Findo o pior da pandemia, é tempo de regressar a alguma normalidade. A retoma do desporto é um dos temas quentes deste verão, com tratamentos diferenciados para algumas modalidades e receios sobre como lidar da melhor forma com o público. O Ciclismo não é exceção e, tanto a nível local como internacional, há muitas questões levantadas.
No pelotão World Tour, o calendário ajustado é completamente centrado no Tour, com as outras Grandes Voltas e os Monumentos a serem muito mal tratados. Como é habitual com este Presidente, a UCI parece às ordens da ASO. Sem surpresas, são as provas da sua principal rival, a RCS, que mais sofrem. O Giro d’Italia foi colocado numa posição que força a maior parte das estrelas a não aparecer em Itália, e os Monumentos Milano Sanremo e Il Lombardia fizeram os italianos arrancar cabelos, tentando várias vezes mudar as datas dos mesmos, mas acabando por ter de se contentar com posições no calendário longe das ideais.

Fonte: José Baptista/Bola na Rede
Dois outros fatores merecem também clara repreensão. Foi criada do nada e a meio da temporada uma versão feminina inscrita de forma facilitada no World Tour – mais uma evidência da omnipotência da ASO. Se compararmos a reação da UCI a este fator com forma como foi tratada a Velon, cuja Hammer Series feminina poderia ser um verdadeiro game changer, percebemos facilmente quais as prioridades da organização. A realização dos Mundiais na data prevista é uma vergonhosa ofensa aos campeões em título. Toda a época é atrasada, mas eles só se poderão vestir de arco-íris numa pequena parte da mesma. Triste.
Por Portugal, tristes também foram as declarações do Secretário de Estado do Desporto e Juventude, que manteve constante a fraca qualidade a que já nos habituou. João Paulo Rebelo mostrou estar totalmente desfasado da realidade ao sugerir que o Troféu Joaquim Agostinho (reagendado para uma semana antes da Volta) seria um teste para saber se esta poderia ir para a frente. Como se uma organização tão complexa pudesse ser tratada em apenas uma semana…
Felizmente, tanto a Federação Portuguesa de Ciclismo como a Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais, de novo liderada por Paulo Couto nove anos depois, não foram em cantigas e exigiram publicamente a retoma da competição. A pressão estará a funcionar, porque a DGS já deu indicação pública de que o plano sanitário apresentado pela Federação está conforme.
A organização liderada por Delmino Pereira não perdeu tempo e já lançou o calendário para os tempos mais próximos, com a Volta a Portugal na data já esperada e o regresso à competição no primeiro fim de semana de julho num contrarrelógio individual na Anadia. É verdade que o trabalho de Delmino Pereira não é perfeito. Mas não há dúvida de que o ex-ciclista tem sido uma melhoria face a lideranças anteriores, sendo que continua a marcar pontos pela positiva. A forma como tem lidado com esta situação vai ao encontro daquilo que os adeptos, dirigentes, patrocinadores e atletas desejam. Esperemos que a ação governativa não impeça que esta conjugação de vontades dê frutos.
Foto de Capa: José Baptista/Bola na Rede
Artigo revisto por Mariana Plácido