
A La Liga Hypermotion, mais conhecida como Liga Hipertensão, está perto do seu final, faltando jogar o play-off de subida.
Os campeonatos profissionais já tiveram praticamente todos o seu ponto final. Contudo, no mês que marca o começo do Euro 2024, ainda existe uma competição que se encontra a ser disputada. A La Liga Hypermotion 2023/24 ficou pautada por equilíbrio quase único, com as lutas pela promoção direta, acesso aos play-offs e manutenção, ainda em jogo na última jornada (daí o apelido de Liga Hipertensión). Os resultados de todos os desafios ao longo da temporada eram absolutamente imprevisíveis, com turmas com a possibilidade de subir e descer várias posições com um bom/mau resultado. O Real Zaragoza começou a época a lutar pela promoção e acabou com o fantasma da linha de água muito próximo. Apenas podia-se dar quase como garantido que o Leganés ia conseguir subir, mas também perdeu a grande vantagem que acabou por amealhar ao longo das rondas. Os restantes postos estavam completamente em aberto, com margem para surpresas, como o Burgos ou o Ferrol, que fizeram uma liga bem acima das expectativas.
Com este grau de competição tão elevado, vimos atletas a chamarem a atenção devido à sua qualidade e evolução, como Juan Bernal, Manu Fuster, Sergio Ortuño, Curro Sánchez, Iker Losada, que nem atuam nas melhores equipas, longe disso. O exemplo de Carlos Vicente é o mais elucidativo. Até janeiro, representou o Ferrol de Cristóbal Parralo, onde estava a ser a estrela da equipa (que já tinha ajudado a subir à La Liga Hypermotion), acabando por ser vendido por 600 mil euros, o valor da sua cláusula de rescisão, ao Deportivo Alavés, que realizou uma La Liga bastante capaz. Foi igualmente pretendido pelo Valência, o que demonstra a sua capacidade.
Podíamos ter mais 42 rondas, que as mesmas iriam ser pautadas pelo equilíbrio e incerteza (não é um bom campeonato para apostar), mas a fase regular teve o seu ponto final no passado fim de semana. Leganés e Real Valladolid (com pedidos de demissão para Paulo Pezzolano praticamente todas as rondas) já sabem que vão marcar presença na La Liga, enquanto que o Mirandés ‘atirou’ o Amorebieta de volta para a Primera RFEF (fazendo companhia com os já despromovidos Alcorcón, Andorra e Villarreal B), de onde não propriamente fácil sair, algo que se pode comprovar com os casos de Deportivo de La Coruña e Real Murcia.
Porém, faltam-se disputar os play-offs. Numa quadragésima segunda jornada dramática, o Villarreal B, que já sabia que não iria sair da zona de descida, travou o Racing Santander, com um golo de Victor Moreno aos 72’ (celebrado com uma efusão ‘anormal’) e definiu as quatro equipas que ainda sonham em estar na La Liga em 2024/25: Eibar, Espanyol, Sporting Gijón e Real Oviedo. Tratam-se de quatro históricos. O Espanyol é figura habitual no principal escalão, sendo que o Eibar e o Sporting Gijón marcaram presença recentemente. O Real Oviedo foi emblema relevante no século passado, mas já não é uma equipa de primeira desde 2000/01, tendo inclusivamente descido outra divisão.
São equipas que chegam a esta fase em momentos distintos, sendo para uns uma alegria a presença na mesma, e para outros, um absoluto pesadelo. Comecemos pelo caso mais simples, o Espanyol. A turma de Barcelona apresentou-se na La Liga Hypermotion como a grande favorita a vencer a competição, dado o seu historial e plantel, pese ter um treinador com poucas valências (Luis García), sendo que a falta de resultados levou a duas trocas de timoneiro ao longo da época. Luis Ramis não conseguiu mostrar as qualidades que apresentou em Tenerife e Manolo González foi solução de recurso, já que estava na equipa B. Ainda assim, não perdeu nenhum dos 12 jogos em que se apresentou, mas apenas venceu quatro. De resto, os periquitos são a turma com o maior valor de mercado da competição, de acordo com o Transfermarkt. O seu plantel está avaliado em 54,8 milhões de euros, praticamente mais 14 milhões de euros, se estabelecermos uma comparativa com o Real Valladolid, que está em segundo posto deste ranking. Contam com estrelas como Martin Braithwaite, Javi Puado ou Nico Melamed (que tem pé e meio, além da cabeça, no Amería). Mesmo tendo terminado em quarto lugar, o Espanyol ainda é considerado o grande favorito.
À frente da equipa do Cornellà-El Prat, na fase regular, ficou o Eibar, que tem nos play-offs o seu ponto fraco. Recordemos a época 2021/22. Os armeros estiveram a poucos minutos de alcançar a promoção direta, mas terminaram a fase regular no terceiro posto, acabando por sucumbir aos pés do Girona, que terminara em sexto. O primeiro passo para os catalães de Míchel se tornarem uma das equipas da moda, foi precisamente essa eliminatória. Em 2022/23, um filme semelhante. O Eibar voltou a fechar em quinto lugar e defrontou o Deportivo Alavés, caindo novamente. Nas duas últimas edições, o emblema promovido derrotou o os bascos nas meias finais do play-off (o Real Oviedo pode sorrir, se o histórico se mantiver). Contudo esta terceira posição em 2023/24 é culpa do próprio Eibar, que nas primeiras jornadas, com Joseba Etxeberria, ainda andou pelos lugares de despromoção, conseguindo encontrar um caminho a meados de setembro, passando novamente um mau momento em dezembro. O Eibar, para conseguir subir de divisão tem que esquecer o que aconteceu no passado, pois isso poderá provocar um grande bloqueio nos jogadores. Já se sabe que não poderá contar com Jon Bautista, goleador da equipa, mas há outros valores interessantes, como Stoichkov, Mario Soriano ou Ager Aketxe.
O adversário do Eibar, o Real Oviedo, está longe de ser uma equipa fácil e no fim de semana passado tivemos a prova disto mesmo. As duas turmas enfrentaram-se na última jornada da fase regular, com uma vitória dos armeros por quatro bolas a três, num final épico. Há alguns pontos em comum entre a turma das Astúrias e o seu oponente nas meias finais. O primeiro foram as expectativas criadas. Dado o plantel que existe no Carlos Tartiere, era absolutamente expectável que os play.offs fossem o objetivo mínimo para as duas equipas. Não estamos a falar de um plantel qualquer. Há elementos como Santi Colombatto (que já vestiu a camisola do Famalicão), Santi Cazorla, Leo Román, Borja Bastón ou Paulino de la Fuente. Existe igualmente uma elevada quantidade de opções para cada posição, o que facilita o trabalho da equipa técnica. O segundo fator que os une é o péssimo começo de temporada. Se do lado do Eibar, não existiu nenhuma ‘chicotada psicológica’, no Real Oviedo foi algo inevitável. Depois de um agosto e de um setembro para esquecer, Álvaro Cervera deu lugar a Luis Miguel Carrión, que tem sido apontado a emblemas da La Liga, que conseguiu colocar a turma na rota da promoção ‘indireta’, apesar de ter entrado na jornada sem a mesma garantida. O Real Oviedo está a transformar-se num clássico do segundo escalão, mas quer perder esse status este junho.
Por fim, sem sairmos das Astúrias, temos de olhar ao caso do Sporting Gijón, A turma de Miguel Ángel Ramírez estava fora dos postos de play-off à entrada para a última ronda e beneficiou da quebra do Racing Santander frente ao Villarreal B. Dada a prestação e qualidade, quiçá os cantábros mereciam este posto, dada a qualidade de jogo apresentada pelos de José Alberto, com Peque, Íñigo Vicente (provavelmente o melhor jogador de toda a competição) ou Jokin Ezkieta a brilharem ao longo da fase regular e a perderem a oportunidade de disputarem o acesso à La Liga nos últimos minutos. O Sporting Gijón é uma equipa interessante, tal como os seus vizinhos, embora a temporada tenha sido marcada pela irregularidade, conseguindo apenas por uma vez atingir as três vitórias consecutivas. Possivelmente, dado o histórico (vem de dois décimos sétimos lugares consecutivos), era a turma com menos esperança de chegar viva a junho. Ainda assim, nomes como Gaspar Campos ou Juan Otero são diferenciados e em conjunto com elementos mais experientes como Cote (melhor lateral esquerdo do campeonato), Róber Pier e Carlos Izquierdoz, conseguiram atingir o objetivo e ficar à frente do grande rival (imagine-se uma final asturiana).
Nenhuma destas turmas terá a vida facilitada. São quatro emblemas para um lugar no sonho. Se estas partidas continuarem o padrão que assistimos na La Liga Hypermotion, o final será sempre incerto, com jogadores a destacarem-se e uma fome de vencer bem acima da média. Por vezes só existe uma oportunidade de disputar este play-off. Se se falha, as equipas podem ficar ‘presas’ no segundo escalão, veja-se o caso do Real Zaragoza, por exemplo, o que pode gerar outras problemáticas, nomeadamente ao nível financeiro (analise-se a crise em que está o Levante). Também há quem tenha desperdiçado várias chances e que continue sem desistir (não é, Eibar?). No fundo, todos os clubes desta competição gostavam de, no mínimo, chegar à praia, mas nenhum quer morrer nela. Tal como o Championship, a La Liga Hypermotion pode tornar-se um pesadelo para as turmas que caem nela e não conseguem usá-la como ‘trampolim’. Quatro instituições têm a oportunidade de sair do caos e construir algo que os faça não voltar assim tão cedo.
Meias finais do play-off La Liga Hypermotion
Primeira mão:
Sporting Gijón x Espanyol
Real Oviedo x Eibar
Segunda mão:
Espanyol x Sporting Gijón
Eibar x Real Oviedo