É indubitável que, no passado recente, desde a chegada dos investidores árabes e, posteriormente Pep Guardiola, ao Manchester City, a Premier League tem visto uma mudança de paradigma. A cidade de Manchester que outrora era vermelha e pertencia a Sir Alex Ferguson tornou-se, ao longo da segunda década do século 21, azul clara, tendo como rival único o Liverpool, depois da chegada de Jürgen Klopp, apesar de alguns títulos de Chelsea e da surpresa inesquecível do Leicester em 2016.
Guardiola chegou a Manchester proveniente de tempos áureos no Barcelona e no Bayern, e com uma bagagem de mais de dez títulos e mantendo a sua proposta de futebol, de pausa, muita posse e total domínio do adversário, embora até se tenha reinventado ao longo das temporadas, tendo trazido um “9” puro como Haaland para o plantel, algo que, em tempos, parecia impossível.

Do mesmo país de trabalho, mas com processos completamente distintos, Jürgen Klopp chegou do Borussia Dortmund, onde havia estado por sete temporadas, após outras sete no Mainz, onde também havia terminado a sua carreira de jogador. Para além de ter uma personalidade e um carisma amado por todos, o seu estilo de futebol também fazia apaixonar vários adeptos. Pressão alta constante, vertigem e procura intensa pelo golo foram características que marcaram o seu estilo de jogo.

Com algumas adaptações e com mais preservação de equilíbrio, Arne Slot, chegou do Feyenoord na mesma linha de pensamento do seu antecessor e fez uma temporada brilhante, conquistando a Premier League, mesmo sem reforços, visto que Chiesa nem contou em contexto de campeonato.

O cerne deste artigo, que explica bem o que ambos os treinadores procuram nas suas equipas, é as contratações dos laterais-esquerdos, para atacar o Mundial de Clubes e a próxima temporada.
Talento magrebino, internacional pela Argélia, formado no Angers e oriundo do Wolverhampton, o Manchester City trouxe Rayan Aït-Nouri para colmatar uma lacuna já antiga, por uma verba a rondar os 40 milhões de euros.
Quando, no verão de 2020, chegou do noroeste de França para representar os Lobos, vinha catalogado como um lateral energético, de perfil técnico evoluído e de extrema propensão ofensiva, para jogar apenas na largura do campo.
Sob a alçada de vários treinadores, muitos dos quais optaram por uma linha de cinco defesas, ganhou várias dimensões no jogo.
Hoje em dia, para além de se ter adaptado à Premier League, ganhado alguma resistência muscular e física, tornou-se um dos laterais esquerdos mais completos do futebol mundial.
Pode jogar como lateral de faixa, sendo autossuficiente no 1×1, tendo energia para subir e descer e uma capacidade esdrúxula no cruzamento, mas também pode jogar por dentro, como lateral invertido, função essa que Guardiola valoriza, com um perfil semelhante a Rico Lewis, estando uns furos acima do inglês, pelo perfil físico, mental e decisional.
Não há muitos assim no panorama internacional, que, mesmo sendo defesa, consegue ser “game-changer”, através da asa esquerda, inventando jogadas para ganhar uma partida, seja através de uma condução ou de um passe criativo e tendo cada vez mais, chegada à área, tendo feito a melhor temporada da sua carreira, com cinco golos e sete assistências.
Do lado do Liverpool, embora ainda não esteja oficializado, tudo faz crer que Miloš Kerkez vá, à semelhança de Dean Huijsen e, quem sabe, de Illya Zabarnyi, abandonar o Bournemouth.
Formou-se no Gyori, passou uma temporada e meia na formação do Milan e explodiu no AZ Alkmaar, antes de rumar a Inglaterra por cerca de 18 milhões de euros, tendo até estado rumorado para o Benfica, antes de reforçar os Cherries.
É um lateral bastante mais tradicional, o chamado lateral de faixa, de pulmão inesgotável e de tremenda explosão física, tendo imensa facilidade em atacar as costas do adversário ou assumir a jogada com bola e arrancar desde trás para furar o bloco.
Defensivamente, também se destaca pela sobriedade defensiva, pela presença forte nos duelos e pela agressividade e força física, podendo assim, ser uma dificuldade para qualquer extremo adversário.
No fundo, pode ser uma versão moderna de Andy Robertson e diria até com um potencial superior.
Ait-Nouri prefere a organização, Kerkez o caos, tal como os seus clubes o fazem, sem extremismos. De qualquer das formas, são dois reforços tremendos para Manchester City e Liverpool, respetivamente.