Durante mais de uma década, a supremacia europeia no Mundial de Clubes da FIFA estabeleceu-se como uma regra quase inquebrável. O palco da competição, que em tese deveria reunir as melhores equipas do planeta, tem servido como uma vitrine do poder financeiro e organizacional dos gigantes do “Velho Continente”, a Europa.
No entanto, essa realidade pode, e precisa de começar a mudar. E poucos têm tanto a ganhar quanto os clubes de topo da América do Sul.
Com a expansão oficial do torneio e uma nova cara para 2025, o formato vai ter 32 equipas. A ideia da FIFA é transformar o Mundial de Clubes em algo mais próximo de uma “Champions League global”. O novo formato abre espaço para um leque mais amplo de participantes, aumenta a competitividade e cria um cenário no qual, o abismo técnico e económico entre os continentes, pode ser parcialmente reduzido em campo.
E é justamente aí que mora a grande oportunidade para os clubes da América do Sul. São seis, as formações daquele continente em prova: Botafogo, Fluminense, Flamengo, Palmeiras, River Plate e Boca Juniors. Estes históricos emblemas têm agora a chance de ir mais além da tradicional participação simbólica.
O peso da camisola sul-americana

Não se pode apagar a história. O futebol na América do Sul é o berço de alguns dos maiores jogadores que o mundo já viu jogar. Diego Maradona, Pelé, Zico, Juan Román Riquelme, Sócrates, Ronaldinho, Messi, Luís Suárez, entre tantos outros, saíram de clubes locais que ainda hoje formam talentos mundiais em escala industrial. Alguns desses clubes, apesar das dificuldades financeiras que enfrentam, das perdas precoces de jogadores e da instabilidade política, continuam a ser pilares da identidade futebolística das suas nações.
Ganhar a competição, e principalmente aos emblemas europeus de topo, seria mais do que um feito desportivo. Seria um resgate da autoestima da América do Sul. No fundo, um lembrete ao mundo de que tradição, paixão e talento ainda contam. Que mesmo sem orçamentos bilionários, o futebol que vive nas arquibancadas da Bombonera ou do Maracanã, continua vivo, vibrante e capaz de feitos heroicos.
O desafio do desequilíbrio financeiro
É impossível ignorar as desvantagens estruturais. Um clube europeu de elite pode investir centenas de milhões de euros por temporada. Possui centros de treino da última geração, elencos com uma profundidade absurda e o suporte de campeonatos fortemente organizados.
Já na América do Sul, os clubes lutam frequentemente contra relvados de baixa qualidade, dívidas acumuladas e crises administrativas.

No entanto, o futebol nunca foi um desporto onde o mais rico vence automaticamente. E essa continua a ser a magia do desporto-rei. Ainda há espaço para a superação, para a surpresa, para o jogo colectivo bem executado. O Corinthians em 2012, que venceu o Chelsea no jogo decisivo por 1-0; o Internacional de Porto Alegre em 2006, que ganhou ao Barcelona de Ronaldinho Gaúcho, Deco, Iniesta, Xavi e Puyol e o São Paulo, que em 2005, surpreendeu ao vencer o Liverpool por 1-0. Todos mostraram que a diferença pode ser neutralizada com organização tática, disciplina e muita coragem.
O novo Mundial: mais jogos, mais oportunidades
A edição de 2025 será disputada num formato semelhante ao do Mundial de seleções: com grupos e fases eliminatórias (a um jogo apenas). Isto representa um novo tipo de desafio: o da regularidade. Os clubes vão necessitar de evidenciar maior fôlego físico, profundidade de elenco e um planeamento de temporada que considere a competição como prioridade.

Para a América do Sul, isso exige mudança de mentalidade. A Libertadores continuará a ser a principal porta de entrada, mas vencer essa competição já não é suficiente para os adeptos.
A preparação começa agora
A hora de começar é já. São necessárias várias medidas. Investir na formação com inteligência, reter talentos por mais tempo, melhorar a forma como os clubes são operados e profissionalizar as estruturas administrativas. Todas estas são medidas que não apenas preparam o terreno para a ambição internacional, mas também fortalecem o futebol local.

A América do Sul precisa de se ver de novo como uma potência de clubes, e não apenas como um fornecedor de mão de obra talentosa para o “Velho Continente”. O Mundial de Clubes da FIFA pode ser a vitrine ideal para isso. Cada partida será uma oportunidade de provar que, mesmo com menos recursos, o futebol jogado na América do Sul ainda tem alma, garra e qualidade para enfrentar os melhores do mundo.
América do Sul: Um continente que não se rende
A pergunta que fica é: por que não?
Por que razão um clube sul-americano não poderia vencer o Manchester City, o Real Madrid ou o Bayern de Munique, por exemplo?
Porquê aceitar que o título já tem dono antes de a bola começar a rolar? Se há uma região do mundo que sabe desafiar a lógica, é a América do Sul.
O novo formato do Mundial de Clubes da FIFA é mais do que um torneio reformulado, é uma declaração de intenções. É a FIFA a dizer que pretende que o futebol seja globalizado de verdade. Cabe aos clubes sul-americanos responder com a mesma ousadia e coragem.
Todos os jogos em direto do FIFA Mundial de Clubes são na app DAZN. Regista-te Grátis em dazn.com/fifa.