
O início da época 2025-26 da NBA traz uma expectativa inédita para os adeptos portugueses: Neemias Queta poderá assumir um papel de destaque nos Boston Celtics. Depois de dois anos de aprendizagem e desenvolvimento dentro da organização, o poste de 2,13 metros terá finalmente a oportunidade de mostrar todo o seu valor num contexto competitivo de alto nível. Num plantel em renovação e afetado por lesões, Queta surge como candidato a titular e peça fundamental na manobra da equipa.
Contexto de Boston: renovação e oportunidade inesperada
Os Boston Celtics apresentam-se para 2025-26 bastante diferentes do ano anterior. Saídas importantes no frontcourt deixaram vagas a preencher: Kristaps Porziņģis foi trocado, Al Horford não regressou e Luke Kornet também saiu da equipa. Nesse cenário, Neemias Queta emergiu como provável poste titular dos Celtics para a nova época. Espera-se que Queta assuma a posição principal no garrafão da equipa, algo impensável até há pouco tempo dada a profundidade que Boston tinha no passado recente nessa área. Queta entra assim no seu terceiro ano nos Celtics – começou com um contrato “two-way” em 2023, dividindo tempo entre NBA e G-League, e ganhou entretanto um lugar garantido no plantel principal.
A reconstrução parcial do plantel não se deve apenas a opções estratégicas, mas também a um duro revés: a lesão de Jayson Tatum. O astro sofreu uma rotura do tendão de Aquiles nos play-offs de 2025 e deverá falhar grande parte (ou a totalidade) da época 2025-26. Sem Tatum, Boston entra numa fase de transição competitiva e terá de apostar nos jogadores menos utilizados e em novas aquisições para suprir a falta de estrelas. Elementos da equipa técnica reconheceram que muitos atletas do fundo do banco no ano passado terão agora de dar um passo em frente — e Neemias foi citado como um desses jogadores que precisam de assumir um papel importante. Em resumo, o contexto dos Celtics em 2025-26 abre espaço real para jogadores como Queta se afirmarem, algo até aqui bloqueado pela presença de veteranos consagrados.
Evolução de Queta: de projeto a realidade?
Neemias Queta não surge de para-quedas nesta posição de potencial destaque — é o culminar de um percurso de evolução técnica e de confiança construído ao longo dos últimos anos. Desde que chegou a Boston no verão de 2023, a organização investiu no seu desenvolvimento. Queta dividiu tempo entre treinos com a equipa principal e jogos pelos Maine Celtics (afiliada da G-League), onde dominou a concorrência e lapidou o seu jogo interior. Esse trabalho de formiga deu frutos: o poste português foi melhorando constantemente e “ultrapassou” o nível da G-League, ao ponto de estar preparado para segurar a posição de poste titular em Boston nesta época. No verão de 2024, os Celtics demonstraram a confiança no seu potencial renovando-lhe o contrato por três anos.

A pré-época de 2025 funcionou quase como um rito de passagem para Queta. Ao serviço da seleção nacional, liderou Portugal a um feito histórico no EuroBasket — a primeira qualificação para a fase a eliminar desde 2007 — assumindo-se como a grande figura da equipa. Esta performance não passou despercebida nos Estados Unidos. Uma jornalista local projetou mesmo que Queta pode ser o “jogador mais melhorado” dos Celtics em 2025-26, destacando números de referência que assinou num dos jogos: 23 pontos, 18 ressaltos, 4 desarmes de lançamento. Em suma, Queta chega ao training camp embalado por conquistas e estatísticas encorajadoras, algo impensável em anos anteriores.
Do lado dos Celtics, a preparação de Queta envolveu também desafios intencionais impostos pela equipa técnica. O treinador principal Joe Mazzulla é conhecido por ser exigente, e usou essa característica para moldar Queta. O base Derrick White, colega de equipa, revelou que Mazzulla “foi muito duro com [Queta] nos últimos anos para o preparar para algo assim”, referindo-se precisamente à possibilidade de este assumir agora o lugar de titular. White elogiou a ética de trabalho de Neemias — “ele trabalha muito, compete a um nível alto e continua a aprender o que funciona ou não na NBA” — e garantiu que o balneário está “muito entusiasmado” com a oportunidade que o poste tem pela frente. Em tom de apoio, White confidenciou ainda ser fã de Queta, lembrando jogos dos últimos dois anos em que o português ajudou Boston a vencer ou mudou o momento de uma partida com a sua energia, e sublinhou que agora “o papel dele será grande”.
Também externamente chegam palavras de incentivo e validação. Kristaps Porziņģis, ex-poste dos Celtics e All-Star, cruzou-se com Queta durante o EuroBasket (com a sua seleção da Letónia) e ficou impressionado. Porziņģis afirmou que “Neemy tem melhorado a cada ano”, notando que Mazzulla foi exigente com ele e que “ele está a chegar a um ponto em que merece minutos a sério na rotação”. O letão destacou o trabalho que Queta estava a fazer— “nota-se pelo modo como está a jogar agora neste torneio” — e disse estar feliz por vê-lo prestes a ter muitos mais minutos este ano, já que Queta “colocou o tempo e o trabalho” necessários para isso. Esta validação vinda de um veterano conceituado indica que, aos olhos de quem privou com ele, Queta está realmente pronto para dar o salto de projeto de desenvolvimento a contribuinte regular em Boston.
O próprio Neemias demonstra uma confiança tranquila neste momento decisivo. Em entrevista durante o EuroBasket, revelou que manteve contacto regular com Mazzulla ao longo do verão, recebendo mensagens de apoio, conselhos técnicos e incentivo. Queta valorizou essa relação — “o coach envia-me mensagens de apreciação, a dizer no que vê que estou melhor e o que preciso de aprimorar… ele puxa por mim para ser melhor, e não precisava de o fazer, por isso não tomo isso como garantido”. Após a eliminação de Portugal, afirmou sentir-se no melhor caminho para ter uma época de afirmação na NBA, dizendo que o EuroBasket foi “uma boa oportunidade para evoluir o [seu] jogo e ficar pronto para a próxima época” e que se colocou “na melhor posição para ter uma época breakout, pois tem as ferramentas para competir com os melhores”. Palavras de quem sabe o que quer e entende o momento.
Papel projetado e minutos em 2025-26
Tudo indica que Neemias Queta entrará na temporada como titular no cinco inicial dos Celtics, algo que seria surpreendente há um ano mas que agora faz parte do plano de Boston. Observadores locais referem que a posição de poste principal é “dele a perder” — caberá a Queta confirmar essa aposta durante o camp e os primeiros jogos. Haverá naturalmente concorrência: jogadores como Luka Garza (contratado após boas performances na G-League), Chris Boucher e Xavier Tillman tentarão também mostrar serviço. Porém, o consenso próximo da equipa é que Queta tem vantagem, tanto pelo que já demonstrou, como pela sua familiaridade com os sistemas dos Celtics. Não é irrealista projetar 20 a 30 minutos por noite para Neemias, dependendo da forma e da disciplina. Os números per 36 minutes já sugeriam há muito capacidade de duplo-duplo; com mais tempo em campo, esse impacto pode finalmente materializar-se com regularidade.
Na época passada, Queta foi sobretudo um suplente de circunstância: 62 jogos, 13,9 minutos de média, 5,0 pontos e 3,8 ressaltos, com excelente eficácia perto do cesto. Agora, o cenário muda. Vale recordar que a direção dos Celtics optou por não contratar nenhuma estrela para o garrafão, mesmo após perder Porziņģis e Horford, sinal claro de que acreditam no potencial interno — e isso inclui Neemias. Ainda assim, nada está garantido: terá de “segurar” o lugar em competição direta e provar jogo a jogo que merece manter-se muitos minutos em campo. Dentro da equipa, a mensagem é clara: é “uma grande oportunidade e um grande ano para ele”, e se se mantiver saudável e focado nos detalhes, terá bastantes oportunidades para contribuir e ajudar a equipa a ganhar jogos.
Impacto defensivo: um novo pilar no garrafão?
Se há área onde Neemias pode causar impacto imediato é na defesa. Os Celtics perderam, num curto espaço de tempo, vários dos seus melhores defensores: Jrue Holiday no perímetro, e Porziņģis, Horford e Kornet no interior. Até Tatum, importante no esquema defensivo, estará ausente na maior parte da temporada. Ou seja, Boston ficou órfão de grande parte da sua espinha dorsal defensiva num único verão. Esta realidade torna a presença de Queta como âncora do garrafão ainda mais vital. O estilo do português, naturalmente, tende para esse lado: com 2,13 m, envergadura e mobilidade invulgar para a estatura, Queta perfila-se como protetor de aro e intimidador na área pintada.
Nos minutos (limitados) que teve na última época, Queta deu indicações encorajadoras: quando esteve em campo, os Celtics beneficiaram de proteção do aro de nível alto e de uma elevada taxa de contestação de lançamentos próximos. Traduzindo: Queta revelou eficácia a contestar finalizações perto do cesto, usando a verticalidade e o timing — exatamente o que a equipa precisa num poste titular. Essa capacidade foi visível também no EuroBasket, onde somou médias relevantes em desarmes de lançamento e várias ações decisivas em momentos-chave.
Nem tudo são rosas: a gestão das faltas é crítica. A agressividade e o ímpeto por vezes traem-no, levando a faltas evitáveis que limitam os minutos. A equipa técnica tem martelado este ponto: defender sem fazer faltas, não morder fintas, posicionar melhor o corpo. A boa notícia é que no EuroBasket se notaram progressos: Queta moderou as faltas e manteve-se em campo mesmo com o limite de 5 faltas. O desafio é transferir essa maturidade para a NBA, enfrentando bases e postes de elite que vivem de provocar contactos.
Outro foco será a sua defesa ao pick-and-roll. Pela mobilidade, Queta pode fazer hedge, recuperar e até switch em certos cenários — já mostrou capacidade de deslizar os pés e usar mãos ativas para incomodar tanto o portador da bola como o roller. A amostra na NBA foi curta; a prova de fogo será fazê-lo noite após noite contra ataques de topo. A expectativa é que Mazzulla ajuste coberturas coletivas para o proteger quando necessário, mas Neemias terá de responder, especialmente sem o “colchão de segurança” de Horford no banco.
Nos intangíveis, traz energia, esforço e espírito de luta. É daqueles postes que contesta tudo e não desiste de um lance. Esse motor traduz-se em abafos em recuperação, alterações de lançamento e ressaltos disputados até ao fim. Ressalto defensivo é outra área onde pode subir um patamar: com mais minutos e foco no posicionamento (evitar perder a bola de vista ao bloquear adversários), tem tudo para estabilizar como excelente finalizador de posse no seu meio-campo.
Síntese defensiva: Neemias tem potencial para ser o novo pilar defensivo dos Celtics no interior. Traz tamanho, instinto e entrega; precisa de polir a disciplina de faltas e consolidar leituras no pick-and-roll. Se for consistente, Boston manterá uma defesa respeitável apesar das saídas.
Impacto ofensivo: evolução no jogo simples (e no “não tão simples”)
Embora a defesa seja o cartão-de-visita, o impacto ofensivo será igualmente determinante para justificar minutos altos. Até agora, Neemias tem sido sobretudo um finalizador de pick-and-rolls, corredor de tabelas e criador de segundas oportunidades. A envergadura e capacidade atlética fazem dele um alvo para alley-oops e lobs, algo que pode casar bem com Derrick White e Anfernee Simons.
Nos jogos em que teve minutações mais largas ao longo da carreira, mostrou eficiência: números na ordem dos 8–9 pontos, 7 ressaltos e 1+ tampas em ~24 minutos, com acerto de campo acima dos 60% e lanços livres na casa dos 75%. Isto sugere que contribui sem precisar de muitas posses, capitalizando oportunidades — afundanços, putbacks, faltas sofridas. Se transportar esta eficácia para 25–30 minutos, não é descabido imaginá-lo na casa dos 10–12 pontos por jogo apenas com “comida simples” e percentagens altas.
Onde precisa de evoluir? Primeiro, tomada de decisão após ressalto ofensivo. Queta tem faro para o ressalto de ataque, mas por vezes força o putback em más condições quando o passe para fora seria a melhor leitura. A chave será pausar meio segundo, ler ajudas e decidir: subir de imediato se tiver vantagem clara; caso contrário, devolver e recomeçar o ataque. Segundo, passe e visão. No EuroBasket surgiram boas leituras no short roll, encontrando cortes e atiradores. Se consolidar esse passe extra, pune as dobras feitas aos criadores de Boston. Terceiro, alcance de tiro. Os Celtics querem que, progressivamente, ameaçe do canto e da cabeça do garrafão. Não significa alto volume já, mas uma ameaça ocasional abre a área pintada e obriga o poste rival a sair dois passos do cesto.
Síntese ofensiva: no imediato, o valor de Queta virá de bloquear bem, rolar com força, finalizar com autoridade e dar segundas posses. Qualquer crescimento em passe no short roll e um vislumbre de espaçamento serão bónus que potenciam o ataque.
Conclusão: expectativa cautelosa, mas otimista
A temporada 2025-26 perfila-se como o maior desafio e a maior oportunidade da carreira de Neemias Queta. Depois de anos a trabalhar nos bastidores e a mostrar lampejos do seu potencial, o poste português tem agora os holofotes. O contexto ajuda — uma equipa histórica, mas em renovação, disposta a dar-lhe minutos e responsabilidades. Os incentivos alinham-se: Neemias quer afirmar-se; os Celtics querem descobrir se ele pode ser o poste do futuro; e os adeptos, em Boston e em Portugal, anseiam por ver até onde pode ir.
Importa, contudo, dosear a euforia com realismo. Dominar na Europa não é o mesmo que fazê-lo na NBA; virão noites difíceis e erros de crescimento. O essencial será progredir mês após mês. Se, em abril de 2026, Queta for claramente mais consistente, confiante e influente do que em outubro, a missão estará a ser cumprida.
Dentro do balneário, a confiança é real. As vozes que importam — treinadores, colegas e até adversários respeitados — acreditam que ele está pronto. Mazzulla tem sido exigente, mas também apoiante ativo. Os adjuntos falam numa grande oportunidade que “só depende do Neemy” agarrar. Colegas como Derrick White sublinham a ética de trabalho e anteveem “um grande ano”; veteranos como Porziņģis elogiam a evolução e defendem “minutos a sério”. Esse capital de confiança interna dá margem para errar e continuar a jogar — crucial para crescer.
Em balanço, há motivos para um otimismo cauteloso. As condições parecem reunidas para que Neemias se estabeleça como titular competente ou peça de rotação core. Se fechar a época com algo como 10 pontos, 8 ressaltos e 1–2 desarmes em 25 minutos, com boa eficácia, será difícil não chamar a isso um sucesso tremendo — para o jogador e para os Celtics. Para os fãs portugueses, independentemente do desfecho, 2025-26 será especial: ver um luso possivelmente no cinco inicial de uma das franquias mais emblemáticas da NBA não tem precedente. A oportunidade está à frente. Agora, cabe a Neemias Queta transformar potencial em realidade.