Com pressão, pressiona-se | Braga 1-0 Feyenoord

À medida que Carlos Vicens tenta forjar uma identidade pelo minho, há a pressão de aliar qualidade futebolística a resultados imediatos. Para combater a pressão, o Braga pressionou e colheu os frutos de um trabalho sem bola muito competente, num jogo que não impressionou ninguém.

O Feyenoord de Robin van Persie apresentou várias alterações na pedreira, apresentando um onze inicial com caras conhecidas do futebol português: Gonçalo Borges e Casper Tengstedt, ex-Porto e Benfica, respetivamente, foram titulares no ataque do Feyenoord. Não creio que esta rotação fosse motivada por soberba, pelo contrário; a equipa neerlandesa enfrenta algumas lesões neste início de temporada e o icónico jogador, agora treinador, tem promovido alta rotação de jogo para jogo. Nesse sentido, os habituais titulares Sauer e Ueda foram poupados para o próximo jogo.

Em termos de ataque organizado, foi um jogo pobre de ambas as equipas e que acabou por definir-se nos momentos de pressão e contrapressão – aqui, o Braga levou a melhor e foi sempre a equipa mais perigosa, ainda que o Feyenoord tenha começado melhor.

Talvez Carlos Vicens esperasse um Feyenoord com maior poderio ofensivo, especialmente a partir dos pés de Moussa (descartando Sauer e Ueda) e, por isso, mostrou respeito pela equipa neerlandesa ao abdicar completamente da habitual construção curta e apoiada em detrimento de pontapés longos à procura de El Ouazzani, pouco confortável na tarefa atribuída de ser referência de jogo direto.

O Feyenoord, independentemente de quem estava em campo, mostrou-se fiel às suas ideias e pressionou alto, com os médios a galvanizarem-se e a restringirem os movimentos dos médios contrários. Em resposta, o Braga batia longo à procura do seu avançado, que ou perdia o duelo, ou ganhava, mas sem colegas de equipa próximos para receber um passe ou atacar uma segunda bola e construir a partir dali- isto explica a melhor entrada do Feyenoord na partida: uma boa pressão aliada à incapacidade do Braga de a bater.

Rodrigo Zalazar e Gaoussou Diarra no Braga x Feyenoord
Fonte: João Freitas / Bola na Rede

Do outro lado, o Braga projetou os seus médios da mesma maneira que o Feyenoord projetou os seus e pressionou, sobretudo, em 4-4-2, encaixando na construção do Feyenoord, que tentava sair em 4-3-3. Em certos momentos, o Feyenoord recorreu naturalmente a uma saída a três e o Braga adaptava a sua pressão também, passando pelo 3-4-3: o mote foi sempre de não deixar espaços entre linhas que os médios do Feyenoord (onde estavam os habituais titulares e a maior força desta equipa) fossem capazes de explorar. Ainda assim, Timber foi fundamental para ligar o jogo e manter o Feyenoord na partida.

Conseguindo recuperar em terrenos médios/ altos, o Braga ganhou tempo com bola, algo deveras importante para uma equipa que joga com Moutinho no meio-campo, que aproveitou uma hora de jogo para dar critério e passes verticais ao jogo bracarense. Nas alas, Leonardo Lelo continua a brilhar no último terço, longe de tarefas defensivas, mas é à direita que está o elefante na sala: o que faz ali Zalazar? Fica a impressão que não só o seu perfil era uma mais-valia para o meio-campo deste Braga, como um perfil de um extremo vertical seria fundamental para aproveitar as transições que o jogo proporcionou.

O aspeto da pressão foi ainda mais fundamental na segunda parte, onde o campo se inclinou com a saída de Timber, que estava a ligar os pontos e a fazer por bater a pressão do Braga e obrigar os visitados a voltar à linha de cinco, onde o Feyenoord encontrou um par de vezes espaços entre os centrais, mas por norma, não foi além de cruzamentos despropositados de Gonçalo Borges.

Ao contrário da equipa portuguesa, o Feyenoord não bateu direto quando reconhecia que não conseguia jogar curto, então simplesmente não construía para lá daquilo que o Braga permitia. Causando mais dificuldades, Carlos Vicens mexeu bem e Diego Rodriguez e Fran Navarro foram fundamentais para a melhoria de jogo ofensivo da equipa da casa.

O momento do jogo é, inevitavelmente, o único golo da partida. Num aspeto que o Braga veio a desenvolver durante o jogo e que é consequência direta da boa pressão que a equipa exerceu, os momentos de transições, o Braga chega à vantagem através de uma transição liderada por Diego Rodríguez, que aproveita a largura oferecida por Leonardo Lelo, o ala faz um passe milimétrico para a entrada de Fran Navarro – e é precisamente o trabalho do avançado que eu quero destacar.

Durante toda a jogada, Navarro manteve-se central e descaiu ligeiramente para o lado contrário para onde Diego conduzia, forçando o central a acompanha-lo e abrindo espaço no primeiro poste. Quando Leonardo Lelo recebe a bola, Navarro acelera em diagonal para atacar o espaço que o próprio criou e finaliza de forma clínica.

É verdade que Vicens tenta induzir uma identidade com base no futebol curto e apoiado, onde há formações enquanto referências, mas são os princípios que as guiam. No entanto, a grande vitória do Braga esta quarta-feira nasce num jogo onde o Braga abdicou desta mesma identidade em detrimento de futebol direto.

Rui Gonçalves
Rui Gonçalves
Licenciado em Sociologia, o Rui Gonçalves aborda o futebol dentro e fora das quatro linhas. Através de um olhar crítico, escreve sobre tática, gestão desportiva e os seus impactos individuais e sociais.

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