No Pequeno Caúcaso mora aquela que seria a grande sensação da prova milionária 2025-26, pela exótica geografia, não fosse aparecer ainda mais surpreendentemente o Kairat Almaty; Na margem do Cáspio, a 6000 quilómetros de Lisboa, mora o campeão crónico do Azerbaijão, com 12 títulos das últimas 14 Premier Leagues do país.
É difícil acreditar que o projecto tenha subsistência competitiva muito graças ao talento pescado em terras portuguesas, mas é verdade: ao Estádio da Luz virão na comitiva nove elementos que já jogaram nos nossos relvados, gente a quem Portugal pouco deu, mas que conseguiram o reconhecimento e a glória já em plena Ásia Menor, a um dia de carro de Teerão.
O Kairat fez as notícias pela complexidade da viagem das equipas que serão obrigadas a ir a Almaty. A 30 de Setembro, quando o Real Madrid for obrigado a viajar 8500 quilómetros para jogar às portas da China, a ocasião obrigará os espanhóis a dispositivos de logística e segurança vistos normalmente em grandes tours de pré-época. É a maior distância percorrida para jogar um jogo de Champions League, episódio inédito e caricato entre o maior vencedor e o estreante, baptismo merecido para o participante mais exótico.
O Qarabag, até por já ser a segunda vez na fase principal da Champions (depois de 2017-18, quando até conseguiu obrigar o Atlético a dois empates) não levará a tanto alarido da comunicação social: mas sim, continua longe, lá no finalzinho do Cáucaso, encaixotado entre a Geórgia, a Arménia e o Irão.
Num país com maioria muçulmana, com a percentagem quase a bater nos 98%, o futebol configura-se como um desporto de escolha popular sim, ainda que a tradição não referencie muito o nome tanto de Qarabag como do Neftci, os dois históricos do país, nos registos de grandes campeões – o Neftci conseguiu ser 6.º classificado na Liga Soviética de 1966, mas é o melhor em termos estatísticos.

Chegados a 2025, é o Qarabag quem manda. Com Gurban Gurbanov ao comando, a coisa faz-se: sendo ele o melhor marcador de sempre da selecção Azeri, Gurbanov iniciou o seu reinado em 2008. Tem dezassete anos de casa, com dupla-função como seleccionador entre 2017-18, e subentende-se então que tenha poder máximo na gestão da equipa; Se é dele a preferência pelo talento que vai crescendo em solo português, não saberemos ao certo e levaria a investigação demorada – mas pelo menos terá o seu aval e concordância. A observável ponta do iceberg é o acordo de cooperação assinado com o Portimonense a 27 de Agosto, há sensivelmente um mês. Na notícia do Record lê-se:
«Fernando Yamada, diretor-desportivo do Portimonense, deslocou-se ao Azerbaijão, sendo recebido por Emrah Celikel, CEO do Qarabag, e Asif Asgarov, membro do conselho de administração, contando a parceria acordada com a necessária validação do presidente do clube azeri, Tahir Gozel.»
E isto tendo a contratação de Camilo Durán como contexto. Mas Gurbanov, competidor nato, lenda nacional e treinador mais titulado do país, conta nas suas fileiras com os tais nove elementos:
–Fabijan Buntic, no FC Vizela entre 2022-24;
-Kevin Medina, que por cá jogou na Naval, Moura, Sintrense, Pinhalnovense, Académico de Viseu e Desportivo de Chaves, saindo em 2020. No Azerbaijão, já leva conquistadas quatro Ligas e duas Taças;
– “Chriso” Kouakou, costa-marfinês que alinhou no Mafra entre 2022 e ’25;
– o tal Camilo Durán, 23 anos, que além de Portimonense jogou no Lusitânia dos Açores, e no Estrela;
– Pedro Bicalho, campeão pelo Alverca na Liga 3 e importantíssimo o ano passado na subida à Primeira Liga;
– Leandro Andrade, cabo-verdiano que fez formação no Sporting, Farense, Olhanense, estreando-se como sénior em Olhão e transferindo-se depois para Fátima;
– Este ano também chegou Dani Bolt, lateral de nome sugestivo que fez formação no Fluminense e passou as duas últimas temporadas em Torres Vedras, custando 400 mil euros aos cofres Azeris;
– Matheus Silva, que representou Farense em 2019-20 e esteve em Moreira de Cónegos entre 2020 e 2022;
– e por fim Kady Borges, o maestro do conjunto que refinou o seu talento no Estoril (2019) e em Vila Franca de Xira (2019-21).
Desta ilustre comitiva, cinco cumpriram as três rondas de qualificação enquanto titulares: para despachar Shelbourne (5-0 ag), Shkendija (6-1 ag) e o Ferencvaros de Robbie Keane (5-4 ag), Gurbanov confiou em Matheus Silva, Kevin Medina, Pedro Bicalho, Kady Borges e Leandro Andrade, destacando-se o último, natural de Tavira, pela contribuição de três golos e três assistências. Um português que vai conquistando o seu espaço enquanto protagonista máximo do futebol Azeri – com melhor sorte que o actual seleccionador, um português com menos sorte e menos paciência para estas lides de futebol de elite. Os Azeris, ao mesmo tempo que festejam a presença do Qarabag e o avultado prémio monetário, pedem a Fernando Santos que apresente um futebol menos… «cobarde».
E quão grande jeitaço deu a qualificação milionária para Gurbanov, em termos financeiros? Basta dizer que o Transfermarkt avalia o plantel Azeri num global de 25 milhões – e o prémio, 40 milhões, é o mesmo valor com que o site especializado avalia o plantel do Santa Clara, o que acaba por constituir uma boa notícia também para o Benfica.