A um jogo do Olimpo

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Ao contrário do que se pode pensar, um treinador que escolhe um clube habituado a ganhar não tem uma balança muito desequilibrada no que toca aos prós e contras. Se ganhar, não fez mais do que outros fizeram. Não foi além das suas obrigações, tendo em conta a superior qualidade do plantel. Contudo, se não ganhar coloca uma mancha negra no currículo, que terá, inevitavelmente, repercussões na carreira.

No Olympiakos, crónico campeão grego, não ganhar está fora de hipótese e ganhar por ganhar não é suficiente. Assim, a interpretação de que Marco Silva jogou completamente pelo seguro quando aceitou mudar-se para a Grécia não é indiscutível, até porque falamos de um clube com uma massa adepta exigente e onde a pressão é constante. Depois de sair do Sporting envolto num processo polémico, o treinador português sabia que precisava de dar (mais) uma prova clara de qualidade e, apesar de ter, de longe, o melhor plantel do campeonato, nem nos melhores sonhos imaginaria um início tão auspicioso. O Olympiakos tem feito uma campanha perfeita e venceu os doze encontros que disputou até ao momento, superando o melhor arranque de sempre – um recorde de 1966/67. Mesmo com o triunfo na secretaria sobre o rival Panathinaikos, não há maneira de tirar o mérito ao conjunto de Marco Silva.

Marco Silva
Marco Silva vai batendo recordes na Grécia
Fonte: Olympiakos FC

Para além do percurso imaculado a nível interno, o campeão grego está a uma “final” de conseguir um apuramento improvável para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. À partida, um grupo com o Bayern e o Arsenal não daria muitos motivos para sonhar, mas um triunfo épico em Londres, por 3-2, colocou o jogo a favor da equipa de Marco Silva. Na última jornada, o Olympiakos recebe os gunners de Arsène Wenger com a certeza de que um empate garante a qualificação e que uma derrota por menos de dois golos pode ser suficiente. O treinador português deverá repetir a estratégia que tem adoptado nos compromissos europeus de maior exigência, abdicando do duplo pivot habitual em jogos do campeonato e reforçando o meio campo com a entrada de Esteban Cambiasso. O médio argentino, que chegou nesta temporada proveniente do Leicester, não tem sido preponderante na liga grega mas tem feito a diferença na Champions, aproveitando a enorme experiência internacional que possui.

No campeonato grego, onde o fosso entre o Olympiakos e as restantes equipas é bastante considerável, Marco Silva tem disposto a equipa num 4-2-3-1 sem nenhum médio de características assumidamente defensivas. Pajtim Kasami, “eterna” promessa suíça que, aos 23 anos, parece finalmente querer dar o salto, e Luka Milivojevic, sérvio de 24 anos que vai relançando a carreira no Pireu depois de uma experiência falhada no Anderlecht, têm chegado para as tarefas defensivas e acrescentam a qualidade necessária no capítulo ofensivo.

Se há um nome a destacar no Olympiakos, é claramente o de Kostas Fortounis. O médio, que já tinha estado em bom plano na temporada anterior, tem sido a grande figura do emblema de Atenas e, consequentemente, do campeonato. Com Chori Domínguez, um dos melhores da história recente do clube, a acusar o peso da idade, o talento grego tem assumido todo o protagonismo no meio campo ofensivo, confirmando o potencial que há muito lhe é reconhecido. Para além de ser um jogador tecnicamente evoluído, demonstrando qualidade no passe e no drible, tem impressionado pela facilidade em aparecer em zonas de finalização, sendo o melhor marcador do conjunto de Marco Silva, com 9 golos. Tenha ou não capacidade de manter este nível até ao final da época, já provou que tem talento a mais para continuar na liga grega. Numa fase em que a selecção helénica precisa urgentemente de novas referências, Fortounis é um dos mais fortes candidatos a assumir esse estatuto.

Kostas Fortounis: o maior talento do campeonato grego Fonte: Olympiakos FC
Kostas Fortounis: o maior talento do campeonato grego
Fonte: Olympiakos FC

Sem dinheiro para contratações milionárias, Marco Silva viu no campeonato português, que bem conhece, o mercado ideal para apetrechar o plantel do Olympiakos com mais soluções. Sebá, que orientou no Estoril, Hernâni, sem espaço no FC Porto, e Felipe Pardo, uma das figuras do Sporting de Braga nas últimas épocas, foram apostas do treinador português e têm contribuído para o fantástico momento dos campeões helénicos, acrescentando irreverência e capacidade de desequilíbrio. O antigo técnico do Sporting tem promovido uma rotação saudável nas alas, dando tempos de jogo semelhantes a todos os extremos do plantel, mas o colombiano tem-se destacado na Liga dos Campeões, marcando 3 golos decisivos. Frente ao Dínamo de Zagreb, colocou Marco Silva a festejar como nunca o tínhamos visto. Em termos internos é o talentoso esquerdino Jimmy Durmaz, exímio marcador de bolas paradas, que tem maior influência na equipa, não só por ser o mais utilizado mas também porque tem números bastante relevantes (4 golos e 4 assistências).

O Olympiakos aproveitou as experiências falhadas de Ideye Brown e Alfred Finnbogasson nos anteriores clubes para conseguir dois jogadores muito interessantes para o eixo ofensivo. O possante avançado nigeriano brilhou em Kiev, mas desiludiu no WBA e vai tentando reencontrar-se com os golos em Atenas. Tem levado a melhor na disputa com o islandês, que, apesar de ter destruído defesas na Holanda, não foi capaz de fazer o mesmo ao serviço da Real Sociedad. Para já, a mudança para o Pireu não trouxe de volta o goleador, que vai deixando a ideia de ser um valor inflacionado pelas fragilidades defensivas da Eredivisie.

Não se admirem com o facto de ainda só ter mencionado jogadores que actuam do meio campo para a frente. O sector defensivo é quase dispensável a nível interno, como se comprova pelo registo de 34-5 em golos. O papel de Roberto Jiménez e Manuel da Costa é, por isso, algo secundário nesta equipa de Marco Silva. Os velhos conhecidos dos portugueses, ambos com 29 anos, são os jogadores mais experientes do 11 habitual e, mais do que brilhantes, têm sido eficazes. O central, que passou ao lado de uma grande carreira, forma uma dupla consistente com o espanhol Alberto Botía, também ele uma promessa que não alcançou o nível que se esperava, e o guarda-redes continua a apagar a passagem infeliz pelo Benfica. Sem grandes responsabilidades defensivas, os laterais Arthur Masuaku, pela esquerda, e Omar Elabdellaoui, do lado direito, dão muita profundidade e são duas peças fundamentais na manobra ofensiva do campeão grego, tendo potencial para outros voos.

O campeonato dificilmente fugirá a Marco Silva, como acontece com quase todos os treinadores que têm passado pelo Olympiakos. Leonardo Jardim foi despedido a meio da temporada mas teve um papel decisivo no título de 2012/2013, e Vítor Pereira conseguiu corrigir o mau arranque de Michel e também foi campeão em Atenas. Apesar do recorde na liga grega, só um resultado positivo frente ao Arsenal dará um estatuto especial a Marco Silva na comparação com os outros técnicos portugueses que passaram pelo Pireu. Depois de fazer o Sporting regressar aos títulos, o treinador de 38 anos está a um jogo de entrar no Olimpo do Karaiskakis e de abrir as portas para um campeonato de topo.

Foto de Capa: Olympiakos FC

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Tomás da Cunha
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