Pode a gratidão salvar um clube? Pode

Kuba Błaszczykowski regressou neste mês ao clube que o lançará para as luzes da ribalta do futebol, o Wisla Kraków.

Este regresso é mais do que um simples voltar às origens para terminar a carreira. Há muito mais para contar para além disso.

Kuba regressou para um clube praticamente falido, sem licença para jogar, com meses de salário em atraso a todo o plantel… Esta situação foi o culminar de uma acumulação de várias más decisões que o clube sofreu ao longo dos anos, mas é a partir de 2016 que os problemas se começaram a acentuar.

O Wisla Kraków, um dos maiores clubes polacos e outrora um crónico candidato ao titulo polaco, tem estado praticamente arredado das contas do titulo desde que sagrou pela última vez campeão nacional polaco, em 2010/2011.

Se as coisas já não corriam bem para o Wisla a nível desportivo pior ficaram quando a estabilidade corporativa que possuíam desvaneceu-se com a saída do seu dono de longa data, Boguslaw Cupial. Boguslaw Cupial tinha sido dono do Wisla Kraków durante uma das mais belas páginas da sua história. Ao todo foram oito os campeonatos nacionais polacos conquistados pelo Wisla durante o “reinado” de Cupial. A sua saída em 2016 marca o inicio de um conjunto de episódios completamente surreais que quase atiraram o clube para os confins da memória futebolistica.

O novo dono do clube, Jakub Meresiński, em pouco tempo revelou-se um autêntico fiasco. Aquele que seria um homem rico, dono de uma empresa de desporto e com dinheiro pronto a investir no clube, era na verdade um homem sem dinheiro, que tinha falsificado documentos que atestavam a sua “saúde” financeira para assegurar a compra do clube. Pior que isso, Jakub Meresiński terá desviado dinheiro do clube para uma conta particular antes de sair da presidência do clube. O polaco foi condenado no ano passado a devolver todo o dinheiro ao Wisla Kraków.

O Estádio do Wisla Kraków não tem sido palco de dias de glória nos últimos anos
Fonte: Wisla Kraków

As coisas dificilmente poderiam piorar certo? Errado.

O futebol polaco é tipicamente reconhecido, por toda a Europa do futebol, pelo seus movimentos agressivos de hooligans. Pois bem, já imaginaram o que seria se um desses grupo “selvagens”, na verdade assumi-se o controlo de um clube profissional? Foi o que aconteceu ao Wisla Kraków. O grupo de hooligans denominado de “Sharks” assumiu o controlo do clube através de uma testa de ferro, Marzena Sarapata.

Os “Sharks” liderados por Pawel Michalski, que já tinha passado seis anos na prisão por atirar uma faca a um jogador durante um jogo da Taça UEFA, constituam a nova página negra na história do Wisla Kraków. As altas estruturas do clube passaram a ser constituídas por pessoas com ligações a este grupo, embora a dona Marzena Sarapata negasse sempre qualquer ligação do clube aos “Sharks”.

A verdade é que após uma reportagem de investigação feita por parte da imprensa polaca ter descoberto e revelado todos os esquemas fraudulentos entre a direção do Wisla Kraków e o grupo de hooligans “Sharks”, todo o corpo diretivo do clube polaco demitiu-se e deixou o Wisla entregue a si próprio.

Como é costume quando um histórico clube europeu está em dificuldades financeiras, há sempre alguém a tentar tirar proveito disso. Seja para ter os seus minutos de fama ou simplesmente por não ter mais nada que fazer. Quem não se lembra da história de Sérgio Silva? O falso investidor português que prometia salvar o Boavista FC? Aconteceu semelhante ao Wisla Kraków.

No passado mês de Dezembro, dois investidores estrangeiros, Vanna Ly e Mats Hartling, chegavam a Cracóvia com intenções de assumir o controlo do clube. Para o negócio ser concluído, era preciso que os novos investidores pagassem a licença do clube para jogar nas competições profissionais. A verdade é que o negócio caiu, porque o dinheiro nunca chegou a ser transferido para a conta do clube. Os dois investidores deixaram de dar qualquer sinal de vida, havendo informações contraditórias sobre o que realmente aconteceu.

Com tanta conversa quase que nos esquecemos que o Wisla Kraków tem um plantel profissional, sim, e joga na Primeira Liga Polaca! Não é ficção, é bem real. Diria que a maior conquista no meio disto tudo será o clube ter-se aguentado no principal escalão com tanta coisa extra-futebol a acontecer.

Ainda assim, apesar de todo o esforço feito pela equipa do Wisla em respeitar o nome do clube, jogando com meses de salário em atraso, tudo podia ter sido em vão. Para o clube continuar a disputar a Primeira Liga Polaca  era preciso o clube pagar a sua licença, entretanto já suspensa, para jogar a segunda metade da época, sob pena de ser desqualificado e “desaparecer” do panorama profissional.

De regresso e já como capitão
Fonte: Wisla Kraków

Sem investidores, sem dinheiro, sem donos, o Wisla Kraków precisava de um herói. Esse herói, podemos dizer, foi Kuba Błaszczykowski.

O jogador polaco não conseguiu ficar indiferente a toda esta situação que o seu clube de infância enfrentava e decidiu partir para a ação. Desvinculou-se do Wolfsburg e transferiu-se para o Wisla Kraków, num contrato praticamente a 0. Na verdade, como a lei desportiva polaca não permite que jogadores profissionais recebam 0, Kuba tem um salário irrisório que decidiu doar para que crianças possam ver os jogos do Wisla.

Era apenas o inicio da salvação do Wisla Kraków. Błaszczykowski e outros dois investidores pagaram todos os salários em atraso do clube polaco. O clube recuperaria a sua licença após vender oito jogadores. E no meio de todo o êxtase que o regresso de Kuba protagonizou, o Wisla conseguiu recolher cerca de 1 milhão de euros numa campanha de venda de 5% do clube aos adeptos.

O novo presidente do clube, Rafał Wisłocki, acredita agora que o regresso de Kuba Błaszczykowski no clube seja também o regresso dos tempos de glória de um clube que habituou os seus adeptos a conquistas e ultimamente tem sido o principal protagonista de uma novela sem fim.

  Foto de capa: Wisla Kraków

Artigo revisto por: Jorge Neves

 

Rui Pedro Cipriano
Rui Pedro Ciprianohttp://www.bolanarede.pt
Nascido e criado no interior, na Covilhã, é estudante de Ciências da Comunicação, na Universidade da Beira Interior. É apaixonado pelo futebol, principalmente pelas ligas mais desconhecidas, onde ainda perdura a sua essência e paixão.                                                                                                                                                 O Rui escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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