A vida depois de Rodri

    Domingo, 22 de Setembro. Etihad Stadium, Manchester. O novo grande clássico do futebol inglês Manchester City – Arsenal. Minuto 19. Rodri cai sozinho no relvado, agarrando-se ao seu joelho direito, contorcendo-se com dores.

    Naquele instante, os fervorosos adeptos da equipa citizen sentiram as suas pernas tremer e o seu coração gelar.

    Os adeptos são conscientes de que Rodri não é apenas mais um jogador de um plantel recheado de estrelas, onde o coletivo prevalece em cima de qualquer individualidade, muito ao estilo das equipas treinadas pelo génio espanhol Pep Guardiola.

    Rodri é a alma desta equipa, é quem controla os movimentos defensivos e ofensivos. É o barómetro e a extensão do treinador dentro do terreno do jogo.

    Um jogador total, que sabe quando acelerar o jogo, que está quase sempre bem posicionado, que sabe quando contemporizar, de uma inteligência e conhecimento ímpares do jogo, de uma regularidade exibicional impressionante (são raros os jogos que Rodri joga mal), que sabe qual o momento certo para fazer uma incursão à área que desmonta qualquer estratégia de uma equipa, por mais bem defensivamente organizada que esteja ou seja.

    Não é prematuro dizer que esta é uma perda irreparável e que terá um tremendo impacto nas ambições desportivas da equipa.

    Para termos uma noção (à exceção da final da Taça de Inglaterra da época transacta), todas as outras derrotas da equipa inglesa ocorreram sem a presença de Rodri em campo.

    Estes dados são sintomáticos do peso e da influência de Rodri na manobra da equipa do Manchester City.

    Claro está que Kevin de Bruyne e Phil Foden também têm uma preponderância muito grande no jogo da equipa, assim como o “nosso” mágico Bernardo Silva, que são fundamentais para que o “matador” norueguês Haaland possa finalizar as jogadas.

    O jogo envolvente e de constante troca de passes começa nos pés de Rodri e sem o jogador espanhol, Guardiola vai ter que se reinventar uma vez mais para encontrar uma solução que consiga colmatar ou atenuar a ausência prolongada do internacional espanhol.

    No jogo seguinte a esta lesão gravíssima (Rodri perderá o resto da época ao ter sofrido uma rotura de ligamentos do joelho direito), pensou-se que seria esta a oportunidade por que tanto o internacional português Matheus Nunes esperava, depois de uma primeira época sem qualquer espécie de protagonismo.

    Foi titular no jogo contra o Watford para a Taça de Inglaterra e inclusive marcou um golo, praticamente não o celebrando, o que é bem revelador da sua insatisfação e falta de confiança neste momento. Teve que ser Grealish a agarrar-lhe a cara e a forçá-lo a sorrir.

    No fim do jogo, Guardiola chegou a dizer que Matheus é um dos melhores do mundo na sua posição. Palavras encorajadoras e que certamente motivaram o médio português.

    Mas as palavras de Guardiola não tiveram nenhum reflexo no jogo seguinte em Newcastle (num dos relvados historicamente mais difíceis para qualquer equipa da Premier League). Matheus Nunes nem sequer saiu do banco e assim fica difícil que este se sinta um jogador útil.

    Guardiola já conseguiu transformar Philipp Lahm (um dos melhores laterais-direitos do mundo dos últimos anos) num médio-defensivo de grande qualidade e a sua influência no jogo daquele Bayern Munique, surpreendeu tudo e todos.

    Guardiola fez o mesmo com John Stones anteriormente, tirando grande partido da qualidade de passe e visão de jogo do central inglês, para poder fazer bem essa posição.

    Numa equipa de Guardiola, o médio-defensivo é muito mais do que um trinco que apenas tem como função destruir jogo e não participar da criação de jogo da equipa.

    É o que dita os tempos de jogo e o que inicia a fase de construção.

    Será Kovacic uma boa solução? Talvez seja, mas o médio croata é mais um box-to-box tal como Matheus Nunes. O regressado Gundogan já não tem disponibilidade física para desempenhar esse papel. Bernardo Silva não funciona muito bem quando joga com duplo pivot, como várias vezes Guardiola insiste em o utilizar.

    Apesar de ser brilhante, de Bruyne tem outras características e encontra-se atualmente lesionado.

    A solução mais óbvia seria jogar com a dupla Kovacic-Matheus Nunes, beneficiando da sua velocidade e inteligência de movimentos, assim como a sua capacidade de surgir em zonas mais avançadas do terreno.

    Mas de forma totalmente surpreendente e incompreensível, Guardiola continua a forçar mais uma adaptação, neste caso do jovem Rico Lewis, lateral-direito de raiz.

    Rico Lewis é muito bom jogador, mas essas adaptações nem sempre vão surtir o efeito Lahm, e Guardiola (apesar de ser o melhor treinador da história na minha opinião), deveria ser mais flexível e dar confiança aos jogadores da posição que dispõe neste momento.

    Apesar de ser um dos treinadores mais titulados da história e das suas equipas terem uma identidade de jogo única, foi muitas vezes pela intransigência de Guardiola que as suas equipas não foram ainda mais bem sucedidas.

    Os caros leitores lembrar-se-ão certamente da decisão absolutamente absurda de jogar numa final da Champions League sem um médio-defensivo, perdendo de forma inglória uma final contra um Chelsea manifestamente inferior.

    No ano passado, nos quartos-de-final da Liga dos Campeões contra o Real Madrid, Guardiola demorou imenso a mexer na equipa, que apesar de ser totalmente dominadora do jogo, estava a jogar de forma previsível e necessitava de mais uma referência de ataque ou de um jogador desequilibrador, como o argentino Julián Álvarez ou o desconcertante Doku. 

    No jogo em Newcastle, Kovacic, Lewis e Gundogan foram completamente engolidos pelo trio intenso protagonizado por Tonali-Bruno Guimarães-Joelinton e foi alarmante a falta de controle do jogo e domínio em todos os momentos, principalmente na segunda parte. 

    E isso não é de todo normal nas equipas de Guardiola, que sempre nos habituou a serem equipas dominantes e que fazem do controlo do jogo e da pressão após perda umas das suas imagens de marca.

    Será Matheus Nunes a solução? Só o testando em jogos de alta pressão competitiva, saberemos a resposta a essa pergunta.

    Matheus já desempenhou bem esse papel no Sporting, chegando a jogar uma ou outra vez nessa posição no Wolverhampton. Obviamente que teremos que estabelecer as devidas distâncias entre uma equipa do poderio do Manchester City e as equipas mencionadas anteriormente, mas só saberemos se o internacional português estará à altura da responsabilidade se a mesma lhe for dada.

    Como se sentirá o jogador depois de ouvir palavras tão elogiosas do seu treinador e não ter sequer um minuto de utilização?

    A coerência também é algo que um treinador deve ter e muitas vezes Guardiola perde-se na sua teimosia e convicções. 

    Já aconteceu o mesmo quando prescindiu de Cole Palmer (atualmente ao serviço do Chelsea, sendo um dos melhores jogadores da Premier League) e quando não utilizou devidamente o internacional argentino Julián Álvarez, que acabou por se cansar da pouca utilização nos jogos mais relevantes e decidiu embarcar para Espanha para representar o Atlético Madrid.

    Virão jogos ainda mais exigentes para o Manchester City, a época é longa e será necessário mais um toque de magia de Guardiola.

    Se há alguém capaz de o fazer, é o técnico espanhol. 

    No jogo em Newcastle, ficaram a nu as carências da equipa inglesa, que de não arrepiar caminho a curto prazo, verá certamente como Liverpool e Arsenal se distanciam na tabela classificativa da Premier League, sendo que também irá ter muitas dificuldades em se impor numa competição tão exigente, como a Champions League.

    Será interessante acompanhar os próximos capítulos desta vida depois de Rodri.

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