O que se passa com a AS Roma?

Passado mais de um mês do arranque oficial da época 23/24 do “cálcio” e já com uma pausa para seleções realizada, já é tempo para se poder retirar as primeiras ilações das equipas que disputam o campeonato italiano. Entre as 20 equipas da presente edição da Série A, este artigo centra-se na AS Roma de José Mourinho.

Em jeito de balanço, irei tentar compreender o impacto do treinador luso na equipa romana, os motivos do arranque em falso nesta época e o que esperar desta para o resto da temporada. 

José Mourinho é um treinador que ficará para sempre na história do futebol, deixando agora a sua marca nos “giallorossi”. Mesmo só tendo conquistado um troféu em três épocas (venceu a UEFA Conference League na época 2021/2022), o “Special One” acabou com o longo jejum de títulos europeus da Roma que durava desde da época 1961/1962. Na altura, os romanos venceram a Taça das Cidades com Feira ao Birmingham FC (4-2), competição percursora da extinta Taça UEFA – agora Liga Europa.

Mourinho poderia já ter conseguido até alargar esse feito já glorioso, pois, na época passada, chegou à final da Liga Europa, perdendo para o Sevilla FC (1-1 e 3-1 nas grandes penalidades), numa noite polémica na Puskás Aréna, que Mourinho não reconhece como perdida.

José Mourinho a treinar a AS Roma
Fonte: AS Roma

Como referiu na antevisão do jogo contra o Futbolniy Klub Sheriff: “Sei que esta é uma nova temporada, mas vou continuar a dizer até ao meu último dia como treinador que não perdemos a final da Liga Europa contra o Sevilha. Não perdemos aquela final em Budapeste e não vou mudar de ideias”.  

Sendo reconhecido que, quando comparado com as quatro equipas que representam Itália na UEFA Champions League, a Roma encontra-se um pouco abaixo, não tendo sido ainda capaz de conquistar nenhuma das três competições domésticas. Para registo, ficam dois 6.º lugares no campeonato italiano e duas eliminações nos 4.º de final na Taça de Itália, último troféu interno vencido pelos romanos (época 2007/2008). 

Perante ausência de conquistas em solo italiano, há que reconhecer as particularidades do projeto AS Roma, face aos outros clubes treinados pelo técnico setubalense, no sentido, em que se trata de um processo de adaptação mútua. Ou seja, Mourinho tem de se adaptar a uma equipa não tão vasta de qualidade individual e os jogadores têm de se adaptar à irreverência, imprevisibilidade e ao peso que é ser treinado por um dos treinadores mais titulados da história.

Do ponto de vista técnico-tático, esta equipa tornou-se um espelho do estilo de jogo de José Mourinho complementada, desde a época passada, pelo brilhantismo do “La joya” Paulo Dybala. Alinhando num 5-3-2, a eficiência dos contra-ataques assume-se como marca registada da Roma, sendo, portanto, uma equipa que não se importa de abdicar da bola quando necessário. https://www.instagram.com/p/Cxe-gp3IrsM/

Quando inicia o seu ataque, a maleabilidade de médios interiores como Lorenzo Pellegrini, Aouar ou Cristante e o papel dos alas na largura permite explorar uma saída de bola rápida, com bastante espaço nas costas da defesa contrária. Isto acaba por dar espaço a que Dybala consiga ter liberdade de movimentos, para que possa explorar o espaço em profundidade ou realize o último passe para o seu parceiro de ataque ou para algum dos médios interiores que apareça em zona de finalização. Com a chegada de Lukaku, espera-se que Dybala consiga ter maior liberdade de movimentos, enquanto garante verticalidade e permite esticar o jogo “giallorossi”, pois trata-se de um jogador que segura muito bem a bola.

Como todo o bom ataque começa na defesa, a Roma, de modo a explorar a profundidade de Dybala e Lukaku, joga num bloco médio ou num bloco médio baixo. Desta forma, consegue dar uma grande solidez defensiva à equipa (Com Mourinho sofre 51 e 62 golos nas primeiras duas épocas, valor bastante inferior quando comparado com a última época de Paulo Fonseca onde sofre 78 golos).

No processo defensivo, Mourinho organiza a equipa num 5-4-1, dificultando o jogo adversário entre linhas, obrigando estes a terem de lateralizar. Dentro de área, os três centrais realizam uma marcação homem a homem, contando com Cristante para iniciar o processo ofensivo. Este assume-se como o ponto de equilíbrio dos romanos, sendo um trinco que, não só impõe o ritmo do jogo como avança no terreno, podendo jogar como médio interior direito ou esquerdo.  Para a presente época será interessante perceber como será a dinâmica entre Cristante – Pellegrini – Renato Sanches.

No plano desportivo, a AS Roma teve um arranque longe do desejado tendo apenas vencido o frágil Empoli nos quatro jogos já disputados na Serie A. Tendo concedido o empate em casa contra a Salernitana (2-2) e as derrotas contra o Hellas Verona e Milan (ambos por 2-1), este mau arranque acaba por ser o reflexo da turbulência que foi o mercado dos romanos, sendo este caracterizado pelas lesões que têm atormentado o plantel, as questões do fair-play financeiro e a chegada tardia de reforços.

Embora a chegada de Lukaku e a sua parceria com Dybala façam antever possíveis comparações com algumas das duplas de maior sucesso da história do clube de Roma, como Bruno Conti/Roberto Pruzzo ou Totti/Batistuta, a verdade é que, a duas semanas do primeiro jogo oficial contra a Salernitana, José Mourinho e a sua equipa técnica contavam como apenas 15 jogadores de campo, tendo mostrado o seu desagrado publicamente e pediu mais quatro reforços.

José Mourinho a treinar na AS Roma
Fonte: AS Roma

Os seus desejos foram ouvidos e o diretor-desportivo, Tiago Pinto, assegurou a chegada de Renato Sanches e Leandro Paredes (chegaram a 13 de agosto com o primeiro jogo oficial dia 20) e de Serdar Azmoun (assinou a 25 de agosto, dia antes do encontro contra o Hellas Verona) e Lukaku (foi oficializado no último dia de mercado). A estes juntam-se jogadores como Ndicka (ex-Eintracht Frankfurt) e Kristensen (ex-Leeds United FC)

O descalabro do mercado giallorossi foi evitado pelo papel determinante de Tiago Pinto. Sob alçada do “fair-play” financeiro desde 2022, a forma como o clube reforçou o seu plantel foi limitada, vendo-se obrigado a proceder a um verdadeiro exercício de ginástica financeira que resultou numa receita de 74,5 milhões de euros e um custo de transferências a rondar os 9,3 milhões de euros.

Encerrado o mercado podemos dizer que esta Roma é uma equipa com mais soluções, com melhor qualidade na dupla atacante e, principalmente, um acréscimo de qualidade nos seus médios interiores. Entre entradas e saídas no meio-campo, Mourinho viu sair Matic para o Stade Rennais FC, Volpato para US Sassuolo, Tahirovic para o AFC Ajax e Mady Camara de regresso para o Olympiacos FC. Do lado das entradas, conseguiu a contratação de Aouar (Olympique Lyonnais) Leandro Paredes e Renato Sanches (Paris Saint-Germain FC).

Outro fator que não sido a favor para esta equipa é o número de lesões que têm assolado o plantel. Quer por lesões, quer por questões disciplinares ou de regulamento, a verdade é que estamos ainda no primeiro mês de competição e Mourinho não conseguiu contar com todos os jogadores que devia ter à sua disposição.

Tammy Abraham e Marash Kumbulla afastados por vários meses, Pellegrini, Renato Sanches e Smalling com lesões contraídas já nesta época e Kristensen e Azmoun impossibilitados de jogar a Liga europa pelo “fair play” financeiro, não deixaram outra opção ao treinador português senão procurar soluções dentro do próprio plantel e adaptações táticas.

A derrota na final da Liga Europa deixou feridas abertas na AS Roma. O abdicar das competições internas em prol do sucesso europeu não é uma fórmula infalível e o resultado disso foi o facto de não ter conseguido vencer duas provas europeias consecutivas usando o mesmo procedimento. Olhando à época transata, o caminho dos quartos de final até Budapeste é um claro exemplo do que acabei de referir, pois desde a vitória contra o Feyenoord no Olímpico de Roma até à derrota nas grandes penalidades contra o Sevilha FC, os romanos apenas venceram um dos oito jogos disputados para o campeonato.

Para esta época é garantido que os adeptos serão mais exigentes e, estando na mesma competição, os holofotes estão todos colocados no finalista vencido, esperando que consigam fazer o mesmo, ou melhor que na época passada.  Mourinho sabe disso e estando ciente da exigência que é levar a AS Roma a uma nova final europeia, a sua renovação de contrato está dependente da permanência de Dybala e Lukaku e do regresso de Totti, agora para integrar a equipa técnica.

Estando ainda em setembro, seria imprudente estabelecer algum tipo de juízo final sob um plantel que sofreu com tantas entradas e saídas, contudo, sei que este tipo de questões condicionam o bom arranque de qualquer equipa e a Roma não foge à regra.

Sob o plantel e qualidade de jogo em si, o que posso dizer é que, na minha opinião, este é o melhor plantel à disposição de Mourinho desde que chegou à capital italiana e que, dentro das quatro linhas, será uma equipa ainda mais criteriosa a atacar, mais vertical e mais goleadora. E não, não digo tal coisa só porque vi uma equipa de Mourinho a vencer por sete golos um jogo contra uma equipa do mesmo escalão.

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