Vítor Pereira parecia garantir aos Wolves os mínimos competitivos necessários à consolidação na Premier League. No ano passado, as seis vitórias consecutivas entre a 29.ª jornada e a 34.ª mostraram que era possível fazer mais, mesmo que no plantel não coabitasse a qualidade de outros tempos: o 16.º lugar final, quatro pontos à frente do Tottenham de Postecoglou, dava pretexto para se acrescentar o tal género de talento da fase Nuno Espírito Santo. Vítor fez por merecer essa aposta.
Só que num Verão em que saem Nélson Semedo, Ait Nouri e Matheus Cunha, os verdadeiros reforços para Vítor Pereira nunca chegaram, mesmo que tenham sido gastos 125 milhões na reformulação. A 17 de Agosto, depois do atropelo sofrido do City, o treinador português exasperava:
«O clube sabe que precisamos de três ou quatro contratações com qualidade, esta liga é muito difícil e precisamos de ter mais soluções. Precisamos de ajuda e espero que o clube nos consiga ajudar».
Já tinham chegado Strand Larsen, Fer López, Wolfe e John Arias; depois do ultimato, Krejci chega do Girona, Arokodare é comprado ao Genk e pagam-se 12 milhões ao Hellas Verona para recrutar Tchatchoua. É deste último a assistência para o terceiro golo frente ao West Ham (3-2) na primeira ronda da Carabao Cup uma semana depois, a 26 de Agosto. Parecia que a pressão tinha resultado. E a direcção dava, em Setembro, um voto de confiança ao renovar o contrato de Vítor por mais três épocas.


Mas durou pouco. No dia de Todos os Santos, Vítor deixou de o ser ao perder por três golos na visita ao Fulham de Marco Silva. À jornada 10, o Wolves tinha dois pontos – que só não é o mínimo histórico porque o Sheffield 2023-24 só conseguira um empate no mesmo período, numa época na qual terminaria afundado como último classificado e 16 pontos somados. Num impulso de incoerência, chegam os ecos de que a direcção dos lobos se arrependera e que vinha aí rescisão. Já seria o interino James Collins a dirigir a equipa na visita a Stanford Bridge, não se traduzindo em grande chicotada (3-0). A ausência de vitórias ao fim de onze jornadas não era um recorde histórico, mas as perspectivas não eram interessantes. Das dez equipas que o alcançaram em formato Premier League, só quatro conseguiram dar a volta à situação: o Everton 1994-95, o Blackburn 1996-97, o Derby County 2000-01 e o Newcastle 2021-22; E nenhum deles estava a dez pontos da linha de água como este Wolves – no máximo a seis (Everton e Blackburn). Os magpies, os primeiros da era Eddie Howe, estavam a cinco e só uma fantástica série de nove jogos sem perder, com seis vitórias, entre final de Dezembro e Março, assegurou a manutenção.
A solução encontrada pela Fosun e o director executivo Jeff Shi foi confiar em Rob Edwards, comandante do Middlesbrough, o único a fazer cócegas ao fantástico Coventry de Frank Lampard no Championship. Com passagem pelo Molineux como jogador e treinador da formação, apresenta como maior trunfo do currículo a responsabilidade pela aventura do Luton Town na Premier League – proeza conseguida assentando na mesma base de NES, o 3-5-2 de transição e reacção rápida à perda. Percebe-se o critério, mesmo que tenha surgido já depois duma suposta nega de Erik Ten Haag.
«A partir do momento em que consegui o cargo dos sub18 há 11 anos, este foi sempre o meu objectivo. Tive a sorte de o concretizar num registo enquanto interino, mas estar ao comando dos Wolves como treinador principal permanente é um sonho para mim, e oportunidade que nunca poderia rejeitar. Todavia, o foco não pode estar em mim, mas na equipa, na união de todos. O Molineux pode ser poderoso e dificultar a vida a qualquer adversário. Percebi-o como jogador e como treinador adversário. A melhor fase foi na altura do Nuno, quando a equipa voava e é isso que tentaremos replicar. Mas não sou estúpido, sei que temos de fazer a nossa parte e puxar todos para o nosso lado».
Nascido no dia de Natal de 1982, Robert Owen é criado em Telford, a 30 quilómetros de Wolverhampton. Apesar de ser no Aston Villa que sobe pelas categorias de formação, é nos Wolves que consegue os melhores registos enquanto futebolista, com quatro épocas e ultrapassando a centena de jogos no Championship. As lesões não o permitiram ser melhor, ainda que tenha chegado à dezena de internacionalizações pelo País de Gales. Aos 30 anos, percebeu os sinais e lançou-se ao mundo dos bancos – foi no Compton Park, academia dos Lobos, que teve espaço e oportunidade, começando pelos sub18. Foi ganhando protagonismo e quando Walter Zenga é despedido no início de 2015-16, é Edwards quem faz a transição para Paul Lambert. Acabaria por ser promovido aos sub20, que conseguiria meter no ‘Nacional’ inglês pela primeira vez, o que o catapultou depois para ser adjunto dos sub20 dos Três Leões e assumir os sub16 ingleses como técnico principal.
Em 2022, ainda tentou levantar um Watford despromovido por Roy Hodgson – em vão. O plantel até tinha João Pedro, Ismaila Sarr, Choudhury ou os portugueses João Ferreira e Henrique Araújo, mas um começo inseguro resultou que a direcção se arrependesse da escolha ousada para timoneiro e voltasse a um leque de nomes mais consolidados, tendo por isso Rob Edwards sido o passo intermédio entre a velha raposa Hodgson e o excêntrico Slaven Bilic.
Mas ainda bem que assim foi – umas semanas depois assinaria pelo Luton Town, com a equipa no décimo posto. Chegou a 17 de Novembro, à jornada 21, exactamente a meio do campeonato. Até final, só perderia três vezes, a última das quais ainda em Fevereiro – invencível nos últimos catorze jogos com o tal 3-5-2 de abordagem cautelosa, mas nunca defensiva, com grande amplitude dos alas e chegada dos números ‘8’, suportados pela capacidade física dum grande recuperador de bolas, no caso Marvelous Nakamba.
Na subida à Premier, tentou remodelar a abordagem, pensando ele que seria interessante desafiar os grandes olhos nos olhos. As intenções de dominar mais a posse foram transmitidas pela introdução do duplo-pivot Lokonga-Ross Barkley, com a equipa a arrumar-se mais vezes em 3-4-3 – naturalmente, a equipa começou a sofrer golos de toda a maneira e feitio, terminando como segunda pior defesa (85, mais só o Sheffield com 104).
A desilusão do regresso ao segundo escalão dinamitou o projecto. Edwards, mais vítima dum mercado negligente e da natural debandada de talento, não conseguiu reorganizar a equipa e dar-lhe outra vida. É despedido em Janeiro deste ano, depois de cinco derrotas em seis jogos e a equipa no vigésimo posto da tabela. O Luton desceria mais um degrau e está agora na League One.
Quanto a Edwards, teria no ‘Boro a sua bóia de salvação. Treinador do Mês em Agosto depois dum início auspicioso, com quatro vitórias e um só golo sofrido, sai com a equipa encaminhada (oito vitórias e cinco empates em dezasseis jogos) e regressa ao máximo patamar do futebol inglês, pronto a fazer o que nunca foi feito. Para já, e depois de lidar com as críticas dos adeptos do Middlesbrough – ‘oportunista’ sendo o nome mais bonito que lhe chamaram – tem que lidar com o ambiente pesado no Molineux, onde cada vez mais adeptos acusam os sócios maioritários e actuais donos de irresponsabilidade e desleixo na gestão das prioridades, alastrando-se pelas cada vez mais pertinentes redes sociais a hashtag #FOSUNOUT. Mesmo que a multinacional chinesa, que divide os seus negócios em três ‘brackets’ – Health, Wealth e… Happiness, encaixe o projecto Wolverhampton nesta última.

