O regresso do Rapid

Desde 1997-98 que o Rapid não andava pela Europa em Março. Depois de ser jogado fora da Liga Europa pelo Braga, os austríacos viram na Conference League a oportunidade de recuperar créditos reputacionais e envolver a fervorosa massa adepta noutros estímulos competitivos, mais de acordo com o seu passado – o Braga estava a ser dominado até Ouazzani converter o penalty, já a meio da segunda parte; Trabzonspor e Copenhaga saíram do Allianz Stadion sem marcarem golos, prestigiando a invencibilidade do Rapid, que em sete jogos europeus em casa ainda não perdeu.

Tendo desde cedo a consolidação como campeoníssimo austríaco (nos primeiros dez anos de Bundesliga austríaca venceu oito, e em 1908 já o Rapid passeava, com 19 jogos consecutivos sem perder) o sucesso europeu surgiu como consequência natural; por isso, os primeiros austríacos a ganhar a Taça Mitropa, paralela competição da Latina e das quais, através de teorética fusão, surgiria a Taça dos Clubes Campeões Europeus.

O Benfica travaria a melhor incursão no topo (1961-62, meias-finais). Num futebol sempre subjugado pelo dinamismo da competição alemã e o natural açambarcar de talento local, as façanhas viriam nas outras competições uefeiras: final da Taça das Taças em 1984/85, com derrota perante o Everton na banheira de Roterdão – a glória vem da viagem e não no fim, pelo caminho se garantem os maiores louros, e por isso todos foram despachados por goleada agregada: 5-1 ao Besiktas, 4-1 ao Celtic, 5-3 ao Dínamo de Dresden e 4-2 ao de Moscovo.

Dez anos depois, novo ressurgimento aos de Hutteldorf, a zona onde estava o clássico estádio Gerard Hanappi, tão assustador que talvez a UEFA preferisse que o Rapid jogasse no moderníssimo Prater as partidas internacionais: de nada valeu ao Petrolul, outra vez ao Dínamo de Moscovo, ao Feyenoord e sobretudo ao Sporting de Carlos Queiroz. Seria despedido, não imediatamente como Bobby Robson após Salzburgo, mas pouco depois.

Só o PSG de Raí e Djorkaeff seria capaz de o travar. A última grande façanha para o contexto Rapid veio em 2005-06, com a presença na fase de grupos da Champions. E por mais que continue como máximo ganhador interno, com 32 campeonatos, a última conquista data de 2008. A entrada em cena do projecto Red Bull desestabilizou por completo a hierarquia austríaca, relegando o Rapid e o rival Austria a irrelevantes papéis desportivos de complemento competitivo ao dominador Salzburgo, ainda que socialmente esse confronto da capital continue a ser o foco das atenções.

«Nota-se quando um clube é o alvo do foco mediático. E isso é ‘pau de dois bicos’ – quando ganhamos e quando perdemos. Mas é óptimo, conseguimos manter as pessoas apaixonadas. Podemos ver isso no dia-a-dia da cidade, com tanto adepto verde e branco a torcer por nós. Toda a gente tem algum tipo de ligação ao clube; estamos verdadeiramente enraizados na cidade. Quando ganhamos, somos os maiores de sempre; quando desperdiçamos pontos, é o descalabro» explicava Robert Klauss, o líder de 39 anos. O treinador parece ter interiorizado o peso histórico do emblema, ainda que tenha iniciado o seu caminho no tal projecto da bebida energética. Foi aprendiz de Rangnick e sobretudo de Nagelsmann, o qual acompanhou na aventura em Leipzig.

Julian Nagelsmann ao serviço do RB Leipzig
Fonte: RB Leipzig

E claro que crescer bebendo do conhecimento desses tutores influenciaria a sua abordagem ao jogo. Quando se decidiu emancipar e tomar as rédeas do projecto em Nuremberga, então já a competir na segunda Bundesliga, toca de pôr em prática as generalizadas linhas Red Bull: 4-4-2 que constrói em 4-2-2-2, urgência na recuperação do esférico e desvalorização da posse, preferindo a construção rápida dando prioridade ao passe vertical. Foi despedido em 2022-23, já depois de manter o clube á tona e alcançar o oitavo lugar final, estabilizando um clube em défice financeiro. Explicava assim ao Zeitung austríaco:

«Nesse momento pensei que não deveria mesmo acontecer aquilo, o projecto estava estável e íamos regressar ao mesmo patamar, apesar da má fase (série de cinco derrotas em sete jogos). O planeamento talvez não tivesse sido o mais correcto, a construção do plantel não foi realista e um grande erro colocar as expectativas no top 6, como o director Dieter Hecking assumiu um tempo depois. Eu sabia que teria de ser eu a assumir responsabilidades, é assim que funciona este meio. Os dois anos e quase quatro meses que lá passei foram espectaculares. Consegui gerir e melhorar a equipa, sobretudo desenvolvendo um trabalho apoiado nos mais jovens. Ajudou um pouco que algumas pessoas na direcção me tivessem dito depois “Foi bom contigo, sabíamos da tua qualidade”. De qualquer das maneiras, não olho para trás com ressentimento.»

Em Novembro de 2023, assumiria o Rapid, logo com grandes resultados: até Abril só perderia uma vez, contra o Salzburgo. Parecia conto de fadas até chegar à fase de apuramento de campeão, naquela altura onde a Bundesliga austríaca parte a meio e os seis primeiros, com metade dos pontos totais, focam-se na corrida ao título. Klauss subiria dois lugares, assegurando futebol de Liga Europa a um clube que a meio da fase de regular estava na iminência de disputar a liguilha de manutenção.

Agora, falta subir o último patamar para Klauss e o seu Rapid, com o goleador Dion Beljo à cabeça – o assalto à Champions. O futebol milionário encontra-se a sete pontos de distância (Sturm Graz) e o título parece querer cair nas mãos dos rivais de sempre, o Austria, que está a nove pontos de distância, num ano em que a Red Bull parece ter-se desleixado. «O Salzburgo e o Sturm já não são tão dominantes como foram nos últimos anos. Isso é óptimo para a nossa liga; torna-a mais atractiva» regozija Klauss na mesma entrevista.

Portanto, chegou-se ao tudo ou nada da temporada: a partir de agora, só grandes jogos para o Rapid – a fase de campeão ao rubro e sem espaço para tropeções; e o sonho europeu, com uma grande motivação: passando o Djurgarden, haverá (muito provavelmente) encontro com o favoritíssimo Chelsea nas meias-finais.

Há oportunidade de fazer história – e com o desencontro de qualidade individual, altura para entrar em campo a carga mística do Rapidviertelstunde , os 15 minutos à Rapid, acompanhado incessantemente pelas palmas sincronizadas dos adeptos.

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Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

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