Desde jogadores ilustres aos melhores treinadores do mundo, já vimos de tudo desde o início desta nova iteração da Premier League, há mais de 30 anos. Hoje em dia, com o futebol português bem representado em termos da proporção de jogadores portugueses na seleção e a jogar simultaneamente nos melhores clubes europeus, o futebol inglês tem revelado um grande descontentamento no seu escrutínio recente da liga portuguesa, precisamente tendo em conta as aquisições para o ataque provenientes dos três grandes, que têm revelado uma falta de adaptação ao estilo mais atempado, mais tático e mais consciente a nível defensivo, que aparenta faltar ou simplesmente nem existir em Portugal.
Claro que, ao mencionarmos Darwin Nunez ou Viktor Gyokeres, muitas das novas opiniões têm sido limitadas e ficado aquém do que pode realmente ser explorado acerca deste tema. Ao adotarmos uma lógica de separação entre transferências e jogadores formados no clube, conseguimos assistir a um padrão mais agradável e, ao mesmo tempo, formidável. Nunez veio do Almeria, onde antes disso esteve no Penarol, seguindo a estratégia normalizada no mercado para os três grandes de recrutar armas ofensivas em Espanha, para além do recrutamento com um histórico decisivo na América do Sul (Jonas também jogava pelo Valência, sendo brasileiro). (Jonas também jogava no Valência, sendo brasileiro). Apesar do sucesso na transferência para a Liga, onde Nunez marcou seis golos e fez dez assistências na sua primeira época, números que melhoraram na temporada seguinte, valendo-lhe uma transferência para os Reds.
Agora, eu poderia estar a falar de como Gyokeres ainda não está perfeitamente integrado (eu irei), ou pelo menos, para alguém que marcou contra toda a oposição que enfrentou num campeonato regular e arrecadou grandes momentos ao serviço do Sporting em jogos importantes na época passada, também se pode encaixar nesta visão. No entanto, é necessário ter em conta quais são as principais partes do jogo onde a identidade e a filosofia de jogo se encontram nestes dois países de futebol.

Antes de regressar ao caso de Nunez, é evidente que temos de mencionar os jogadores portugueses que, neste momento, têm tido tempo de jogo consistente: José Sá, Bruno Fernandes, Pedro Neto, João Palhinha e Toti Gomes. Florentino e Jota Silva são aquisições recentes, mas contratados não só pelas suas exibições pelo Benfica e pelo Vitória, mas também pela capacidade de adicionar mais profundidade à equipa.
Jota Silva, tal como o ex-Gil Vicente Félix Correia no Lille, tem o papel de oferecer alternativas resilientes aos jogadores titulares indiscutíveis de Nuno Espírito Santo, sendo difícil competir com Hudson-Odoi, formado no Chelsea e habituado desde tenra idade às dinâmicas de progressão no último terço da Premier League, ou até com Dan Ndoye, que chegou recentemente do Bologna e ganhou logo um lugar na equipa titular.
Talvez, se ainda estivéssemos na época de êxito do Wolves de NES, a história seria outra e estaríamos, mais uma vez, a exaltar a sinergia portuguesa na Premier League. No meio-campo, já encontramos Bruno Fernandes e Palhinha, ambos ex-sportinguistas, com um ritmo de jogo favorável para demonstrarem a sua excelência e primazia nas tentativas de controlar o jogo. Se formos mais para trás, conseguimos assinalar mais problemas no ataque, se olharmos para o êxito de Ederson e João Cancelo. Mas será um problema de posição? Ou só para jogadores estrangeiros cuja última destinação antes da Premier League foi a Primeira Liga? O que é certo é que não temos uma explicação consistente.

Em termos de recrutamento, algumas transferências e a cobertura de olheiros em talentos como o Luis Diaz, Enzo Fernandez e Falcao revelam um potencial tremendo, que muitas vezes não se traduz em sucesso competitivo, mas que culmina em grandes vendas e jogadores que são altamente receptivos à mudança e ganham confiança ao serem a face do projeto desportivo de um plantel. Quando falamos de Jackson Martinez, Dost e possivelmente Gyokeres, falamos de jogadores que se estabeleceram em Portugal, provenientes de solidas academias de formacao.
Estes dois últimos passaram pelo Wolfsburgo e pelo Brighton, o que pode ser objetivamente considerado um nível acima do futebol que ambos encontrariam em Portugal. No entanto, a parte defensiva cria muito deste choque cultural. Claro que tens a Série A e a La Liga como ligas que possuem mais disciplina e rigor, mas na Premier League encontras também uma experiência robusta e esse tal rigor, comprovado pelos valores astronómicos das transferências de Van Dijk, Dean Huijsen, Josko Gvardiol, Wesley Fofana, entre outros. A lista é longa, mas dá uma ideia de como estes jogadores têm a confiança das maiores estruturas do mundo para serem bem-sucedidos.

Os avançados vão ser avançados, e tem de se bater de frente com a fisicalidade e a experiência, que sobem drasticamente de Portugal para Inglaterra e, normalmente, para se adaptarem a uma formação defensiva, os laterais e os centrais têm de saber atacar e defender, bem como reorganizar e consolidar a posse de bola.
Esta é uma tendência que se verifica com a utilização de Guardiola de Manuel Akanji, John Stones e do português Rúben Dias no Manchester City e também no Arsenal com Mikel Arteta a orquestrar a linha defensiva da mesma forma. Esta inteligência é o que se procura em jogadores como ele e o que provavelmente jogadores como Diomande ou Gonçalo Inácio também poderiam ter, caso se concretizasse uma saída do Sporting para a Premier. Não só a nível físico e a capacidade de pressionar, mas também a destreza em estar confortável com a bola, é meio caminho andado para ter um papel proeminente.
Contudo, há várias incongruências, é verdade. O mais importante agora é verificar a reputação da Primeira Liga para o desenvolvimento de jogadores estrangeiros, especialmente pontas de lança, e se a mesma é inteiramente prejudicial à sua adaptação aos grandes palcos.