Já passou quase um ano desde o sorteio da Champions League, o primeiro a romper com uma tradição de décadas, com a alteração do formato da liga milionária. Aquele sorteio não foi apenas um evento. Percebeu-se que a UEFA planeou ao pormenor esta transição para um formato muito contestado, especialmente por parte dos adeptos de futebol, que o comparam à infame Superliga.
Vários jogadores num trailer para anunciar a nova era da liga e até Ronaldo a ser homenageado como o melhor marcador da competição, prenunciando a possível superação da marca de 140 golos, até agora imbatível, mas com o aumento de jogos possíveis de 13 para 17 (incluindo o play-off de acesso aos oitavos de final, em que o jogador tem a possibilidade de disputar oito jogos da fase da liga, as duas mãos de um play-off, as respetivas duas mãos dos jogos da fase a eliminar e a final, com toda a liberdade de ultrapassar a marca de 17 golos, um recorde na temporada da Champions League que Raphinha esteve perto de alcançar).

O resultado? Um sucesso inesperado e simultaneamente imperfeito, a meu ver. Muitos não estariam convencidos, devido à alta possibilidade de criar grandes confrontos de forma frequente, que o futebol produzido daqui a três ou seis anos, seria motivo de aborrecimento e de desleixo da UEFA em capitalizar nos bons eventos.
Mas com a nova vaga de equipas que retornam ao auge do futebol europeu, como um Bolonha, um Brest, ou até um Estugarda, por exemplo, criam um interesse nos confrontos, e como estes podem influenciar as primeiras fases a eliminar, especialmente com o elemento do fator surpresa, na competição, nestes últimos anos em eliminatórias como o Real Madrid contra o Ajax, a vitória surpreendente do FC Porto contra a Juventus de Cristiano Ronaldo, ou até mesmo as proezas do Villarreal contra a formação bianconeri, e o Bayern Munique, durante a temporada 2021/2022.

Se olharmos para os contras, é inevitável que haja pelo menos uma partida, com dois gigantes. Este ano, tivemos o Real Madrid contra o Manchester City, algo que já era considerado pelos adeptos, como a principal rivalidade europeia entre o génio de Pep Guardiola e o ataque todo-poderoso do Real, com Vinicius, Rodrygo em 2021/2022 e 2022/2023, e que vai agora em quatro épocas consecutivas (2023/24 nos quartos e na temporada passada, no play-off de acesso aos oitavos), portanto é fácil de descartar este confronto sendo o produto de um novo formato.
Se olharmos para o percurso do PSG temos uma resposta mais clara: ao defrontar e eliminar o Liverpool, equipa que tal como o FC Barcelona, seria um claro favorito a finalista, o sorteio definitivamente limitou algumas das expectativas da comunidade futebolística, em ter possivelmente uma “final four” (Inter e PSG, com Barcelona e Liverpool, que até à final da Champions, estariam a concorrer também pelos seus respectivos campeonatos, criando um desfecho histórico. Mesmo assim, a supremacia do costume das principais ligas europeias foi demonstrada, com Arsenal, PSG, Inter e Barcelona. Outro detalhe importante é a ausência de surpresas nas meias-finais.

Com um formato alargado, várias equipas que se estreiam ou não são tão valorizadas (como o caso do Brest de França), podem ter uma série de jogos favoráveis ao seu calendário ou nível. (ou não, considerando a participação negativa do RB Leipzig, equipa experiente na competição na temporada passada) Claro que o Brest, que goleou contra o campeão austríaco Salzburg por 4-0 e venceu o campeão holandês PSV, teve um sucesso inesperado, que continuou a sequência de conquistas imprevisíveis do clube, desde 2023/24, com a qualificação para a primeira edição de fase de liga da Champions League. Apesar disso, o PSG colocou um fim ao percurso de sonho do Brest. A qualificação para o play-off, do nono ao 24° posto, produz também um desnivelamento em alguns confrontos, algo que certas equipas intermédias poderão não o experienciar à primeira vista, embora que haja um sucesso relativamente criado com a prestação feita.
Em relação aos prós, um aspeto a mencionar é a competitividade até ao último dia, da fase de liga. Manchester City e PSG disputam pelos seus bilhetes ao play-off até ao último segundo, algo que com a fase de grupos não se iria produzir, sendo que em média, estamos normalmente habituados a ver os grandes clubes a garantirem os primeiros dois postos do seu grupo, antes da sexta jornada, independentemente da forma durante o campeonato.
Independentemente do que aconteça de agora em diante, a primeira fase de liga, já nos deu muitas informações, sobre o que podemos esperar para o futuro da competição e o sucesso que as equipas europeias terão a longo prazo.