O inevitável roteiro escrito 49 vezes por Xabi Alonso | Bayer Leverkusen

O Bayer Leverkusen ainda não perdeu esta temporada. Mantendo o registo nos quatro jogos que faltam e vencendo as duas finais que disputará, o conjunto alemão fará ainda mais história. São quatro jogos a separar os farmacêuticos de um triplete invicto numa temporada em que o Bayer Leverkusen já superou a maior sequência de jogos consecutivos sem vencer, recorde até então detido pelo Benfica.

Por mais condicionantes e diferenças, o jogo entre o Bayer Leverkusen e a AS Roma foi só mais um. Há um ciclo que se repete em vários jogos dos alemães da temporada e muito mérito de Xabi Alonso nesse aspeto. Ser superior dá origem a dois caminhos: marcar e não marcar. Marcando, há goleada ou, pelo menos, uma vitória confortável. Não marcando, a tendência é sofrer e continuar por cima. Mais cedo ou mais tarde toda a superioridade é convertida em golos. Mesmo que estes surjam nos descontos, são inevitáveis.

Jonathan Tah Bayer Leverkusen Jogadores
Fonte: Bayer 04 Leverkusen

Há dois elogios enormes a fazer a Xabi Alonso, principal pintor da arte de Leverkusen. Desde logo por ter construído a equipa com o melhor futebol desta temporada. São imensas as formas com que o Bayer Leverkusen chega à área contrária e que demonstram a superioridade em todos os momentos e aspetos do jogo. Se o adversário pressiona em cima, há capacidade para encontrar espaços. Se baixa o bloco, o Bayer Leverkusen monta o cerco à área e cria espaços para se infiltrar. Se nada disto resultar, as bolas paradas funcionam. Defensivamente há também estabilidade e capacidade de ganhar duelos. Por outro lado, Xabi Alonso cortou pela raiz a tradição do Neverkusen e da tendência para o insucesso nos momentos decisivos. Não é normal e muito menos coincidência a quantidade de vitórias ou empates conquistados pelos farmacêuticos já depois dos 90.

A AS Roma procurou surpreender o Bayer Leverkusen e apostou numa formação assimétrica. Daniele De Rossi, privado do brilhantismo de Paulo Dybala, colocou duas referências para fixar os centrais (Romelu Lukaku e Sardar Azmoun) e gerar espaço entrelinhas e permitir aos médios e alas receber e rodar ou atacar o espaço. Sem um lateral direito de raiz, foram El Shaarawy a funcionar como uma espécie de ala e Bryan Cristante, dividido entre posições mais centrais e lateralizando à direita, a repartir o espaço. Numa estrutura profundamente assimétrica e com Angeliño a fechar uma linha de três, os romanos queriam espelhar alguns dos desenhos do Bayer Leverkusen e gerar vantagens, principalmente no corredor esquerdo. Acabaram por sofrer no momento defensivo.

A primeira parte do Bayer Leverkusen é superlativa. Aproveitou a maleabilidade tática da AS Roma e potenciou todas as crateras abertas pelos giallorossi. Quando a AS Roma fechava por dentro entrava por fora, quando abria para fechar o exterior, chegava por dentro. Mais do que tudo, o Bayer Leverkusen é uma equipa muito consciente do que o jogo oferece, jogando com as vulnerabilidades do adversário. À esquerda, as subidas de Hincapié permitiam a Grimaldo atrair o ala (primeiro El Shaarawy, depois Zalewski) e libertar espaço para o equatoriano ou Amine Adli irem à linha e procurar o cruzamento atrasado, imagem de marca da temporada dos alemães. À direita a velocidade – na condução e no ataque à profundidade – de Jeremie Frimpong marcam diferenças. Aproveitar os diferentes perfis dos laterais (Grimaldo como construtor por dentro, Frimpong como desequilibrador) foi chave para Xabi Alonso. A AS Roma procurava atacar com bolas longas à procura das referências, o Bayer Leverkusen conseguia defender longe da área e vencer os duelos aéreos e rapidamente descobria caminhos para agredir o adversário. Valeu Mile Svilar à AS Roma. Defendeu tudo o que havia para defender e impediu o Bayer Leverkusen de fechar a eliminatória.

O mais óbvio não é épico e a odisseia do Bayer Leverkusen precisa de momentos grandes. Há uma certa repulsa ao fácil ou ao previsível e, não traduzindo o volume ofensivo em golos, a equipa de Xabi Alonso acabou a sofrer. Jonathan Tah ainda não tinha mostrado esta faceta propícia a erros disparatados esta temporada. Na segunda parte Adam Hlozek seguiu o mesmo caminho e a AS Roma, sem precisar de muito, empatou a eliminatória. Méritos sejam dados à capacidade de Lorenzo Pellegrini no passe e às virtudes de Lukaku e Azmoun no ataque a cruzamentos, foram dois erros do Bayer Leverkusen a empatar a eliminatória.

Leandro Paredes AS Roma Jogadores
Fonte: AS Roma

É este o momento em que o inevitável roteiro do Bayer Leverkusen apareceu. O cenário abria portas a (mais um) momento para aparecer a estrelinha criada e construída à mão por Xabi Alonso. O Bayer Leverkusen voltou a ter mais bola e a instalar-se junto da área da AS Roma que abandonou as assimetrias e se montou num 5-3-2 muito bem definido. Aos 82 minutos o (im)previsível roteiro apareceu e de forma muito cruel para a AS Roma.

Mile Svilar, melhor em campo, e Gianluca Mancini foram vilões cruéis para a turma romana. O erro na saída ao cruzamento só não mancha a exibição de Mile Svilar tamanha a dimensão, quantidade e dificuldade de execução das defesas, mas liga o guarda-redes ao momento da viragem. Gianluca Mancini, depois de marcar um autogolo na final da Liga Europa no ano passado, repete a dose na eliminação dos romanos esta temporada. O roteiro do Bayer Leverkusen pode ser madrasto.

A partir deste momento, era uma questão de tempo para o Bayer Leverkusen empatar nos descontos. Quando a AS Roma se propunha a crescer, Xabi Alonso lançou as torres para dentro de campo para se defender e acabou por ser uma delas – Josip Stanisic de seu nome – a resolver na frente. A capacidade dos centrais exteriores e alas se envolverem no processo ofensivo e atacarem a área é uma virtude. A outra é criar no adversário esta sensação de indestrutibilidade.

A quatro jogos do final da temporada, o Bayer Leverkusen mudou o mito. O falhanço continua a ser uma questão de tempo até acontecer. Mas se anteriormente era certo o seu aparecimento, agora parece certo que não acontecerá tão cedo. O principal mérito de Xabi Alonso é ter transformado um Neverkusen nada confiável num Foreverkusen que ficará para sempre. Nem que seja na nossa memória.

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Diogo Ribeiro
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O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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