinador começou no primeiro treino a mandar um jogador para o banho»: Abel Ferreira

Orgulho. Foi das primeiras palavras e das mais repetidas por Abel Ferreira no encontro com a imprensa. Orgulho de ser português. Passados 53 dias da conquista da “Glória Eterna” por parte de Abel e da sua equipa técnica, o treinador juntou a paixão do futebol e dos carros antigos para se dirigir aos jornalistas, onde admitiu já sentir algumas “saudades” destes momentos de perguntas. A par da conquista da Copa do Brasil, o dirigente luso venceu a Taça dos Libertadores, que voltou assim para a SE Palmeiras 21 anos depois. Na hora de relembrar os dois trofeus e a condecoração do Presidente da República, Abel Ferreira não fez esquecer quem o acompanhou e afirmou: “não sei se sou merecedor de receber esta medalha sozinho, são muitas as pessoas que contribuíram para que estes feitos fossem conseguidos”.

Abel Ferreira é um treinador que confia no processo, como muitas vezes faz alusão, seja em momentos de vitória ou de derrota. E é com base no método, na disciplina, na exigência, no trabalho, na determinação e na consistência com que se trabalha, que o timoneiro do SE Palmeiras acredita que reside “a diferença entre um campeão e um não campeão”. O treinador luso tem-se revelado muito versátil nas formas de jogar, entende bem os sinais e os momentos de jogo a partir do banco, mas reconhece que a aleatoriedade do futebol acaba por vezes por ultrapassar o controlo que os treinadores tentam ter a partir do banco.

Apesar de “gostar de ensinar o jogo”, Abel Ferreira reconhece que os treinadores estão “sempre nas mãos dos jogadores. Fazemos um estudo exaustivo do adversário, somos metódicos no treino, e depois estás no último segundo da Libertadores quando o teu extremo esquerdo se lembra de vir para o lado direito, e o extremo direito se lembra de ir para a área, e há um cruzamento e há um golo que decide a libertadores”.

A aventura nos bancos não começou fácil, já que no primeiro treino como treinador, Abel Ferreira teve que “mandar um jogador ao banho, o Gael Etock”. Alguns anos depois, no currículo, em equipas principais, já consta o SC Braga, o PAOK e agora a passagem pelo Brasil. O dirigente luso assume-se como treinador de projeto, e não vê outros caminhos tão cedo: “gosto de estar onde me sinto bem, feliz e realizado. Neste momento estou no Palmeiras, tenho contracto, é lá que eles me querem”.

A psicologia é uma área que se nota que Abel Ferreira nutre uma paixão. É um treinador competitivo e, confrontando com algumas dificuldades, por exemplo, de calendário, o jovem treinador encara sempre como desafios. “Eu tive três microciclos, jogo, descanso, jogo, descanso, jogo. Tens duas maneiras de olhar para isto, queixar-te da falta de isto e isto ou encaras isto como desafio. Eu como vim de uma equipa B, onde tive que perceber que hoje treino com 20, amanhã com mais três, depois com 18. Se olhares para isto como um desafio, vais tornar-te muito melhor treinador.”

É também a partir da psicologia que o treinador português tenta estar mais próximo da vitória. “Quando tu chegas a um nível de excelência de recursos humanos, de trabalho, condições de trabalho, estrutura do clube, há algo que faz a diferença que é o que está no meio das nossas orelhas. O nosso limite é que o que está dentro da nossa caixinha bem pequena, é algo que me fascina.”

É a entrar de certa forma na mente dos jogadores que Abel Ferreira conta como “brinca”, às vezes, ao trocar as posições dos jogadores durante os treinos. O dirigente acha que se “os jogadores experimentarem jogar do lado contrário faz sentir a mesma sensação que o outro jogador sente quando estão em funções invertidas. Quando no treino meto um defesa no lugar do medio passa a perceber o cuidado que tem que ter quando passa para o medio.”

A capacidade que o Abel Ferreira tem de gerir o plantel, equilibrar a equipa com jogadores jovens e mais experientes é admirável. E esta capacidade foi também uma solução encontrada no SE Palmeiras e foi, inclusive, falada no encontro com a imprensa. O treinador admitiu que gosta de lançar jovens jogadores, “mas é preciso os jogadores de suporte para fazer crescer os outros.” A passar um bom momento do outro lado do Atlântico, o timoneiro vencedor da última edição da Taça dos Libertadores sabe que haverá um momento em que passará por uma fase menos positiva, mas que faz parte da caminhada.

Bola na Rede: Recentemente abordou a impaciência que os jogadores brasileiros têm para chegar ao último terço do terreno. Falou até de um quadrado que pediu ao Gabriel para imaginar no treino. Como é que foi o desafio de disciplinar taticamente a equipa quando chegou ao Palmeiras? 

Abel Ferreira: É tu teres um diamante em bruto na frente, veres que tem qualidade, e que se o lapidares eles percebem que juntos podemos chegar mais longe que sozinhos. Porque eles sozinhos são realmente muito bons, têm muita qualidade, mas quando estamos todos podemos ir muito mais além. Tu para ensinares o jogo precisas de tempo, e quando não tens tempo, tens que adaptar um bocadinho ao que tens a tua frente. Eu falei no Gabriel Menino, falei do Veron… o jogador brasileiro gosta de correr para cima da bola e tu aqui dizes espera que a bola chegue. “Espero que a bola chegue? Mas eu consigo jogar bem sem tocar na bola?” Consegues, consegues atrair, consegues enganar sem tocar na bola, ainda para mais em equipas que fazem marcação individual. Se começares a correr para a direita e a bola para a esquerda consegues abrir espaço. Portanto, aos pouquinhos, como quem ensina a ler e a andar. Eu não comecei a correr, comecei a gatinhar, depois andar e depois a correr. O processo está mais ou menos aqui a meio. Uma parte eu abdiquei para ir ao encontro deles, e uma parte eles abdicaram para ir ao meu encontro. Apanhei uma equipa com mente e coração aberto para aceitar as ideias do treinador. E o treinador tem que ter a mente e o coração aberto para abdicar de alguns princípios com o objetivo de tirar o máximo de tirar do rendimento dos jogadores que tem para estar mais próximo dos títulos.

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