📲 Segue o Bola na Rede nos canais oficiais:
- Advertisement -

cab premier league liga inglesa

O pequeno Mark, enfiado no seu quarto em Canning Town, gesticulava, gritava, pontapeava o que encontrava pela frente, transformando o quarto num autêntico cenário apocalíptico. Não culpava ninguém senão o mundo por roubar ao seu pai o tempo e disponibilidade necessários para o levar com regularidade até à Academia de Futebol do Arsenal, onde queria formar-se como jogador de futebol entre os grandes. Ser um dos protagonistas dos jogos de Premier League de Sábado à tarde, aparecer nos resumos dos golos do fim-de-semana e ter cânticos dedicados pelos fãs de Highbury Park. Não pela fama, mas pelo reconhecimento de quão bom jogador era.

Surgiu uma solução prática dois anos depois, o West Ham, cujo centro de formação ficava mais perto de sua casa. Começou a treinar na esperança de um dia envergar uma camisola maior, embora abordasse cada treino frustrado por não estar entre um dos grandes do futebol inglês. Gesticulava e gritava com os colegas e pontapeava cada bola com a fúria própria de um pré-adolescente inconformado com o que o Mundo lhe tinha dado.

Queria chegar a um patamar alto, e sabia que tinha de fazer do West Ham um Arsenal para conseguir ser visto pelos senhores do futebol de elite. Pragmático como sempre foi, tornou-se um líder e contagiou os colegas com a sua determinação de chegar mais alto, e isso trouxe-lhe dividendos: dois anos depois, aos 15, fez a sua primeira aparição num jogo de seniores, pelas reservas do West Ham, e outro par de anos mais tarde estreou-se ao serviço da equipa principal, num encontro da Taça da Liga.

Noble tornou-se um ícone do West Ham Fonte: halley37 (Flickr)
Noble tornou-se um ícone do West Ham
Fonte: halley37 (Flickr)

 Não desperdiçou a oportunidade e agarrou-a com unhas e dentes. Foi aparecendo esporadicamente na equipa principal, e foi parte integrante de uma época importante para o clube, marcada pelo regresso à Premier League. No final da mesma, recebeu o prémio de Young Hammer of the Year (melhor jogador jovem do West Ham durante o ano), atribuído pelos adeptos, e ainda ficou em segundo lugar na corrida ao Hammer of the Year (prémio de jogador do ano do West Ham). Tinha conquistado o coração dos adeptos, estava num clube que iria disputar a Premier League e, quando deu por si, já tinha somado várias internacionalizações pelos escalões de formação da Inglaterra.

Mark apaixonou-se pelo clube. Passou a ter o roxo e o azul bebé impregnados na pele. Agora, numa altura em que é protagonista dos jogos da Premier League, aparece nos resumos do fim-de-semana desde há 10 anos a esta parte (sempre com a camisola dos Hammers vestido), resumos em que é alvo dos cânticos dos adeptos – não pela fama mas pelo reconhecimento da garra, ilustrada na forma como gesticula e grita com os colegas e na maneira como pontapeia cada bola e disputa cada lance como se fosse um miúdo de 11 anos frustrado com o Mundo – e apercebe-se de que tudo valeu a pena: o facto de não ter singrado no Arsenal e a frustração que serviu de base à sua ascensão, que se traduz no seu estilo de jogo aguerrido e apaixonante.

No último fim-de-semana disputou apenas mais um jogo pelos Hammers. O número 299 em todas as competições, e o 204 na Premier League. Um recorde na longuíssima história do West Ham. Disputou todos os 52 minutos que esteve em campo com o seu estilo próprio. Aguerrido e impondo a si mesmo a pressão de vencer. Porque não sabe viver sem ela. Porque ele é daqueles Jogadores que trazem para o campo toda a alma que têm, e que fazem da camisola que vestem parte integrante do corpo. Mais do que tornar a vitória um objectivo de conquista urgente, torna-se o próprio clube, e não apenas mais um ser humano motivado por recompensas financeiras ou sociais.

Mark Noble é assim. A frustração do miúdo de 11 anos levou-o a tornar-se num autêntico líder de homens, e alguém que só não consegue colocar os interesses da organização que serve à frente dos seus porque esses também são os seus. Um verdadeiro exemplo de amor à camisola. Um espécime raro que serve de bálsamo à alma ferida de puristas como o redactor deste texto, que vêem nestes casos uma das coisas mais bonitas que o futebol tem para oferecer.

 Foto de Capa: Jack Tanner (Flickr)

Pedro Machado
Pedro Machado
Enquanto a França se sagrava campeã do mundo de futebol em casa, o pequeno Pedro já devorava as letras dos jornais desportivos nacionais, começando a nascer dentro dele duas paixões, o futebol e a escrita, que ainda não cessaram de crescer.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Luís Conceição antevê final do Mundial de Futsal Feminino: «Estas meninas têm aproximado as forças entre Portugal e Brasil»

Luís Conceição fez a antevisão do Mundial de Futsal Feminino. Selecionador nacional projetou o Portugal x Brasil.

Noruega critica sorteio do Mundial 2026: «Um espetáculo bizarro»

Representantes da Noruega criticaram o sorteio do Mundial 2026 na sua vertente espetáculo. Presidente da Federação e treinador com críticas.

Antiga glória elege melhor jogador da história do Real Madrid e não é Cristiano Ronaldo

Manolo Sanchís foi desafiado a escolher o melhor jogador da história do Real Madrid. O espanhol elegeu Alfredo Di Stéfano.

Pep Guardiola deixa aviso a Rayan Cherki depois de assistência de letra: «Nunca vi o Messi fazer um cruzamento como ele fez»

Rayan Cherki fez uma assistência magistral de letra na vitória do Manchester City. Pep Guardiola deixou mensagem ao seu jogador.

PUB

Mais Artigos Populares

Eis os 5 destaques do triunfo do Braga no terreno do Famalicão

O Braga venceu por 2-1 em casa do Famalicão, na 13.ª jornada da Primeira Liga. Eis os 5 destaques do jogo no Estádio Municipal de Famalicão.

Braga volta ao quinto lugar com vitória frente ao Famalicão

Na 13.ª jornada da Primeira Liga, o Braga venceu o Famalicão por 2-1, ultrapassando os famalicenses na classificação.

Rayan Cherki e assistência de letra: «Conheço a minha qualidade»

Rayan Cherki fez uma assistência magistral de letra na vitória do Manchester City. Internacional francês refletiu sobre o momento.