O Depor de Iglesias, Irureta e Victor Sánchez

cab la liga espanha

A 14 de Maio de 1994, o antigo internacional sérvio Miroslav Djukic protagonizou um dos episódios mais marcantes da história do Deportivo La Coruña ao falhar uma grande penalidade frente ao Valencia CF, num Riazor a rebentar pelas costuras, que custou ao emblema galego aquela que teria sido a primeira vitória da sua história na liga espanhola.

No minuto 90 do último jogo da temporada 1993-94, o Super Depor de Arsenio Iglesias, que apenas dependia de si próprio para se sagrar campeão, viu González, o guarda-redes do Valencia CF, agarrar com segurança o penálti batido por Djukic, ao mesmo tempo que via esfumar-se de forma quase inacreditável, perante uma equipa Che para quem o jogo nada significava, um título mais do que merecido, que foi parar às mãos do FC Barcelona de Johan Cruyff. Djukic olhou para González, respirou fundo e, conforme afirmou ao programa Punto Pelota quase 20 anos mais tarde, decidiu bater forte na esperança que essa fosse a melhor solução para bater o guarda-redes do conjunto valenciano, mas tal não aconteceu. O talentoso defesa sérvio olha para esse momento como o “momento más triste de mi vida”, mas, ao contrário daquilo que acontece um pouco por esse mundo fora, Djukic nunca deixou de merecer o respeito de todos aqueles ligados ao Depor, incluindo os exigentes adeptos, que continuam a ver em Miroslav um exemplo de profissionalismo e dedicação.

Longe vão os tempos em que nas bancadas do Riazor ecoava o cântico “Y digo Deportivo, vamos a ganar este partido” e em que o futebol do Super Depor de Arsenio Iglesias maravilhava os amantes da modalidade um pouco por toda a Europa. Esse Depor no qual alinhava Miroslav Djukic contava com excelentes jogadores como Bebeto, Donato e até mesmo o lendário Fran e, apesar de não se ter sagrado campeão nessa época de má memória, conseguiu vencer a Copa del Rey um ano depois e a SuperCopa de España na época seguinte, já sob a orientação de John Toshack.

O momento mais triste da carreira de Miroslav Djukic Fonte: Sport.es
O momento mais triste da carreira de Miroslav Djukic
Fonte: Sport.es

A década de 1990 e os primeiros quatro anos da década seguinte foram os anos de ouro do Deportivo La Coruña. Na temporada 1999-00 pela mão do lendário Javier Irureta, o Super Depor chegou finalmente ao título, terminando a época com 69 pontos, mais cinco que o FC Barcelona e o Valencia CF, que se ficaram pela segunda e terceira posições respectivamente. Foi um momento inesquecível para o emblema histórico do futebol espanhol, vivido de muito perto pelo actual treinador do clube, Victor Sánchez del Amo. Victor, como era conhecido nos seus tempos de futebolista, era um médio de raro talento, que actuava preferencialmente como médio ala ou interior direito, formado nas escolas do Real Madrid.

A falta de “espaço” para se impor como titular indiscutível no clube Merengue levou Victor a outras paragens, primeiro à Cantabria ao serviço do Racing Santander e, dois anos mais tarde, em 1999, ao Depor de Javier Irureta. Victor  disputou mais de duas centenas de jogos pelo emblema galego e foi um elemento de elevada importância na majestosa equipa que venceu a liga espanhola, falhando apenas uma partida durante toda a temporada. Ao seu palmarés no Depor, Victor juntou ainda uma Copa del Rey e duas SuperCopas de España, para além de todos os outros títulos nacionais e internacionais que já tinha conquistado ao serviço do Real Madrid e da selecção espanhola de sub-21.

Apesar de ser natural de Madrid, Victor é visto por todos como um homem da casa e os adeptos do Depor vêm nele o mais capaz para retirar o histórico emblema galego do marasmo desportivo e daquasi-anarquia generalizada em que o clube mergulhou na última década, coincidentemente ou não, após a saída de Javier Irureta.

Javier Irureta, o herdeiro do estilo e humildade de Arsenio Iglesias, que mudou para sempre a história do Depor Fonte: Cuatro.com
Javier Irureta, o herdeiro do estilo e humildade de Arsenio Iglesias, que mudou para sempre a história do Depor
Fonte: Cuatro.com

Victor chegou à Corunha na temporada passada, para substituir outro Victor, de sobrenome Fernández, que curiosamente era visto como um herói não no Depor, mas no vizinho e eterno rival – Celta de Vigo. Victor Sánchez foi apresentado como técnico principal do Depor a 8 de Abril deste ano, quando muitos já achavam pouco provável que a equipa galega escapasse à despromoção. Num ápice, o antigo treinador adjunto do Olympiacos Piraeus moldou a equipa à sua imagem e quase sem que ninguém desse por ela reavivou o espírito guerreiro do clube, ao mesmo tempo que fazia regressar ao Riazor os desacreditados adeptos, que tinham perdido a fé no seu Depor.

A nova época começou com um renovado Deportivo, ainda longe daquele dos tempos de Irureta e Iglesias, mas com a marca própria e bem vincada do seu treinador. Com um futebol de ataque bem mais atrativo do que aquele que vimos do Depor nos últimos 7 ou 8 anos, baseado essencialmente num 4-4-1-1, que passa por vezes a 4-2-3-1 contra equipas de poderio mais elevado, esta nova equipa de Victor Sánchez tem dado muito boa conta de si nos 10 jogos que disputou na liga espanhola até agora. A visão de jogo de Pedro Mosquera, aliada ao posicionamento quase imaculado de Celso Borges no centro do terreno, dita a intensidade e a velocidade de jogo da equipa, que conta lá na frente com um endiabrado Lucas Pérez, um talentoso jogador galego que, de certa forma, Victor redescobriu para o futebol.

Lucas Pérez, a grande revelação do Depor esta temporada Fonte: Riazor.org
Lucas Pérez, a grande revelação do Depor esta temporada
Fonte: Riazor.org

Após passagens não muito bem sucedidas pelo futebol ucraniano e grego, Lucas regressou a época passada, por empréstimo, ao clube da sua cidade natal, mas tem sido nesta temporada que tem demonstrado todo o seu potencial. Na ronda passada, diante do Atlético Madrid, Lucas aproveitou um deslize do central uruguaio José Giménez para marcar um golo de belo efeito e dar o empate, diga-se mais do que merecido, ao Depor, que por sua parte somou, assim, o décimo quarto ponto em dez jogos da liga já realizados esta temporada.

Victor tem ainda muito trabalho pela frente, particularmente no sector defensivo do Depor, que continua a deixar muito a desejar, apesar de todas as melhorias introduzidas por pelo técnico madrileno.

Victor, conforme o descrevem alguns adeptos num website de apoio ao clube, é um homem sensato, que, embora não alheio à euforia vivida pela massa associativa nestes últimos meses, tem os pés bens assentes no chão e acredita que apenas com a máxima “Trabajo, Trabajo y más Trabajo” é possível fazer com que o Depor deixe de viver com saudade as glórias do passado e possa, em vez disso, começar a vivenciá-las no presente.

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Joel Amorim
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Foi talvez a camisola amarela do Rinat Dasaev que fez nascer, em Joel, a paixão pelo futebol russo e pelo Spartak Moscovo. O futebol do leste da Europa, a liga espanhola e o FC Porto são os tópicos sobre os quais mais gosta de escrever.                                                                                                                                                 O Joel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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