Desde os falhanços de Graham Potter e Mauricio Pochettino no desenvolvimento dos respetivos plantéis, os adeptos do Chelsea e os fãs de futebol questionaram o duvidoso modelo da Clearlake, empresa de investimento privado que detém o clube desde 2022, após a saída de Roman Abramovich.
Hoje, campeões da terceira divisão da Liga Europa e com um terceiro título mundial de clubes, as perspetivas e interrogações óbvias sobre a gestão de Todd Boehly e Behdad Eghbali são outras.

A aposta no mercado de transferências é ambiciosa: comprar, comprar, comprar, preferencialmente, os melhores talentos jovens. Na primeira janela de transferências, jogadores como Marc Cucurella, Chukwuemeka e Wesley Fofana continuam no clube, ao passo que jogadores de renome mundial, como Aubameyang e Sterling, foram rapidamente descartados pelo Chelsea.
Após uma temporada desastrosa, que viu os Blues ficarem em 12.º lugar na Premier League, a Clearlake reconstruiu a equipa e acelerou o processo de rejuvenescimento ao substituir várias peças-chave da equipa vencedora da Liga dos Campeões em 2021/22.
Por cada Havertz, Mason Mount e N’Golo Kanté, entraram um Palmer, um Nicolas Jackson e um Caicedo. No entanto, este processo de reconstrução teve outro aspeto muito mais preocupante. Normalmente, não se espera que um clube compre jovens promessas em cada janela de transferências. Angelo Gabriel, Deivid Washington e Diego Moreira chegaram a ser cotados como o futuro dos Blues.

Agora, em 2025, com menos de 10 jogos na primeira divisão inglesa entre eles, apenas Washington (que regressou ao seu primeiro clube, o Santos) tem atualmente um contrato. Para muitos, trata-se de uma decisão normal e de um fracasso assumido no recrutamento destes jogadores.
Mas, na verdade, muitos destes atletas apenas têm um curto intervalo de tempo para se afirmarem (isto se tiverem mesmo alguma oportunidade para demonstrar a sua qualidade de todo).
O modelo, que aparenta ser cruel, mantém-se com Omari Kellyman e Caleb Wiley em 2024/25. Este último foi cedido ao clube afiliado da Clearlake, o RC Strasbourg, enquanto Omari Kellyman foi contratado em 2024 ao Aston Villa. Não só tem sido ums experiência à parte do Chelsea, que tem usado a Ligue 1 como laboratório para testar jogadores como Andrey Santos e Angelo Gabriel em jogos de alto nível, como também tem grandes implicações no futuro dos jogadores, que agora são utilizados como meros movimentos de mercado.
Uma transferência para o clube londrino já não garante uma devida formação nos escalões jovens ou mesmo minutos em competições menos importantes, como a Taça da Liga Inglesa, mas sim uma volta à Europa paga, onde um dos destinos será, quase inevitavelmente, Estrasburgo.
Portanto, até podemos reformular o lema da estratégia: “comprar, comprar, comprar e vender, vender, vender”. O que antes se via com os “clubes-satélite” como o Benfica ou o FC Porto, ou então mais recentemente com o Brighton, ao contratarem talentos sul-americanos e vendê-los um ou dois anos depois por um preço avultado, está a ser agora ultrapassado e redefinido pelo Chelsea. Apesar de serem americanos, muitos estereótipos sobre o desapego e a divisão cultural dos norte-americanos em relação ao futebol europeu são mencionados.

No entanto, é importante salientar que Boehly e Eghbali foram dos primeiros proprietários de um clube europeu a contornar legalmente as regras do fair-play financeiro. A dúvida instalada em torno da necessidade de várias contratações e a perda de tempo de jogo, que estes jogadores deveriam ter para se desenvolverem, são aspectos a ter em conta.
A duração longa destes contratos, incluídos numa espécie de amortização que ultrapassa os cinco anos normalmente verificados, também merece atenção. A venda de hotéis e outros ativos, regularizados depois como ganhos financeiros, é um outro aspeto o qual a UEFA não estava à espera de enfrentar, e que Boehly e Eghbali, foram bem-sucedidos para financiar mais contratos com outras promessas, e adquirir os “verdadeiros” constituintes do plantel: como Enzo Fernandez ao Benfica em 2023, e agora os novos atacantes para o sistema de Enzo Maresca: o inglês Jamie Bynoe-Gittens e o brasileiro João Pedro.
Apesar de estarem a ser debatidos aspetos como a americanização do futebol, principalmente com o Mundial de Clubes a introduzir tendências estranhas ao desporto que todos conhecemos e amamos, as discussões sobre os assuntos financeiros e o backstage futebolístico, atualmente dominado pela crescente presença de proprietários norte-americanos, são igualmente necessárias para reconhecer os potenciais desfalques do desporto-rei.