Liga dos Campeões: a oligarquia dos grandes?

É a Liga dos Milhões, e para muitos está apenas feita para quem os tem. “Se se chama Liga dos Campeões, deviam participar apenas os campeões de cada país”, dizem. Isto levanta duas questões: Será a Champions uma oligarquia, feita para dar lucro apenas aos grandes da Europa? E será que dar um lugar exclusivamente ao campeão de cada liga do Velho Continente teria bons resultados?

Comecemos pela primeira pergunta: se olharmos para os vencedores da Liga dos Campeões no século XXI, vemos muito pouca variedade. Nove vencedores em 18 anos, com a mesma equipa – Real Madrid CF – a conquistar quatro das últimas cinco edições. E, de facto, para o adepto neutro, estar a ver um leque extremamente reduzido de clubes a levantar o tão desejado troféu no final da época torna-se desinteressante. Mas não será isto justo? Se existem apenas nove ou dez equipas com uma tradição futebolística significativa e que fazem os investimentos necessários para se manterem no topo do desporto rei, é natural que sejam elas a ter os plantéis mais competitivos nas competições europeias .

Fonte: Bola na Rede

Para além disto, o próprio formato da Champions torna a competição pouco propícia a surpresas, encontrando um balanço entre a valorização da regularidade e a capacidade de atuar sob pressão, em jogos de tudo ou nada. Não estamos a falar de uma fase de grupos com três jogos, como no Mundial: são seis partidas, disputadas fora e em casa. Uma equipa que consiga ganhar os dois primeiros jogos está ainda muito longe de garantir o acesso aos oitavos de final. E, mesmo que o consiga, ainda terá pela frente, no máximo, sete jogos. O facto de as eliminatórias serem a duas mãos também dificulta – e muito – a vida de equipas mais pequenas, que pretendam surpreender na Liga Milionária. Uma vitória histórica por 1-0 em casa na primeira mão pode sempre ser seguida por uma derrota por 3-0 no estádio do adversário. E raramente os grandes da Europa se deixam surpreender duas vezes.

Mas isto não é uma falha na estrutura da Liga das Campeões: é uma característica intencional. Não impossibilita a existência de surpresas (por exemplo, o AS Monaco em 2017, o Málaga Club de Fútbol em 2013, Deportivo de la Coruña em 2004…), mas, claro está, faz-nos valorizar estas campanhas inesperadas pelo que são: surpresas.

Finalmente, temos a questão dos “Campeões”. Até que ponto seria benéfico para a competição e para o desporto ter, de facto, apenas os campeões de cada país a disputar a Liga Milionária?

Fonte: FK Süduva

Reconhece este símbolo? É o símbolo do Futbol Klub Süduva, o atual campeão da Lituânia. Antes de mais, e em nome do “Bola na Rede”, aproveito para dar os parabéns ao FK Süduva pela sua conquista. É importante que todos os países tenham uma hipótese para mostrarem o que melhor têm para dar no desporto rei. Infelizmente, dificilmente veremos o Süduva na edição 2019/2020 da Liga dos Campeões, já que a A Lyga, a principal competição do país Báltico, não tem quaisquer lugares garantidos na fase de grupos, tendo as suas equipas de se apurar através de play-offs. Mas qual seria o interesse de ver o FK Süduva a defrontar um FC Bayern München? Uma experiência inesquecível para os adeptos, certamente, que encheriam o ARVI Football Arena, com a capacidade de 6250 pessoas, para ver a sua equipa a defrontar um dos maiores símbolos do futebol europeu. Mas, quando falamos destes embates, não falamos de um David contra Golias. É muito mais que isso. A disparidade entre os clubes chega a um ponto que contraria precisamente aquilo que a Liga dos Campeões pretende demonstrar: os melhores dos melhores, o futebol europeu no seu melhor. E é natural que, por questões culturais, económicas, sociais ou até políticas, certos países tenham uma qualidade de futebol muito superior à de outros. Ninguém questiona que o Tottenham Hotspur, terceiro classificado na época passada da Premier League, tenha uma equipa superior à do FK Süduva. Deveriam os spurs perder o seu lugar na Champions em favor do campeão lituano?

Vamos admitir: esta ideia não é mais que utópica. Não nos podemos esquecer de que o lucro será sempre um fator a ter em conta, e isto não deve ser diabolizado. É o que é, apenas. Assim, é natural que países que não tenham um interesse muito elevado no desporto rei dificilmente tenham clubes na Champions: não há tradição, nem interesse, nem investimento. Ou, pelo menos, não ao nível de nações como Espanha, Inglaterra e Alemanha. Falar de uma oligarquia num desporto que consiste em vinte e dois homens a correr atrás de uma bola durante 90 minutos, após os quais o melhor conjunto de onze sai vitorioso, é incompreensível. O futebol é bonito porque em campo não há raças, nacionalidades, crenças ou estatutos socioeconómicos. Ganha o melhor. E se os melhores são sempre os mesmos, então cabe aos que estão por baixo subir o seu nível. O futebol é, e esperamos que sempre seja, o exemplo perfeito da meritocracia.

Fonte: La Liga

Revisto por: Jorge Neves

 

Gonçalo Taborda
Gonçalo Tabordahttp://www.bolanarede.pt
O Gonçalo vem de Sacavém e está a tirar o curso de Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social. Afirma que tem duas paixões na vida: futebol e escrita. Mas só conseguia fazer uma delas como deve ser, por isso decidiu juntar-se ao Bola na Rede.                                                                                                                                                 O O Gonçalo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

José Mourinho já está no Seixal para ser oficializado como treinador do Benfica

José Mourinho já está no centro de estágios do Seixal. O técnico português foi recebido por Mário Branco, diretor-geral do Benfica.

Luís Enrique com nova estratégia que pode influenciar o futebol do futuro

Luís Enrique, treinador de 55 anos, experimentou uma abordagem nova no futebol durante a primeira parte do último jogo do PSG.

FIFA vai pagar clubes que cedam jogadores para a qualificação para o Mundial

A FIFA vai estender as compensações aos clubes que libertarem jogadores para os jogos de qualificação do Mundial de 2026, incluindo aqueles que não chegarem à fase final.

Francesco Farioli critica adiamento do Arouca x FC Porto: «Vai criar problemas»

Francesco Farioli criticou o adiamento do Arouca x FC Porto na Primeira Liga. Técnico italiano mostra-se ao lado dos dragões.

PUB

Mais Artigos Populares

Francesco Farioli elogia José Mourinho: «É uma referência para o futebol português, para muitos treinadores e para mim»

Francesco Farioli anteviu o Rio Ave x FC Porto para a sexta jornada da Primeira Liga. Dragões deslocam-se a Vila do Conde.

Manuel Neuer quebra dois recordes numa noite

Manuel Neuer torna-se o mais velho da história do Bayern Munich a jogar na Champions League e chega as 100 vitórias na competição.

Ex-Tottenham critica Ruben Amorim: «Está a ser arrogante e preso aos seus métodos»

Jamie O’Hara criticou duramente Ruben Amorim, acusando-o de ser inflexível no seu método e de não adaptar o sistema tático no Manchester United.