Encaixes individuais e agressivos na pressão não são uma história de felicidade em Alvalade. Os jogos contra a Atalanta estão no imaginário recente, o duelo diante do Bolonha na última temporada não trouxe facilidades e, mesmo na vitória contra o Marselha, a primeira parte foi um terreno de dificuldades para o Sporting conseguir ligar o jogo.
Teoricamente, o Club Brugge apresentava desafios semelhantes. Todos os jogadores do Sporting, de Ousmane Diomande e Gonçalo Inácio a Luis Suárez, lá na frente, tinham sempre um jogador pela frente. Alvalade, campo de batalhas e de microduelos, foi, de facto, o Reino do Leão. E, para lá de um Club Brugge menos capacitado que os anteriores rivais a defender a todo o campo com igual eficácia, há muitos méritos no que diz respeito à estratégia do Sporting.
Desde logo, defensivamente foi uma exibição sólida dos leões, não permitindo ao Club Brugge grandes situações para criar oportunidades ou crescer animicamente. Na última linha, acumularam-se exibições importantes. Quer Iván Fresneda, diante do mais cerebral e direcionado à baliza Christos Tzolis, quer Maxi Araújo, perante o agitador que Carlos Forbs é, fizeram exibições competentes. Sempre que os belgas procuraram esticar o jogo ou sair de forma mais direta, Ousmande Diomande evidenciou-se e somou vários cortes importantes. Nunca houve grande espaço – mesmo num bloco mais baixo do que os leões queriam, confidenciou Rui Borges no final do jogo – para o Club Brugge lampejar o sucesso e essa segurança permitiu ao Sporting, com bola, ludibriar os encaixes belgas.


O Club Brugge do 4-1-4-1 tornava-se um Club Brugge sem um desenho fixo no momento da pressão. Cada jogador encaminhava-se para o seu marcador direto em deslocações menos curtas, como Lucas Ordóñez em Luis Suárez, ou mais longas como a que Raphael Onyedika fez a Geovany Quenda na primeira parte ou a Francisco Trincão na segunda, ou a que Carlos Forbs, de fora para dentro, procurava fazer para impedir Gonçalo Inácio de jogar de livre vontade. A batalha de xadrez estava dada, mas houve peças em evidência no Sporting e um plano coletivo bem montado.
Foram várias as vezes que, de forma coletiva, o Sporting atraiu o Club Brugge à esquerda para, rapidamente, fazer a bola chegar a Geny Catamo e ao lado direito. Também aqui Iván Fresneda, escapando a Tzolis e galgando metros foi fundamental. Na esquerda, com João Simões a procurar arrastar Vanaken ou Stankovic e Maxi Araújo mais baixo, o Sporting convidava o Club Brugge a pressionar para abrir buracos. Foi desta forma que surgiram, na primeira parte, os dois golos dos belgas.
Porque o plano coletivo de nada valeria se não sobressaíssem as individualidades, há um destaque justo que é preciso dar a Gonçalo Inácio. A nível de qualidade de passe, encheu o campo, quer em variações de corredor, quer descobrindo alguém entrelinhas. Se sem bola tem vindo a crescer, para ganhar mais contundência nos duelos, com bola continua a mostrar todos os seus atributos.


Numa segunda fase, era a mobilidade que permitia ao Sporting destacar-se. Vimos Francisco Trincão e Iván Fresneda trocar posicionamentos, Geovany Quenda a mover-se a toda a largura e Geny Catamo frequentemente a procurar terrenos interiores. Quando Luis Suárez chamava Ordóñez – e não era um adversário fácil de bater – a passear em campo, rapidamente um jogador atacava o espaço deixado pelo colombiano. Quando ninguém o fazia, era o próximo avançado que, com o engodo feito, explorava esse espaço.
A partir das trocas posicionais e dos arrastes na pressão, o Sporting conseguiu provocar o caos na defesa do Club Brugge. Com movimentos diferentes, com pedidos em apoio e ruturas constantes, foram inúmeras as oportunidades de golo criadas pelos leões sempre pelo lado mais distante de Onyedika, o médio que mais facilmente poderia impedir que o dominó se concretizasse e que as peças tombassem. Se na época passada o Sporting era dominante a jogar à sueca, esta época especializou-se no dominó.


BnR na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: Já aqui destacou os encaixes agressivos e individuais da pressão do Brugge ao Sporting. Tendo em conta a agressividade a pressão e os espaços que acabaria por deixar, quão importante foi, na primeira fase, atrair o Brugge para um lado para rapidamente soltar para o lado contrário e, num segundo momento, a mobilidade para desmontar a defesa?
Rui Borges: Foi muito importante. Essa mobilidade foi muito importante. Sabíamos que o homem a homem ia dar-nos algum espaço. Mais do que atrair dentro, mas num espaço curto, tínhamos, num segundo passo, de entrar num passe longo porque eles procuravam muitas referências. A mobilidade leva a que, quem anda com referências, quando há contra-movimentos e movimentos de profundidade, chegue atrasado. Há espaço e, principalmente na primeira parte, conseguimos muitas vezes ir buscar esse espaço de profundidade com movimentos que tínhamos identificado e pedido ao Quenda, ao Luis [Suárez], ao Geny [Catamo], e mesmo ao próprio Trincão, ao Maxi [Araújo]. Dentro daquilo que eram as nossas dinâmicas e a nossa ideia de jogo para hoje, a equipa esteve ligada nos comportamentos individuais e fez exatamente aquilo que tínhamos precavido. Só não conseguimos, naquilo que tínhamos perspectivado para o jogo de hoje, ser tão pressionantes e tão altos como gostamos e como queríamos para não deixar entrar o Brugge nesse processo de meter muita gente na construção e dificultar os momentos de pressão. Dificultou-nos, mas aí entrou a maturidade da equipa. Manteve-se num bloco médio, mais curto, bem organizado e esperamos o erro. Conseguimos sair em alguns momentos em transição, com qualidade no processo ofensivo. Foi muito por aí. A mobilidade é importante, o ataque ao espaço é importante principalmente nos jogadores de segunda linha, o Quenda, o Geny e o Trincão, mesmo o [João] Simões. Esses ataques das segundas linhas eram importantes devido ao homem a homem.
Bola na Rede: O Onyedika foi um jogador chave para abordagem defensiva do Brugge, ao descer para a linha defensiva, tendo acompanhado o Quenda na primeira parte e o Trincão na segunda. Qual o propósito desta mudança?
Nicky Hayen: Primeiro de tudo, foi no momento da pressão. Queríamos começar com o Carlos Forbs no defesa central e com o lateral esquerdo a bater no lateral esquerdo. Queríamos ter os médios no espaço e igualdade com os nossos defesas. O cartão amarelo foi obviamente um momento chave. O Quenda é mais rápido que o Rapha [Onyedika] por isso tínhamos de ter cuidado e trocamos o lado da pressão. Na segunda parte montámos diferente para que o Rapha não ficasse tão exposto e com campo aberto para cobrir. Colocámo-lo sobre o Trincão e trocámos os nossos defesas.

