O Benfica está apurado para os playoffs da Champions League e vai enfrentar o Fenerbahçe de José Mourinho. Após terem medido forças na Eusébio Cup, as duas equipas voltam a jogar, agora a sério, para disputar o acesso à prova milionária.
O Fenerbahçe chega a esta fase depois de ter afastado o Feyenoord, equipa neerlandesa que continua a ter pesadelos com José Mourinho. Pela terceira vez na carreira, o técnico português afastou o emblema de Roterdão de uma prova europeia e o fator casa voltou a ser determinante.
Com a AS Roma, já tinha ganho a final da Conference League ao Feyenoord de Arne Slot, que contava com Orkun Kokçu e Fredrik Aursnes na equipa, e na época seguinte voltou a afastar o conjunto neerlandês, nos quartos de final da competição, com um agregado de 4-2.
Aconteceu agora o mesmo, ao serviço do Fenerbahçe e agora segue-se o Benfica. Neste artigo, vamos olhar para os pontos positivos e negativos da equipa turca, que foi vice-campeã na última temporada.
O contexto do Fenerbahçe de José Mourinho
José Mourinho chega à sua segunda temporada no Fenerbahçe mais pressionado. O conjunto turco não conseguiu vencer qualquer troféu na época passada e o segundo lugar no campeonato sabe a pouco para as exigências dos adeptos e responsáveis do clube de Istambul, que têm vivido na sombra do grande rival, Galatasaray.
O contexto é exigente, dada a valia do grande rival, que acabou de contratar Victor Osimhen e Leroy Sané, e os fracos resultados do Fenerbahçe no passado recente: não vai à Champions League desde 2009 e não ganha o campeonato desde 2013/14.
Os maus resultados levam à instabilidade na gestão e são cada vez maiores as vozes que se levantam contra o presidente do clube, Ali Koç, principal responsável por ter colocado José Mourinho na equipa turca. Uma prestação europeia digna ou a vitória no campeonato da Turquia podem dar um novo fôlego ao emblema turco para viver com maior tranquilidade nos próximos tempos.

Como joga o Fenerbahçe 2025/26?
José Mourinho tentou manter a identidade da equipa quando chegou ao clube turco, através da manutenção do sistema 4-2-3-1, mas acabou por inverter a tendência a meio da temporada e assumiu um sistema de três defesas, tal como fez na AS Roma, para disfarçar algumas fragilidades defensivas.
O mesmo aconteceu neste desafio no Fenerbahçe, em que coloca em prática um 3-5-2, com Milan Skriniar como o defesa-central mais fixo e Muldur [lateral de origem] e Jayden Oosterwolde mais dinâmicos e com trabalho mais interventivo no momento de saída com bola.
Nos corredores estão dois reforços para as laterais: Nélson Semedo, na direita, e Archie Brown, na esquerda, melhoraram substancialmente a capacidade defensiva da equipa e dão outro conforto no momento da construção. Mais à frente, no meio-campo, José Mourinho opta por colocar dois médios de maior contenção, Sofyan Amrabat e Fred, com Sebastian Szymanski com maior liberdade de movimentações. O médio internacional polaco ajuda a equipa sem bola e fecha como terceiro médio e é o mais capaz a dar apoios interiores à dupla temível da frente de ataque, composta por Youssef En-Nesyri e Jhon Durán.
Este 3-5-2, que por vezes alterna para um 3-4-3, oferece ao Fenerbahçe um conforto redobrado para jogar sem bola e explorar, em timings cirúrgicos, o espaço ou o erro adversário. As maiores dificuldades residem ainda na construção a partir de trás, onde a equipa revela dificuldades de ligação, resultado também das várias mexidas no plantel para esta nova temporada.
A questão da bola parada defensiva é também um problema evidente neste Fenerbahçe, que não parece ter estabilidade de movimentação, nem um guarda-redes que seja um líder de toda a operação dentro de área. Dominik Livakovic perdeu o lugar na equipa, dadas as limitações a sair da baliza, para Irfancan Egribayat, que é um guarda-redes com maior facilidade de saída e trabalho com os pés, mas com algumas lacunas entre os postes.

Os pontos fortes e fracos do Fenerbahçe de José Mourinho
O Fenerbahçe de José Mourinho é uma equipa ainda muito inconstante e com várias oscilações ao longo dos 90 minutos. É capaz de sofrer desconcentrações coletivas ou individuais de um momento para o outro, mas também tem a capacidade de mudar a partida rapidamente, tal como aconteceu no encontro frente ao Feyenoord, em que marcou dois golos perto do intervalo num curto espaço de tempo.
A equipa turca fecha bem e sente-se confortável sem bola, podendo abdicar da posse em grande parte da eliminatória frente ao Benfica. No entanto, essa postura não implica que esteja desligada do jogo: são vários os jogos em que o Fenerbahçe aproveita uma desconcentração ou um espaço para trabalhar uma recuperação de bola e agir com rapidez numa transição para resolver a ação.
Em termos individuais, a maior lacuna está entre os postes. Irfancan Egribayat [instável] e Dominik Livakovic [dificuldades a sair da baliza] destoam do resto da equipa e ambos estão longe de dar a estabilidade necessária à equipa. Ao dia de hoje, é o ponto mais débil da equipa e algo que poderá ser explorado pelo Benfica através de meia-distância ou nas já referidas bolas paradas ofensivas.
No entanto, a equipa do Fenerbahçe está mais forte nos outros setores. As laterais são novas e estão mais sólidas com os reforços, Nélson Semedo e Archie Brown. Dois jogadores equilibrados defensivamente e que oferecem soluções à equipa na frente: o lateral português através de combinações e ligações por dentro e o lateral inglês, de passada larga, com muita qualidade ao nível dos cruzamentos.
Na defesa, a manutenção de Milan Skriniar garante ao Fenerbahçe uma voz de comando na defesa. O internacional eslovaco é o melhor central da equipa e peça-chave na organização de toda a linha defensiva da formação turca. Ainda assim, as dinâmicas com Jayden Oosterwolde e, principalmente, Muldur [lateral adaptado a terceiro central], estão ainda longe do ideal e o Benfica pode trabalhar os momentos de pressão na saída de bola do Fenerbahçe para forçar o erro do adversário.
O meio-campo de combate com Fred, Sofyan Amrabat e Sebastian Szymanski oferece agressividade e muito trabalho na zona intermédia, sendo este um fator de alarme para puxar pelo lado mais concentrado e de combate mais físico aos médios do Benfica.
Finalmente, na frente de ataque, Youssef En-Nesyri e Jhon Durán garantem golos à equipa de José Mourinho, mesmo em momentos em que a equipa esteja mais desligada do jogo. São dois pontas de lança de grande poder na finalização e podem ser dores de cabeça para Otamendi e António Silva. A titularidade de Anderson Talisca, em detrimento de um dos pontas de lança, não está descartada e pode oferecer maior capacidade de meia-distância e de ligação com os três homens do meio-campo.
Além de Talisca, há poucas soluções de qualidade idêntica ao onze-base do Fenerbahçe, sendo que a equipa acaba por se ressentir em fases de maior aglomerado de jogos. Ainda assim, İrfan Can Kahveci, que tem qualidade técnica mas é irregular, e os jovens talentos, Oguz Aydin e Yusuf Akcicek, são as melhores alternativas à disposição do special one.
A equipa está à procura de mais um elemento criativo e capaz de desbloquear blocos na frente e é aí que entra Kerem Akturkoglu, que deve vir a reforçar a equipa da Turquia.

As chances do Benfica no playoff da Champions League
O Benfica é favorito frente ao Fenerbahçe. Sobre isso, não restam dúvidas. No entanto, cabe dizer também que a equipa de José Mourinho era a melhor entre as três [que incluíam Nice e Feyenoord]. O Benfica é uma equipa mais organizada, com dinâmicas que estão melhor trabalhadas nesta fase e com maior qualidade em todos os setores do terreno.
Além dos avisos já referenciados, é importante destacar que estas eliminatórias têm sido a praia de José Mourinho, vencedor de duas Champions League, duas Europa League e uma Conference League. O treinador português é um dos melhores do mundo em jogos a eliminar e basta recordar que saiu da AS Roma sem perder qualquer eliminatória. Mesmo no Fenerbahçe, na época passada, acabou eliminado pelo Rangers nos penáltis, num jogo em que até merecia a passagem.
São sinais que servem de aviso para o Benfica, que é favorito nestes playoffs. Conseguir um bom resultado em Istambul, na primeira-mão, pode ser determinante para fechar a eliminatória e garantir conforto no segundo jogo, no Estádio da Luz, onde o Benfica vai estar mais confortável.