
Está decidido. Shai Gilgeous-Alexander é o jogador mais valioso (MVP) da NBA, relativamente à época 2024/2025. E que ano de sonho está a ter SGA. Em duas semanas, foi eleito para o cinco ideal da NBA, venceu o MVP da época regular, venceu o Oeste e o MVP das finais de conferência. Quem sabe, poderá adicionar um ring e um MVP das finais – mas isso é conversa para um outro artigo.
A luta foi acesa entre o base canadiano e Nikola Jokic. A meu ver, o troféu estaria bem entregue em ambos os casos. Não podemos, contudo, de maneira alguma, desvalorizar a temporada de SGA e argumentar que esta distinção apenas lhe foi atribuída por “voters fatigue”. Shai protagonizou uma das melhores épocas individuais por um guard na história da NBA, para não falar do facto de ser “cabeça de cartaz” de uma das equipas com mais vitórias numa época de sempre.
Por isso, passo a destacar os três aspetos (acompanhados de estatísticas relevantes) que acredito serem os mais relevantes quando discutimos a grandeza pela qual o número dois guiou o seu ano.
1 – pontos, pontos e mais pontos
Disto todos já sabíamos. No que toca a pontuar, ninguém esteve aos pés de Shai Gilgeous-Alexander.
Não basta apenas destacarmos o scoring title que o base dos Thunder venceu. Nem analisar pura e simplesmente os 32,7 pontos de por jogo. Devemos, sim, contextualizar tudo isto, especialmente quando reparamos que Shai não precisou de jogar o último quarto em 17 ocasiões. Os OKC mantiveram a tendência de vencer os jogos por largas margens, o que permitiu ao MVP poupar-se nos instantes finais. Se não o tivesse feito, certamente que as médias individuais seriam diferentes – e bem melhores.
Mas não precisamos de o fazer: removendo da equação os pontos que Shai marcou último quarto, mantendo aqueles os dos outros jogadores, o número dois seria o quarto maior pontuador da liga.
Shai terminou a época como o líder em jogos com mais de 20, 30, 40 e 50 pontos. Fê-lo 75, 49, 13 e quatro vezes, respetivamente. Apenas não conseguiu ultrapassar a mais pequena destas margens numa única ocasião e registou a segunda maior sequência de jogos consecutivos a somar mais de 20 pontos da história, com 72.
A eficiência, também, não deixa que enganar. 51,9% dos lançamentos de SGA entraram, 37,5% deles de três pontos. Só Michael Jordan registou uma época com mais de 30 pontos por jogo e percentagem de acerto de lançamentos superior a 50%.
Falamos de números que colocam SGA em grande companhia. Em companhia histórica.
Importa, também, desmistificar a principal narrativa que envolve o MVP, o excesso de lançamentos livres e o flopping.
Antes de invocar números para a discussão, é crucial esclarecermos um aspeto. É natural que o jogador com mais ataques ao garrafão da liga sofra muitas faltas. Está exposto a mais contacto. Estranho seria se não o sofresse.
Colocando esta temporada em perspetiva, desde 2000, 11 outros MVP’s registaram mais lançamentos livres que SGA. O estatuto de jogador mais valioso da NBA assim exige. Mais que isso, se os pontos resultantes da charity stripe fossem eliminados das contas, Shai continuaria a ser o melhor marcador. Caso apenas o internacional canadiano ficasse sem estes pontos, seria o sexto na lista.
Não se trata de uma dependência no seu jogo, mas sim de uma consequência do estilo que o base dos Thunder adota e de, pela qualidade que o acompanha, uma exigência para a defesa.
2- um esforço coletivo
Todos os vencedores do MVP convocam a importância dos companheiros para se habilitarem a serem distinguidos como o melhor dos melhores. Com Shai, a história não foi diferente. E a verdade é que a imagem que os Thunder deixam após esta época encanta o olhar de qualquer adepto de basquetebol.
Os OKC terminaram o ano com o melhor record da NBA. As suas 68 vitórias correspondem à sexta melhor marca da história.
Além disso, a defesa foi demasiado exaustiva para os adversários. Estatisticamente, foi a melhor das 30 equipas da liga, com um rating defensivo de 106,6. Acompanhado do terceiro melhor ataque da NBA, com 119,2 de rating ofensivo, a formação de Oklahoma City termina a época com o melhor net rating da competição (um dado que reflete o quão melhor esteve uma equipa em comparação com os adversários), fixado em 12,8.
Por fim e, talvez, mais importante, os OKC terminam o ano com a maior diferença pontual de sempre da NBA. Sim, nenhuma outra equipa da história supera este plantel nesta categoria. Em média, vencem por 12,87 pontos.
Tudo isto se torna mais impressionante quando reparamos que falamos da equipa mais jovem da NBA, que teve em SGA o rosto das conquistas e a força motriz para que estes feitos fossem possíveis. Os seus colegas bem o sabem. E têm, agora, um objeto a funcionar como constante recordação.
3- o basquetebol joga-se nos dois lados do campo
Exatamente. Não basta falarmos do poderio ofensivo de um jogador para definirmos o seu grau de aptidão para receber o MVP. Por isso, constitui-se mais um motivo que eleva Shai no debate com Jokic.
O MVP foi líder em +/- , e por uma larga margem. Os seus +918 estão bastante afastados do segundo, precisamente de Jokic, com +594.
Além disso, o somatório de roubos de bola e blocos sorri a SGA. Foi o terceiro atleta com mais “stocks” (208), apenas superado por Victor Wembanyama (228) e Dyson Daniels (284). Contabilizando apenas roubos, o canadiano posiciona-se no top4 da NBA, com 1,7.
Quanto a rating defensivo, os 107,4 do MVP apenas são superados pelos 107,3 de Jalen Williams, seu companheiro de equipa.
Por estas – e muitas outras – razões, devemos apreciar a incrível época que Shai Gilgeous-Alexander está a apresentar, colocando-se como uma das melhores temporadas individuais por parte de um base da história.
Quem sabe, dentro de umas semanas acrescentará um título da liga como cereja no topo de um bastante recheado bolo.