A equipa que foi autora da sua própria História

    A final seria disputada contra o União Sportiva, que tinha eliminado o Guifões e o Vitória SC nas rondas anteriores, para além de deter o factor-casa, também possuía o peso histórico a seu favor, visto que conquistara três dos últimos cinco campeonatos.

    No entanto, em mais uma prova de superação, o SL Benfica realizou uma das melhores exibições da temporada no primeiro jogo na Luz, ao derrotar as açorianas por 91-72, num jogo onde, mesmo com a ausência de Altia, conseguiram equilibrar a luta nas tabelas, com as açorianas a terem apenas mais três ressaltos no jogo que as encarnadas.

    No segundo jogo a ser disputado nos Açores, com a presença de público nas bancadas, a equipa da casa mostrou que não estava na final por acaso, conseguindo uma vitória por 85-72. Apesar de termos assistido a um confronto equilibrado, a diferença esteve sobretudo na eficácia no lançamento de três pontos, com a equipa do União Sportiva a ter um total de 16 lançamentos triplos convertidos e 47% de eficácia.

    Com a “negra” a ser disputada no dia seguinte, assistimos a mais um jogo muito equilibrado em que o desgaste físico e mental se fez sentir em ambas as equipas. Com a vantagem a alternar entre ambas as equipas, o resultado final seria selado com um triplo de Joana Soeiro ainda a mais de três minutos do fim.

    Daí para a frente, assistimos a um período em que as jogadoras de ambas as equipas acusaram o cansaço, jogando mais com o coração do que com a cabeça. No último suspiro do encontro, a norte-americana Nausia Woolfolk rouba a bola a Laura Ferreira e faz o lançamento de 3 pontos sem qualquer oposição, mas a bola não cai no cesto, Mariana Carvalho ganha o ressalto defensivo e soa a buzina final. 73-76 a favor das encarnadas, com a equipa visitante a fazer a festa juntamente com a meia-dúzia de adeptos benfiquistas que marcaram presença no Pavilhão Sidónio Serpa.

    A equipa do Sport Lisboa e Benfica fez história em dose dupla, ao conquistar o primeiro campeonato e a primeira Taça de Portugal da sua história, obtendo assim a sua recompensa pela sua qualidade, pela sua entrega e pela sua atitude competitiva. Agora, há-que dar o breve destaque às figuras desta equipa.

    A base e capitã Joana Soeiro era o motor da equipa dentro da quadra. Dona de uma visão de jogo apuradíssima, a base internacional portuguesa faz muitos estragos com os seus passes teleguiados, seja no pick n’roll ou em transições ofensivas a lançar as colegas em profundidade. Joana Soeiro terminou a época como a jogadora com maior média de assistências no campeonato (5,5).

    Na sombra da capitã, estava a jovem Marta Martins. A atleta formada no clube era uma das principais jogadoras na rotação, sendo que pela sua forma de jogar, nota-se que tem aprendido muito com Joana Soeiro. Dona também de uma grande visão de jogo e capacidade de passe, Marta Martins teve a quarta melhor média de assistências no campeonato (3,5), mas das jogadoras que ocupavam o Top-5 nesse dado estatístico, era aquela com a média de minutos de jogo mais baixa (22 minutos).

    Na posição de base-extremo, Mariana Carvalho era a habitual dona do lugar no onze. A jovem de 20 anos é uma jogadora bastante versátil ofensivamente, sendo capaz de pontuar tanto na penetração e ataque ao cesto, como no lançamento exterior. Terminou a época com 50% de eficácia no lançamento de dois pontos e 37% de eficácia nos triplos. Na sua sombra havia Carolina Gonçalves, que seria também uma aposta habitual na rotação, até que uma lesão no ombro a afastou da competição desde Fevereiro.

    Na posição 3 estava uma das jogadoras mais importantes da equipa. A luso-brasileira Laura Ferreira foi uma das contratações sonantes da equipa e rapidamente se assumiu como uma jogadora importantíssima no modelo de jogo da equipa. Sendo uma jogadora completa e fundamental nos dois lados do campo, a extremo de 25 anos é daquelas jogadoras que não se importa de se “sacrificar” em prol do colectivo, cabendo-lhe muitas vezes a tarefa de marcar as jogadoras adversárias mais perigosas. Laura Ferreira é daquelas jogadoras que joga para a equipa e não para as estatísticas.

    A norte-americana Japonica James foi uma das grandes figuras da equipa e do campeonato. Dona de uma presença física impressionante, a extremo-poste possuía algumas limitações técnicas, procurando usar o físico para se superiorizar na lua nas tabelas e no jogo de costas para o cesto. Foi a MVP do jogo do título (22 pontos e 9 ressaltos) e foi ainda a jogadora com a terceira melhor média de pontos (17,8), quarta melhor média de ressaltos ofensivos (3,8) e a segunda melhor eficácia no lançamento de dois pontos (57%).

    A base Joana Soeiro foi uma das pedras basilares da equipa
    Fonte: FPB

    Por outro lado, a poste Altia Anderson era um excelente complemento a Japonica. Não sobressaía em nenhum gesto técnico do jogo em particular, mas sabia fazer um pouco de tudo e que aparecia quando a equipa mais precisava. Terminou a época com médias de 12 pontos, 7,5 ressaltos e um desarme de lançamento.

    Na rotação, há um destaque para mais duas jogadoras. Mariana Silva era a principal opção para a rotação interior e não sendo tão reconhecida como outra jogadoras, era uma jogadora muito importante para a equipa, como ficou provado com o título de MVP na final da Taça de Portugal. Apesar de ser uma jogadora alta, também é muito rápida e muito habilidosa com a bola na mão, sobretudo a fazer fintas curtas em zonas debaixo do cesto, sendo uma jogadora muito eficaz nos lances livres e nos lançamentos de meia distância. Uma Mariana Silva inspirada em jogos de alto nível é meio caminho andado para a vitória.

    Destaque ainda para Ana Barreto. Uma jovem de apenas 17 anos, que ao longo da época foi ganhando espaço nas opções do treinador, sendo uma jogadora que foi opção nos jogos de maior grau de dificuldade de modo a continuar a crescer e a aprender. Será uma jogadora a ter em atenção e que tem tudo para se tornar um caso sério no curto/médio-prazo.

    No planel encarnado ainda havia ouras jovens jogadoras que não jogavam com tanta regularidade, tais como Cyntia Dias, Chana Paxixe, Ângela de Castro e Carolina Aguiar. Mas não posso deixar de mencionar a veterana Sofia Ramalho Gomes. Aos 40 anos, a base poveira regressou ao activo e mesmo sem jogar com muita regularidade, teve um papel importantíssimo no balneário e na liderança do grupo de trabalho, sendo um grande auxílio para a equipa técnica nesse aspecto.

    Quanto ao treinador Eugénio Rodrigues, só tenho a dizer que é o homem forte por detrás deste projecto. Um treinador que concilia as competências técnico-tácticas, as capacidades de liderança e o compromisso e a identificação com o SL Benfica e com a equipa que liderava, construindo uma equipa unida, coesa, agressiva defensivamente e muito inteligente e gerir os momentos do jogo e a controlar a posse de bola.

    Como disse a capitã Joana Soeiro: “equipas não se sagram campeãs em finais. Elas vão se tornando grandes dia após dia, trabalhando arduamente e ultrapassando cada obstáculo em vez de os usar como desculpa para desistir das suas ambições.”

    Esta citação também diz muito da entrega, espírito de equipa e compromisso desta equipa, que não se deixou abater pelas adversidades, indo sempre à luta com as armas que tinha, conseguindo uma Dobradinha bastante saborosa. Agora, é preciso dar continuidade a este projecto. Continuando a manter esta base e apostando na competência e na dedicação, o futuro desta modalidade poderá vir a ser muito risonho.

    Foto de Capa: SL Benfica

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    Tiago Serrano
    Tiago Serranohttp://www.bolanarede.pt
    O Tiago é um jovem natural de Montemor-o-Novo, de uma região onde o futebol tem pouca visibilidade. Desde que se lembra é adepto fervoroso do Sport Lisboa e Benfica, mas também aprecia e acompanha o futebol em geral. Gosta muito de escrever sobre futebol e por isso decidiu abraçar este projeto, com o intuito de crescer a nível profissional e pessoal.