O West Ham United ao som de Slaven Bilic

cab premier league liga inglesa

“Sei que não posso salvar o Mundo sozinho, mas sempre que exista uma luta contra a injustiça, prefiro estar sempre na linha da frente e essa é a minha atitude para com a vida.” – Slaven Bilic, 2013

No seu livro Behind the Curtain, de 2006, o escritor inglês Jonathan Wilson descreve Slaven Bilic como uma pessoa aprazível, com a qual é fácil criar empatia, e faz questão de mencionar que o antigo internacional croata foi o único futebolista, de todos aqueles com quem já privou, que fez questão de pagar o café quando ambos se encontraram numa fria mas soalheira manhã em Split.

Slaven Bilic nasceu a 11 de Setembro de 1968 em Split, na ex-Jugoslávia, e foi no clube local, o HNK Hajduk Split, que o actual técnico do West Ham se fez jogador. Ao serviço do histórico emblema do leste da Europa, Bilic venceu a última edição da taça da Jugoslávia em 1991 e venceu o primeiro campeonato de futebol realizado na Croácia independente em 1992, após a sangrenta guerra dos Balcãs, que retalhou a antiga Jugoslávia do Marechal Tito.

As boas exibições com o HNK Hajduk Split valeram a Slaven Bilic um contrato com o Karlsruher SC, outrora um dos gigantes alemães, ao serviço do qual disputou umas meias-finais da extinta Taça UEFA na temporada 1993-94. Em 1996, Bilic mudou-se de armas e bagagens para Londres, dando assim início à sua primeira aventura no futebol inglês. O talentoso defesa croata chegava ao West Ham United por £1.3 milhões e tornava-se na altura no jogador mais caro de sempre a ser contratado pelos Hammers. Apesar de apenas ter estado em Upton Park pouco mais de um ano, Bilic transformou-se de imediato num verdadeiro ícone entre os fervorosos adeptos do emblema londrino, após ter recusado transferir-se para o Everton, alegando ter uma dívida de lealdade para com o West Ham e querer permanecer na equipa até ao final da época, de forma a ajudá-los na sua luta contra a despromoção. No fim das contas, o West Ham evitou a descida de divisão, ficando no 14.º lugar, e Slaven Bilic teve um papel de elevado relevo nessa dura campanha.

Slaven Bilic aquando da sua passagem pelo West Ham em 1996 Fonte: blog.betway.com
Slaven Bilic aquando da sua passagem pelo West Ham em 1996
Fonte: blog.betway.com

Nesse Verão, o defesa croata mudou-se, então, para Goodison Park, por uma quantia bem superior àquela que os Hammers tinham pagado por ele um ano antes, mas a sua vida em Merseyside não foi fácil, uma vez que apenas disputou cerca de três dezenas de partidas nos três anos em que esteve ao serviço do Everton, algo que os devotos fãs dos Toffees não esquecem e provavelmente nunca lhe perdoarão. Na verdade, Bilic não desaprendeu a jogar futebol após a sua mudança para Goodison Park, mas uma fractura de esforço na anca, contraída no Euro 96 ao serviço da selecção croata, minou definitivamente o resto da sua carreira futebolística, que terminaria poucos anos mais tarde, em 2000, ao serviço do clube que o viu nascer para o mundo do futebol, o HNK Hajduk Split.

Após pendurar as botas, Slaven Bilic mudou-se para o outro lado da barricada e começou a sua aventura como técnico principal no seu clube do coração, o HNK Hajduk Split, ainda que de uma forma transitória, enquanto a equipa croata não escolhia um novo treinador. A sua primeira experiência ao mais alto nível aconteceu na selecção croata de Sub-21, quando ao lado de outra antiga estrela do futebol dos Balcãs, Aljosa Asanovic, liderou a jovem equipa na fase de apuramento para o Campeonato Europeu da categoria em 2006.

A 25 de Julho desse mesmo ano, Slaven Bilic, o letrado advogado que nutre um especial gosto por hard rock e heavy metal, chegou de forma talvez inesperada ao comando da selecção principal do seu país, dando início a uma mudança de paradigma no futebol croata, ao mesmo tempo que começava a destacar-se como treinador. Bilic rodeou-se de antigos internacionais croatas e alguns amigos de longa data (como Robert Prosinecki) para conduzir a Croácia a uma prestação fantástica nos jogos de apuramento para o UEFA Euro 2008 e, mais tarde, no torneio propriamente dito, no qual a sua selecção atingiu os Quartos-de-final, caindo às mãos da Turquia após a marcação de grandes penalidades.

Bilic - O advogado que mistura heavy metal com futebol Fonte: DailyStar
Bilic – O advogado que mistura heavy metal com futebol
Fonte: DailyStar

Seis anos após ter tomado as rédeas da selecção croata, Bilic deixa o comando da equipa pela porta grande e vê ainda hoje o seu trabalho ser reconhecido, não só pelos adeptos, mas também pelos media.

Depois de passagens pelo Lokomotiv Moscovo e pelo Besiktas JK, onde, apesar de não ter ganhado quaisquer títulos, deixou a sua marca e contribuiu, pelo menos com o emblema moscovita, para o aparecimento de jogadores como Aleksei Miranchuk, Slaven Bilic regressou a Upton Park no Verão passado para iniciar uma nova aventura com o West Ham, desta vez de fato e gravata e a partir do banco de suplentes, mas nem por isso com uma atitude menos intensa.

Bilic, que aquando da sua passagem pelo Besiktas JK disse que gostaria de que o futebol da sua equipa fosse tão excitante como os Iron Maiden, chegava assim a Londres numa altura em que o estilo de jogo dos Hammers era mais melancólico e enfadonho que o Greatest Hits do Michael Bolton mas, e em pouco mais de três meses de trabalho, o antigo internacional croata transformou o West Ham numa equipa que reúne elogios um pouco por toda a Inglaterra.

O início desta nova aventura com os Hammers não foi, contudo, fácil, e a eliminação prematura da Liga Europa às expensas do FC Astra Giurgiu da Roménia não deixava antever um futuro muito brilhante para Slaven Bilic neste seu regresso a terras de Sua Majestade.

Apesar de tudo, conforme descreveu Winston Reid (o defesa neo-zelandês do West Ham) numa entrevista à Sky Sports há uns dias, Slaven Bilic reuniu a equipa após a eliminação da Liga Europa e juntos cerraram fileiras, apontando as suas baterias à English Premier League, onde pretendem conseguir um bom resultado.

Slaven Bilic com Dimitry Payet e restantes tropas no jogo contra o Bournemouth em Agosto Fonte: DailyMirror
Slaven Bilic com Dimitry Payet e restantes tropas no jogo contra o Bournemouth em Agosto
Fonte: DailyMirror

Ao fim de sete jogos, o novo West Ham de Slaven Bilic é terceiro, atrás dos gigantes de Manchester na English Premier League, e Winston Reid acredita que isso se deve em grande parte ao trabalho do treinador croata. O defesa dos Hammers fez questão de realçar nessa mesma entrevista que Bilic é um comunicador excepcional, uma pessoa extremamente calma e bastante próximo dos seus jogadores, com ideias inovadoras que cativam e motivam o grupo de trabalho, que, de uma forma geral, gosta de trabalhar com ele.

Numa análise mais aprofundada a este novo West Ham, é fácil apercebermo-nos de que determinados jogadores, como por exemplo Mauro Zaráte e Cheikhou Kouyate, parecem ter-se reinventado, e outros, como Victor Moses e Manuel Lanzini, parecem ter redescoberto o gosto por jogar futebol. É contudo uma das caras novas, Dimitry Payet, quem está a reinventar a forma como a equipa ataca. O médio ofensivo francês de 28 anos tem sido um jogador em destaque na liga inglesa até ao momento e é já considerado por muitos um dos jogadores estrangeiros mais talentosos a actuar no país.

Slaven Bilic é uma lufada de ar fresco no futebol inglês e também quiçá no futebol do velho continente. O seu sotaque inglês, uma mistura do londrino com o de Liverpool, já conquistou os adeptos exigentes do país de Sua Majestade e nem a derrota contra o Leicester City na Capital One Cup e o empate caseiro a dois golos com o Norwich City FC no passado Sábado fazem desarmar o entusiasmo que existe actualmente em seu redor e em redor do seu novo West Ham United FC.

Foto de Capa: ESPN

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Foi talvez a camisola amarela do Rinat Dasaev que fez nascer, em Joel, a paixão pelo futebol russo e pelo Spartak Moscovo. O futebol do leste da Europa, a liga espanhola e o FC Porto são os tópicos sobre os quais mais gosta de escrever.                                                                                                                                                 O Joel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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