10 coisas que ficam do Mundial Sub-17

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E vão 5 títulos – Com a repetição do triunfo obtido em 2013, nos EAU, a Nigéria sagrou-se bicampeã mundial, sendo o primeiro país a conseguir fazê-lo. Neste escalão, os africanos tiram sempre partido de um desenvolvimento físico mais acelerado, mas as dúvidas que pairam em relação à idade dos jogadores são cada vez menos justificadas. A FIFA e os organismos continentais (a CAF, neste caso) têm feito testes de verificação muito apertados e não há maneira de tirar o mérito aos nigerianos. A geração de Iheanacho, Success ou Yahaya tinha impressionado, mas esta equipa não ficou atrás. À excepção do jogo com o México, na meia-final, foi um passeio para jogadores como Kelechi Nwakali, o craque, ou Victor Osimhen, o goleador. Emmanuel Amunike, que brilhou ao serviço do Sporting e do Barcelona na década de 90, montou uma equipa claramente virada para o ataque, aproveitando a qualidade existente do meio campo para a frente. Apesar da vocação ofensiva do conjunto africano, o guarda-redes Akpan Udoh foi o melhor da prova, sendo também de realçar as excelentes exibições do lateral-direito John Lazarus, bastante activo na exploração do flanco. Nwakali foi o patrão do meio campo e Osimhen o principal desequilibrador no ataque, mas Samuel Chukwueze, com um pé esquerdo temível a criar pela direita, foi um aliado de grande nível.

Kelechi Nwakali: um Kroos ou um Sani Emmanuel? – O sucessor de Kelechi Iheanacho como melhor jogador do torneio é, tal como o compatriota, jogador do Manchester City. Pode definir-se o jovem de 17 anos como um médio ofensivo moderno, já que, apesar de ser mais forte no ataque, não se alheia do processo defensivo, cumprindo com eficácia as tarefas de pressão e recuperação. Já com uma maturidade assinalável, Nwakali tem muita qualidade de passe e é um exímio marcador de bolas paradas. Não há dúvidas de que pode tornar-se um caso sério, mas para isso acontecer terá de seguir as pisadas de um Toni Kroos, que brilhou nesta competição em 2007, e nunca de um Sani Emmanuel, melhor jogador em 2009 mas actualmente sem clube. Yaya Touré disse recentemente que os jogadores africanos só olham para o lado fácil da profissão e que, por esse motivo, existem poucos entre os melhores do mundo. Nwakali quererá ser um deles.

México: a outra potência – Depois dos títulos em 2005, com a geração de Carlos Vela, Giovani dos Santos ou Hector Moreno, e 2011, num Estádio Azteca lotado com mais de 100 mil pessoas, a “Tri” voltou a alcançar um resultado que comprova a força do país neste escalão. O quarto lugar até sabe a pouco, tendo em conta que o México foi a equipa que melhor futebol apresentou no torneio. Com uma matriz de jogo bastante idêntica à da selecção principal, os centro-americanos impressionaram pela excelente organização colectiva, que potenciou o talento individual. Os laterais (Diego Cortés e Ulises Torres, do melhor que se viu na prova) funcionaram como autênticos alas e o médio mais recuado, Alan Cervantes, destacou-se pela forma simples mas altamente eficaz como joga, juntando-se aos centrais na saída de bola. Pablo Pérez, médio esquerdino de grande rotação, estabelecia a ligação com o ataque da equipa, muito móvel e com jogadores bastante interessantes do ponto de vista técnico. Kevin Lara e Kevin Magaña desequilibraram pelos corredores, enquanto Claudio Zamudio jogou no apoio ao avançado Eduardo Aguirre. Desmontando por sectores, o México leva o prémio de equipa mais homogénea do torneio, e só a tremenda falta de eficácia na meia-final com a Nigéria impediu o título.

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O México foi uma das selecções que melhor futebol apresentou
Fonte: Facebook da FIFA U-17 World Cup

A esperança de fazer o que ainda não foi feito – Que ano de sonho para os malianos. O terceiro lugar no Mundial sub-20 parecia difícil de superar, mas a prestação dos sub-17 foi ainda melhor. Uma presença na final é fantástico para um país que nunca logrou atingir um Mundial a nível sénior, mas que, com tanta qualidade a aparecer, pode acreditar que isso acontecerá em breve. Os africanos apresentaram uma equipa que contraria o paradigma habitual do futebol do continente, evoluída tacticamente e bem organizada no sector mais recuado. O Mali teve mesmo um dos melhores registos defensivos da prova, com Samuel Diarra, guarda-redes que transmitiu enorme segurança, a ser um dos maiores responsáveis por esse feito. Foi, no entanto, do meio campo para a frente que apareceram as maiores figuras deste conjunto. Amadou Haidara, médio de transição com facilidade em integrar-se no ataque, e especialmente os extremos Ally Mallé, muito explosivo, e Sékou Koita, esquerdino fortíssimo no 1×1, são jovens a ter em conta para o futuro.

Melhor do que Sinama-Pongolle e Souleymane Coulibaly – Victor Osimhen é um nome para decorar. Foi o jogador mais em foco na competição disputada no Chile e ganhou certamente um bilhete para o futebol europeu, até porque está, por estranho que pareça, sem clube. O avançado nigeriano foi o melhor marcador do torneio, com 10 golos que o tornam no maior goleador da História do Mundial Sub-17 (o francês, bem conhecido pelos sportinguistas, e o costa-marfinense chegaram aos 9). Não seria o primeiro talento africano a não corresponder às expectativas que criou, mas a qualidade que mostrou deixou água na boca. De passada larga e com uma capacidade de aceleração fantástica, é um avançado móvel e que procura muitas vezes o flanco esquerdo para ter espaço para arrancar. Tendo qualidade técnica e capacidade física para criar desequilíbrios, foi uma ameaça constante para os adversários e revelou excelentes atributos na finalização (de pé direito, esquerdo e de cabeça).

Este Mundial não é para europeus – Não há maneira de as selecções do Velho Continente darem cartas neste escalão. Apesar de a França, campeã europeia, ser uma forte candidata à vitória, foi surpreendida pela Costa Rica nos oitavos-de-final e acabou por ser uma das maiores desilusões da prova. Bilal Boutobba e Odsonne Edouard foram uma sombra daquilo que apresentaram no Europeu, deixando os gauleses a meio gás em termos ofensivos. As boas prestações de Timothé Cognat, que se destacou no capítulo das assistências, e de Nanitamo Ikone, esquerdino que desequilibrou a partir da direita, foram insuficientes. A Alemanha não fez melhor, caindo na mesma fase da competição frente a uma sensacional Croácia. Esta geração alemã não é particularmente entusiasmante e, com Felix Passlack bastante apagado, não houve capacidade para ir mais longe. Saem com nota positiva o médio Vitaly Janelt, que demonstrou grande facilidade de aparecer em zonas de finalização, e sobretudo o avançado Johannes Eggestein, inteligente nas movimentações e com excelente sentido de baliza. A Rússia, que já este ano esteve na final do Euro sub-19, continua a deixar sinais positivos para que exista uma renovação no seu futebol. Foi eliminada de forma algo surpreendente pelo Equador, também nos oitavos-de-final, mas revelou jogadores como Georgy Makhatadze, médio cerebral com grande visão de jogo, ou Fedor Chalov, avançado móvel e com óptimo poder de desmarcação, que têm condições para fazer parte da selecção principal a médio prazo. A pior de todas as selecções europeias foi a Inglaterra, que, mesmo estando a apostar fortemente na formação, continua a passar ao lado da maioria destes torneios. Os jovens ingleses não resistiram a um grupo com Brasil e Coreia do Sul, e as exibições de Jay da Silva, lateral-esquerdo muito promissor do Chelsea, ou Marcus Edwards ficaram muito aquém das expectativas.

A salvar a Europa – A Bélgica e a Croácia são das selecções mais interessantes a nível sénior, mas não só. O país francófono é um dos maiores produtores de talento da actualidade e esta geração de sub-17, liderada por Wout Faes, o “David Luiz” belga, conseguiu um resultado muito interessante (3º lugar). Ainda assim, para já não se identificou nenhum jogador que possa chegar ao nível de um Hazard ou de um De Bruyne, mesmo que os médios Dante Rigo e Alper Ademoglu e o avançado Jorn Van Camp tenham dado nas vistas. Pelo contrário, na Croácia há uma mina de ouro para explorar. Com quase toda a equipa titular pertencente à formação do Dínamo de Zagreb, a selecção dos balcãs foi a única capaz de bater a Nigéria e só caiu nos quartos-de-final perante o Mali, já depois de ter vergado a Alemanha. Estiveram três jogadores em especial evidência: Adrian Semper, um pilar na baliza, Nikola Moro, médio ofensivo muito evoluído tecnicamente e com uma visão de jogo soberba, e Josip Brekalo, extremo rápido e criativo, muito perigoso a flectir da esquerda para o meio. Para além destes, que tiveram maior preponderância, o lateral-esquerdo Borna Sosa, muito competente a defender e bastante activo na exploração do flanco, também mostrou ter grande margem de progressão.

Moro e Nwakali, dois dos melhores do torneio
Fonte: Facebook da FIFA U-17 World Cup

Até o talento se foi – Quando a Argentina é eliminada na fase de grupos dos dois Mundiais jovens, é hora de perceber que o trabalho não está a ser bem feito. A participação nos sub-17 ainda conseguiu ser pior do que a dos sub-20, com três derrotas e apenas um golo marcado. É certo que a alviceleste estava no grupo da morte, com Alemanha, México e Austrália, mas isso não serve de desculpa para tanta desorganização e para a inexistência de princípios de jogo. Tirando Tomás Conechny, médio ofensivo/avançado esquerdino com grande qualidade técnica, nem sequer deu para identificar potenciais craques, o que não deixa de ser um sinal preocupante para o futuro.

Surpresas latino-americanas – Em torneios de futebol jovem, há sempre espaço para resultados inesperados. A maior proeza terá sido obtida pela Costa Rica, que eliminou a França com a melhor exibição defensiva do torneio e chegou aos quartos-de-final. O ponto forte dos “Ticos” esteve mesmo no sector mais recuado, com um esquema de três centrais – muito semelhante ao da selecção principal – onde Esteban González foi o patrão. Sem grandes armas ofensivas, apesar do potencial interessante de Kevin Masís e do ponta-de-lança Andy Reyes, acabou por sobressair o médio Roberto Córdoba, dono de um pé esquerdo de grande qualidade. O título de equipa sensação é também partilhado pelo Equador, que tem vindo a crescer imenso na última década e que conseguiu levar a melhor sobre selecções como a Rússia ou a Bélgica. A balança dos equatorianos pendeu claramente para o lado esquerdo, onde o lateral Peris Estupiñan fez uso da sua dimensão física para fazer a diferença em termos ofensivos. O futebol vertiginoso foi uma trademark dos sul-americanos, que tiveram na dupla de ataque composta por Washington Corozo e Jhon Pereira uma parceria de sucesso.

O futebol contra a guerra – Há dois anos, a selecção de sub-20 do Iraque conquistou um surpreendente quarto lugar no Mundial da Turquia, que revelou jogadores como Ali Adnan, actualmente na Udinese, Humam Tariq ou Dhurgam Ismael. Já este ano, a Palestina estreou-se na Taça Asiática e pôde, pela primeira vez, receber um jogo no seu território. A Síria não quis ficar atrás e alcançou a segunda presença num Mundial de sub-17, festejando um ponto contra a Nova Zelândia. Apesar dos problemas estruturais que afectam estes países, há algo em comum entre os “Filhos da Guerra”: o talento puro para o futebol.

11 ideal:

GR Akpan Udoh (Nigéria), LD Diego Cortés (México), DC Wout Faes (Bélgica), DC Francisco Venegas (México) LE Borna Sosa (Croácia); MDEF Alan Cervantes (México), MC Pablo Pérez (México), MO Kelechi Nwakali (Nigéria); EE Ally Mallé (Mali), PL Victor Osimhen (Nigéria), EE Samuel Chukwueze (Nigéria).

Foto de Capa: Facebook da FIFA U-17 World Cup

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Para o Tomás, o futebol é sem dúvida a coisa mais importante das menos importantes. Não se fica pelas "Big 5" europeias e tem muito interesse no futebol jovem.                                                                                                                                                 O Tomás não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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