Antevisão Critérium du Dauphiné: Vingegaard procura um desafio

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Depois do Giro, é hora de preparar o Tour de France que principia já a 1 de julho. Mas antes, chegam as provas que, por excelência, são concebidas com o intuito de ser o último teste antes da “Grand Boucle”: é o caso do Critérium du Dauphiné. A corrida vai para a 75ª edição e decorre entre os dias 4 e 11 de junho.

VINGEGAARD… E O RESTO?!

O maior favorito é o vencedor do Tour, Jonas Vingegaard. Com a ausência de Tadej Pogacar (a recuperar de lesão, o esloveno costuma ir à Volta à Eslovénia para preparar o Tour) e de Primoz Roglic, campeão do ano passado que venceu o Giro no último domingo, o caminho para o dinamarquês parece estar escrito numa passadeira de ouro, pelo menos no que aos próximos 8 dias diz respeito.

Mas será mesmo assim? A verdade é que o líder da Jumbo-Visma vai enfrentar a concorrência de rivais como Richard Carapaz, vencedor da Volta à Itália em 2019, Mikel Landa e Enric Mas, o último dos quais tem apresentado uma grande forma ao longo desta época. David Gaudu também vai estar presente depois de uma má campanha nas Ardenas, motivada por doença.

Já a UAE Team Emirates leva um bloco com Adam Yates e Rafal Majka, sendo que o duo deverá ser o principal apoio de Pogacar em julho. Yates já provou que em corridas de uma semana, não falha e uma vitória do britânico poderia arrasar o psicológico da Jumbo-Visma.

Jai Hindley é um autêntico wild card já que o australiano tem sido consistente este ano, mas não aparenta ser capaz de se bater contra Jonas Vingegaard. Emanuel Buchmann também é bem capaz de arranjar um pódio, de forma discreta.

Depois, existe a INEOS Grenadiers… novamente com um bloco que dá inveja a qualquer formação no Mundo, a formação britânica traz o 6º classificado da Vuelta em 2022, Carlos Rodríguez, mas o campeão espanhol não chega sozinho. Consigo, vêm Daniel Martínez (vencedor da Volta ao Algarve) e Egan Bernal que continua a recuperar do atropelamento que o colocou de fora durante praticamente toda a época de 2022. O vencedor do Tour de 2019 já sacudiu por várias vezes a pressão, manifestando-se feliz com a simples possibilidade de continuar a correr.

Concorrência existe, mas a verdade é que não parece estar ao nível daquele que é bem capaz de ser o melhor trepador do Mundo. 

O PERCURSO

O percurso é constituído por oito etapas, todas bastantes acidentadas, com muito poucas chances para chegadas ao sprint. Aliás estas, a existir, serão a partir de grupos muito seletivos, o que justifica a presença reduzida de homens rápidos na corrida, em particular, daqueles que não resistem tanto à montanha.

Tem tudo para ser uma mudança que afeta a corrida de forma positiva levando a uma prova bem disputada e não a uma competição monótona em que apenas é preciso esperar pelos últimos 5 quilómetros para que aconteça alguma coisa interessante.

A 1ª etapa é logo muito armadilhada. Realiza-se num sobe e desce constante, mas com a particularidade de que nenhuma das subidas é particularmente dura. Aliás, o destaque vai para a tripla passagem pelo Cote du Rocher de l’Aigle, uma contagem de montanha de 4ª categoria com apenas 1 km a 6,2% de pendente.

 Se alguma equipa quiser endurecer a corrida neste dia, pode desgastar e mesmo fazer descolar sprinters menos habilitados para terreno inclinado. Se não for ao sprint num mini-pelotão, a etapa tem tudo para sorrir a um Julian Alaphilippe ou a um Ethan Hayter, ciclistas com estas características de puncheur. A jornada não deverá provocar diferenças entre os candidatos à geral.

O 2º dia de prova já apresenta mais acumulado, realizando-se num novo sobe e desce, com destaque para a dupla passagem pelo Côte de Guetes, uma 4ª categoria de 1 km, a 7,5% de pendente média. O ponto chave do dia prende-se na segunda passagem pela subida, uma vez que o topo fica a 5,5 km do fim, sendo que os últimos 1300 metros são a 5,1% de pendente média. Um dia ainda melhor para os homens explosivos. Não seria surpreendente ver Alaphilippe a envergar a camisola amarela nestes dias. Atenção também a Fred Wright que mostrou muito bem a sua ponta final na última edição da Vuelta.

A 3ª etapa é mais ligeira e será a melhor oportunidade para os sprinters. Muito acidentada nos primeiros quilómetros, é aquele estilo de etapa que seria ideal para uma fuga numa grande volta. No Dauphiné, o mais provável é que uma formação como a BORA tome conta da corrida para controlar em prol de Sam Bennett. Uma 4ª categoria a 19 km da meta, pode servir para deixar homens rápidos em dificuldades, mas de resto, o dia deve ser aproveitado para um relaxamento antes do contrarrelógio.

À etapa 4, chega o primeiro dia em que os homens da geral devem ser protagonistas. Um contrarrelógio de 31,1 km entre Cours e Belmont-de-la-Loire é o palco ideal para Jonas Vingegaard começar a abrir um fosso para os adversários. Enric Mas, Adam Yates e Carlos Rodríguez até devem defender-se mas os demais devem perder bastante tempo para o dinamarquês que só não ganhou o contrarrelógio final do Tour, em 2022, porque ia caindo na descida final.

O contrarrelógio não é muito técnico, começando até com uma pequena subida (2,2 km de extensão) pelo que isso pode ser uma boa defesa para os trepadores e para ciclistas mais inconsistentes nesta especialidade, nomeadamente Daniel Martínez.

A 5ª jornada, com final em Salins-les-Bains, é uma etapa dura com impacto potencial nas contas da geral. Isto porque existem três subidas nos últimos 100 km. O destaque vai mesmo para o Côte d’Ivory, uma contagem de 3ª categoria que depois de atravessada leva os corredores a uma subida não categorizada.

A seguir a uma pequena descida, praticamente sem descanso, chega o Côte de Thésy, uma 2ª categoria de 3,7 km a 8,2% de pendente média. O topo desta subida fica a 14 km do final, sendo que existe ainda uma pequena inclinação não categorizada que, por sua vez, leva os ciclistas até à meta,

O antepenúltimo dia é de chegada em alto com três contagens categorizadas nos últimos 30 quilómetros: o Col des Aravis é uma subida mais extensa, com pendentes não tão elevadas, sendo uma subida mais de desgaste do que outra coisa qualquer; já o Côte de Notre Dame de Bellecombe chega a ter mais de 11% de pendente durante 600 metros e acaba com 800 metros a 7,2% de pendente média.

Por último, as diferenças no Crest -Voland devem ser feitas logo nos primeiros 600 metros, onde se anda a 13,8% de inclinação. Dentro do último quilómetro e meio, pedala-se a 7% de pendente durante 600 metros. Os últimos 600 metros são planos, pelo que é provável que a etapa venha a ser disputada por um grupo de 3 a 7 ciclistas, mas mais só se a corrida for mesmo muito pouco movimentada.

A penúltima etapa tem duas subidas de categoria especial na ementa: a meio da jornada os ciclistas completam o Col de la Madeleine, subida com 24,8 km de extensão, seguido do Col du Mollard, uma subida com 18,3 km. Em ambos os casos, os últimos 3 km contêm pendentes superiores a 7%, com destaque para o Mollard, onde os últimos 1,5 km são a 7,4% de inclinação.

O destaque é feito porque logo a seguir começa o Col de la Croix de Fer, uma subida mítica de 1ª categoria, com 13,1 km de extensão, em que os últimos 6,4 km têm rampas com inclinação até 8,2% de pendente e nos últimos 3 km, a pendente nunca baixa dos 7,9%. Uma etapa com 49,7 km de montanha é bem capaz de decidir a classificação geral desta corrida.

Se não o fizer, a última etapa faz jus ao caráter decisivo que lhe é atribuído. 153 quilómetros ligam Le Pont-de-Claix a La Bastille – Grenoble Alpes Métropole. A parte inicial tem duas subidas de 2ª categoria que, por si só, não devem fazer grandes diferenças. É nos últimos 60 km que se vai decidir a corrida, uma vez que existem quatro contagens de montanha, com pouco ou nenhum espaço plano entre si.

Primeiro, o Col du Granier com 9,8 km, em que a rampa menos inclinada está entre os quilómetros 4 e 5 em que a subida se faz a 5,8% de inclinação. Ao longo do Granier, existem 3 km em que se ultrapassa os 10% de inclinação. Os últimos 1800m variam entre 11,9% e 9,8% de inclinação.

Depois disto ainda existem três subidas. A 2ª categoria do Col du Cucheron conta com os últimos 1800 metros a rondar os 10% de inclinação. O mais duro nesta subida é mesmo os últimos 2,4 km, onde a pendente média é de 8,9%. O Col du Porte também é muito menos duro que o Granier, destacando-se sobretudo por causa de 3 quilómetros em que a pendente não baixa dos 7%.

Mas a última subida da 75ª edição do Dauphiné é um autêntico “rompe pernas” um paredão à espanhola, com 1,8 km a 13,6% de pendente média. A 1200 metros do final, existe uma rampa de 17,5% de inclinação durante 600 metros. Quem estourar aqui pode muito bem perder à volta de 30-40 segundos (se ficar completamente a pé, claro).

É difícil de acreditar que o Critérium du Dauphiné não esteja decidido quando esta etapa chegar, mas o percurso está desenhado para expor tanto quem está perto, como quem está longe da forma ideal para o Tour de France, em julho.

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Filipe Pereira
Filipe Pereira
Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.

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