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Don Fabio e os Petrodólares – Os Carrascos do Futebol Russo

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«Tudo o que existe no mundo tem algo a ver com dinheiro» – Graham Greene

Sete milhões de euros anuais eram e foram durante algum tempo o vínculo afectivo de Fabio Capello com a selecção russa. O galardoado e tremendamente experiente treinador italiano chegou a seleccionador da equipa russa em Julho de 2012 como uma espécie de Messias que trazia luz a uma equipa que alegadamente havia perdido o norte e saiu em Julho passado, da mesma forma que o Onzeneiro de Gil Vicente chega à barca do Diabo no Auto da Barca do Inferno com um saco de dinheiro às costas, que representa não só a forma como actualmente vive a sua profissão, mas também a especulação financeira e a ganância que se vive no mundo do futebol nos dias de hoje.

O colapso oficial da União Soviética em Dezembro de 1991, precipitado pelas tendências pseudo-democráticas de Boris Yeltsin e por uma Perestroika e uma Glasnost tardias de Mikhail Gorbachev, marcaram um ponto de viragem, de certa forma negativo, para o desporto em geral e para o futebol em particular, não apenas na Rússia, mas também em todas as outras repúblicas que compunham à data a então maior nação mundial. Depois de uma prestação absolutamente medíocre no Mundial de Itália em 1990, ainda sob a forma de URSS, durante a qual os pupilos de Valeriy Lobanovskyi não foram além da fase de grupos (ficando-se pelo mais que modesto 17º lugar), a União Soviética apareceu sob um novo “formato” no Europeu de futebol de 1992. A CEI (Comunidade de Estados Independentes), comandada por Anatoliy Byshovets, o homem que havia levado a equipa da URSS ao título olímpico em 1988 e que teve uma passagem fugaz pelo CS Marítimo há mais de uma década atrás, contava com excelentes jogadores, como por exemplo Igor Shalimov, Andrej Kanchelskis e Igor Dobrovolski, entre outros, mas voltou a desiludir e não foi além da fase de grupos. Um empate contra a super Alemanha e outro contra a poderosa Holanda criaram fortes expectativas em relação a esta recém formada equipa, mas uma surpreendente derrota contra a Escócia por 3-0 no último jogo do grupo deitou tudo a perder.

O fim do Europeu de 1992 marcou o início de uma nova, longa e penosa etapa para o futebol russo, durante a qual tudo estava por fazer e era necessário reorganizar todos os aspectos que à modalidade diziam respeito, num país que estava a ser fustigado por uma violenta crise social, económica e de valores.

A falta de organização que se vivia na estrutura do futebol e também na federação contrastava, e de que forma, com a qualidade dos jogadores e das equipas técnicas que compunham a selecção russa. No primeiro jogo oficial como Rússia, a potência mundial de outrora venceu o México por 2-0 em Moscovo e saiu-se muito bem na fase de apuramento para o Mundial de 1994, que terminou com seis vitórias e dois empates. Liderada pelo lendário Pavel Sadyrin, o homem que havia levado o FC Zenit (na altura Zenit Leningrad) à sua única vitória da Liga de futebol Soviética em 1984, a equipa russa embarcou na aventura do Mundial dos Estados Unidos, mas viria mais tarde a ser considerada como mais um rotundo falhanço, da qual apenas se destacava o memorável feito de Oleg Salenko, que apontou, nada mais nada menos, que 5 golos no jogo contra os Camarões.

Oleg Salenko, o artilheiro russo no Mundial de 94, acompanhado por Valery Karpin e Ilya Tsymbalar Fonte: tribuna.ru
Oleg Salenko, o artilheiro russo no Mundial de 94, acompanhado por Valery Karpin e Ilya Tsymbalar
Fonte: tribuna.ru

Essa excelente geração de jogadores teve mais um teste de fogo: desta vez, no Campeonato Europeu de 1996 pela mão do mestre das tácticas Oleg Romantsev, mas mais uma vez, após uma fase de apuramento quase imaculada, a equipa russa não conseguiu dar boa conta de si no torneio que teve lugar em Inglaterra, ficando-se novamente pela fase de grupos.

De 1997 a 2004, pouco ou muito pouco há a destacar no que respeita à selecção russa, a não ser uma presença vergonhosa no Mundial de 2002 e outra a roçar a banalidade no Euro 2004 em Portugal. Foi um período negro no futebol russo, um período de desnorte total, onde os interesses financeiros faziam rolar cabeças e durante o qual nada de bom resultou para a modalidade.

Em 2006, no entanto, uma luz ao fundo de um longo túnel fez renascer a esperança nos amantes do futebol espalhados por aquela vasta nação. Após falhar a qualificação para o Mundial de 2006, o experiente Yuri Semin abandonou a equipa e entrou para o seu lugar um homem que mostrou por A + B quão simples era colocar uma velha máquina que respirava futebol a carburar sem solavancos novamente, o eloquente treinador holandês Guus Hiddink.

Hiddink rapidamente captou a essência do futebol russo, em tudo muito semelhante ao mecanizado jogo holandês das décadas de 1970 e 1980, e conseguiu levar a selecção russa às meias-finais do Euro 2008, vergando apenas perante a poderosa armada espanhola, que viria a sagrar-se campeã europeia nesse torneio. A Hiddink sucedeu o também holandês Dick Advocaat, que, embora com resultados não tão impressionantes, deu de certa forma continuidade ao trabalho realizado pelo seu conterrâneo.

A Rússia de Guus Hiddink no Euro 2008 Fonte: UEFA
A Rússia de Guus Hiddink no Euro’2008
Fonte: UEFA

Em 2012, a técnica e a ousadia táctica holandesas deram lugar ao conservadorismo italiano e, se tal à partida não tem nada de negativo, na aplicação específica ao futebol russo, o resultado foi desastroso. Depois de não poucas vezes ter deixado os nervos em franja aos exigentes adeptos ingleses aquando da sua passagem pela selecção daquele país, Don Fabio foi anunciado com popa e circunstância pela federação de futebol russa, que via no antigo aluno da Coverciano a capacidade de ganhar títulos internacionais com a selecção russa e, ao mesmo tempo, de a colocar entre as melhores de todo o mundo.

Fabio Capello, que nesta fase da sua carreira demonstra mais interesse por arte do que por futebol, conseguiu levar a Rússia ao Mundial de 2014, mas, e num grupo aparentemente acessível, não conseguiu uma única vitória e somou apenas dois miseráveis pontos, fruto de empates contra a Coreia do Sul e a Argélia.

Ao contrário dos seus antecessores, que de certa forma ressuscitaram o futebol de ataque rendilhado pelo qual os russos sempre foram conhecidos, Capello tentou, sem sucesso, implementar na equipa vários esquemas tácticos conservadores, baseados em contra-ataque, algo que era altamente contrário ao ADN do futebol russo.

Não obstante tantas trapalhadas e incoexistências, Don Fabio já se havia tornado o seleccionador mais bem pago do mundo e, a avaliar por aquilo que as suas atitudes deixam transparecer, tudo o resto pouco ou nada parecia interessar. O experiente treinador italiano queixou-se por diversas ocasiões da falta de jovens talentosos no futebol russo, algo que não deixa de ser estranho se olharmos, por exemplo, para os resultados recentes dos Sub-17 e Sub-19 daquele país.

Capello – o treinador que o “tempo” mudou Fonte: aif.ru
Capello – o treinador que o “tempo” mudou
Fonte: aif.ru

Este Fabio Capello que estava ao leme da selecção russa já não era aquele que liderou com mestria o AC Milan na primeira metade da década de 1990, mas a federação demorou tempo demais a perceber isso e apoiou-o até ao último momento, fosse por pura ignorância ou provavelmente apenas por não ter capital para financiar a sua saída. Por fim, após algumas intrigas palacianas dignas de um romance russo de final de século, Fabio Capello deixou a selecção russa, deixando para trás um vazio de ideias e de valores que só poderá ser colmatado com muito trabalho e alguma genialidade à mistura, independentemente de quem poderá vir a tornar-se o seu sucessor (Leonid Slutsky e Aleksandr Borodyuk lideram a corrida ao posto de seleccionador, de acordo com a imprensa).

Joel Amorim
Joel Amorimhttp://www.bolanarede.pt
Foi talvez a camisola amarela do Rinat Dasaev que fez nascer, em Joel, a paixão pelo futebol russo e pelo Spartak Moscovo. O futebol do leste da Europa, a liga espanhola e o FC Porto são os tópicos sobre os quais mais gosta de escrever.                                                                                                                                                 O Joel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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