Arábia Saudita | Um caso de te(n)são inconveniente

A Arábia Saudita foi um dos países protagonistas do mercado de transferências do verão de 2023. Porém, em janeiro as movimentações foram bem mais escassas. Este facto, a somar com o “caso Henderson”, levaram ao surgimento da ideia de que o país do Médio Oriente podia começar a quebrar, tal como aconteceu na China. Este artigo serve para contrariar essa tese.

A Arábia Saudita foi o destino de muitos jogadores durante o verão de 2023. Vários elementos deixaram campeonatos históricos, como a Premier League, a La Liga ou a Serie A, para rumarem ao Médio Oriente, num projeto em expansão e a longo prazo. O estado árabe comprou quatro emblemas, os mais históricos da nação, de modo a poder apetrechá-los com craques: Al Nassr, Al Hilal, Al Ahli e Al Ittihad. Vimos de facto atletas no seu auge, ou até mesmo sem ter chegado ao mesmo, a aterrarem em Riade ou em Jidá, algo impensável antes da ida de Cristiano Ronaldo para a Ásia. Gostando ou não do craque português, ele foi o pioneiro de tudo isto, algo do qual o próprio se orgulha.

Em janeiro de 2024, não vimos investimento semelhante, além de termos assistido ao “caso Jordan Henderson”. O atleta quis sair do Al Ettifaq, desesperado por voltar para a Europa, acabando mesmo por assinar pelo Ajax. O médio inglês durou somente seis meses no conjunto de Steven Gerrard. Jordan Henderson sempre se revelou um grande defensor dos direitos da comunidade LGBTQ+, que não tem qualquer tipo de popularidade na Arábia Saudita. O facto de ser uma pessoa de causas sociais, a somar com a circunstância de ser capitão do Liverpool, fizeram com que a sua mudança para o Al Ettifaq fosse considerada muito estranha. Afinal, parecia que Jordan Henderson tinha um “preço”. No final, para rumar ao gigante de Amsterdão, o atleta abriu mão de 800 mil euros semanais, sendo que tinha contrato até 2026. A sua imagem saiu limpa? Nem por isso.

Porém, todo este aparato, a somar com a pouca ação no mercado de transferências por parte dos emblemas árabes, levaram a que várias pessoas pensassem que o investimento estaria a chegar ao fim e que teríamos nesta situação uma repetição do que ocorreu na China durante a década passada. Não me parece que seja verdade. Estamos a falar de um investimento estatal e não de privados, como no caso do gigante asiático.

A teoria do mercado de transferências ter sido fraco ou pouco volumoso, é fácil de explicar. A Arábia Saudita somente seguiu o que os outros países fizeram. Janeiro foi um mês com muito poucas movimentações em todo o globo. Foi levada à letra a teoria de que esta janela é somente para correções. Apesar de alguns países ainda permitirem a realização de operações, as Big 5 têm essa opção fechada. A Ligue 1, muito por culpa do Lyon, foi o campeonato que mais investiu: 190 milhões de euros, com a Premier League a surgir de imediato atrás, mas com apenas 110 milhões de euros, valor inflacionado em parte pelo último dia de mercado.

A Arábia Saudita gastou apenas 23 milhões de euros, sendo que a maioria da fatia é relativa à mudança de Renan Lodi do Marselha para o Al Hilal. Portugal gastou o dobro, mas não nos esquecemos dos investimentos pesados do Benfica, para melhorar o seu plantel e com um claro olho no longo prazo. Rakitic assinou pelo Al Shabab, mas numa transferência a «custo zero».

Não seria vantajoso para os emblemas árabes investir grandes valores em janeiro. Temos que recordar que as equipas têm um limite de estrangeiros (oito) e nos clubes potentes financeiramente, esse valor já foi atingido. Para entrar alguém, um elemento teria que sair. No caso de Lodi aproveitou-se a vaga deixada por Neymar, que se encontra lesionado até ao final e 2023/24.

De facto, a Liga Saudita vai inclusivamente aumentar o número de estrangeiros permitidos, de oito para 10, permitindo a contratação de mais dois jogadores de grande valor. Poderá ser uma questão de tempo até esse limite ser aumentado de novo. Isto garante que o verão de 2024 vá ser igual ao de 2023? Nem por isso, mas não confirma a quebra do mercado árabe.

O mercado de transferência de 2023/24 foi o ponto de partida deste projeto. Foi completamente normal a entrada de uma grande soma de indivíduos, porque não estavam presentes praticamente nenhumas mais valias. Era necessário dar um grande salto, um crescimento a um curtíssimo prazo, algo que hoje em dia já não é tão imprescindível. Os atletas vão continuar a ser assediados e a serem ligados a uma transferência para o Médio Oriente, mas as equipas não vão contratar sete ou oito craques com salários principescos, mas sim dois ou três, porque agora já existe uma base de qualidade, algo que outrora não ocorria.

A Arábia Saudita entrou no mundo do futebol em força e promete ficar e esta é uma ideia muito complexa de assimilar e aceitar para as pessoas que vivem realmente em países que adoram o desporto-rei e fazem parte da sua história. Mohammad Bin Salman quer utilizar o sportswashing até 2034, data que marca o culminar de toda esta ideia que foi montada com precisão. O Mundial 2034 quer ser inesquecível, quer ser o mais caro, quer ter todos os craques sem exceção. Não haja duvidas que a competição terá as melhores infraestruturas que alguma vez vimos, terá reunido o melhor grupo de embaixadores (Cristiano Ronaldo à cabeça), por muito que seja o povo árabe a sofrer com tudo isto (imagens semelhantes às do Qatar vão ser recorrentes). Não nos podemos esquecer que estamos longe de falar de uma democracia, onde todos os dias os direitos das minorias são usurpados e somente uma pequena franja de população tem realmente um nível de vida elevado, com direitos condicionados par crianças e mulheres. Em termos de Índice de Desenvolvimento Humano, a Arábia Saudita até está um lugar à frente de Portugal (37º. e 38º. postos), mas poucos seriam os portugueses que se aceitariam subjugar a um regime ditatorial.

O exemplo de Jordan Henderson voltará a ser repetido. Karim Benzema não está confortável no Al Ittihad e seguramente certos jogadores vão manifestar-se já no próximo verão. Porém, a Arábia Saudita tem toda a confortabilidade financeira para poder substituir os atletas que quiserem regressar à Europa. Afinal, para Bin Salman trata-se apenas de mercadoria e de pequenos atritos numa caminhada para chegar a 2034 no máximo esplendor.

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