Tour de France 2015: Froome no topo do Olimpo

    Destaques:

    Depois dos já óbvios destaques a Chris Froome, o maior destaque tem de ir, claramente, para Nairo Quintana. O jovem colombiano voltou a vencer a camisola da juventude e a ser o 2.º melhor classificado desta prova. Com a idade que tem, depois de dois segundos lugares no Tour e da respetiva vitória na camisola branca, mais ano menos ano, provavelmente, iremos ter Quintana como o grande vencedor da maior prova de ciclismo.

    O pódio deste Tour ficou completo com um espanhol, e não foi Alberto Contador. Alejandro Valverde, no ano onde menos se esperava que fizesse pódio, consegue finalmente uma das proezas da carreira e um dos objetivos que mais perseguia desde que começou a competir (notou-se até mesmo mais emoção no espanhol depois deste feito do que quando venceu a Vuelta). Tem tido um ano muito bom e realmente o estar a correr com menos pressão acabou por se revelar crucial para este desfecho.

    Entre o lote de sprinters, à partida, esperava-se muita competitividade nas etapas que seriam disputadas ao sprint. Ainda assim, um homem não quis que isso se verificasse e venceu quatro dessas etapas: André Greipel foi realmente o “rei dos sprints” e, depois de outro alemão (Marcel Kittel), também venceu em Paris.

    Greipel foi o grande vencedor da última etapa da Volta à França  Fonte: Facebook do Tour de France
    Greipel foi o grande vencedor da última etapa da Volta à França
    Fonte: Facebook do Tour de France

    Romain Bardet não começou da melhor forma este Tour mas, ainda assim, acabou por ser dos maiores destaques da prova. Não só venceu uma etapa como também o prémio final de mais combativo deste Tour 2015. Além disso, foi o melhor classificado na geral individual, em termos de ciclistas franceses (9.º lugar mesmo à frente de outro francês – Pierre Rolland, ciclista que bem tentou vencer uma etapa mas foi infeliz nas tentativas).

    Dois ciclistas holandeses terminaram no top10 deste Tour. Robert Gesink, a par de Bauke Mollema (no caso deste último ciclista, já era esperada uma presença entre os 10 mais), foi um deles. O ciclista, que em 2014 sofreu problemas cardíacos e que também tem tido algumas lesões durante a sua carreira, voltou em grande a uma prova deste género e conseguiu ser o melhor depois dos que ficaram no top5. O seu sexto lugar mostra bem a grande prova que realizou e a qualidade que tem. Com 29 anos, tem tudo para voltar a conseguir grandes resultados na Volta à França e, quem sabe, chegar a um pódio (tudo dependerá da concorrência que tiver).

    Por fim, em termos de equipas, para além do destaque dado à Sky, é preciso dar também o devido destaque à equipa da Movistar. Com quase uma hora de vantagem, venceram a classificação por equipas (excelente estratégia para esta classificação, tendo tido quase sempre pelo menos um ciclista na frente e contando com a qualidade de Quintana e Valverde para fecharem rapidamente a etapa em termos de classificação por equipas) e, apesar de não terem vencido a geral e não terem nenhuma vitória de etapa, conseguiram ficar com dois lugares no pódio, algo muito bom para qualquer equipa. Outras três equipas que merecem ser mencionadas são a Etixx Quick-Step, a BMC, MTN-Qhubeka. A primeira foi vencedora de três etapas na 1.ª semana de prova e teve Tony Martin a andar, justamente, com a camisola amarela por uns dias; a segunda foi também vencedora de três etapas (contrarrelógio individual por meio do Rohan Dennis – que também andou de amarelo –, contrarrelógio por equipas e a grande vitória de Greg Van Avermaet frente a Peter Sagan); a terceira foi uma das grandes animadoras de algumas etapas e terminou num excelente 5.º lugar na classificação por equipas. O eritreu Teklehaimanot fez história ao andar com a camisola da montanha por uns dias, e a equipa teve ainda Cummings a fazer mais história para a equipa sul-africana e a vencer uma etapa no dia dedicado a Nélson Mandela.

    : O pódio do Tour de France 2015 e os maiores destaques desta prova  Fonte: Facebook do Tour de France
    O pódio do Tour de France 2015 e os maiores destaques desta prova
    Fonte: Facebook do Tour de France

     

    Desilusões:

    O italiano Vincenzo Nibali foi 4.º classificado neste Tour, portanto, até poderá ser estranho estar a colocá-lo aqui nesta categoria. Mas a verdade é que realmente desiludiu, principalmente na 1.ª semana de corrida, onde se pensava que iria ser ele o principal beneficiado de tudo. A realidade é que isso não aconteceu e acabou até por ficar logo em desvantagem aí face a Chris Froome. Acabou por “salvar” a corrida na vitória que teve na última semana, mas para quem se preparou exclusivamente para este Tour acaba por “saber a pouco”. Até mesmo a própria Astana esteve muito longe do que poderia e deveria ter feito, principalmente tendo em conta aquilo que fizeram no Giro.

    Estarei, talvez, a cometer a maior injustiça por colocar Alberto Contador nesta categoria, mas esperava algo mais do “Pistolero”. O grande vencedor de múltiplas Grandes Voltas e o recente camisola rosa do Giro d’Itália mostrou não ter capacidade para fazer a diferença como só ele sabe fazer. A realidade é que é mesmo muito difícil conseguir vencer o Giro-Tour nos dias de hoje. Ficou comprovado com esta prestação do espanhol. Ainda assim, um 5.º lugar é algo de que ele poderá ficar orgulhoso depois de um desgaste enorme no Giro e de um Tour com grandes nomes.

    Thibaut Pinot era a maior esperança francesa para um lugar no pódio desta Volta à França. No final, o ciclista da FDJ esteve muito longe desse grande feito (algo que conseguiu no ano passado) e, não fosse a enorme e justa vitória no último dia de montanha na subida ao Alpe D’Huez, teria sido um mau Tour para Pinot. Apesar da tal vitória, foi uma desilusão para mim não o ter a discutir o top 5 até ao fim (ficou bem longe, visto que terminou em 16.º lugar). Esperava muito dele, mas aquela 1.ª semana estragou tudo – alguns azares, é verdade, mas, ainda assim, acaba por ser uma desilusão.

    Alexander Kristoff chegava a este Tour como um dos ciclistas com mais vitórias no ano de 2015 e um dos favoritos a dar luta a Peter Sagan pela camisola verde dos pontos. Foi uma grande desilusão vê-lo pouco “em jogo”, apenas conseguindo discutir um ou outro sprint. A concorrência era forte, mas esperava-se muito mais do ciclista norueguês.

    Por fim, é preciso realçar a prestação dos portugueses em prova, e não consigo deixar de se considerar uma desilusão. Rui Costa (terá outras oportunidades, é verdade, mas não sei se deveria repensar no futuro da sua carreira e concentrar-se mais nas provas de uma semana e nas clássicas, porque, nessas corridas, é realmente dos melhores do mundo) era apontado ao top10 e, por questões de saúde e também devido à queda, acabou por não terminar a prova; Tiago Machado pouco se viu, quer na ajuda ao Purito Rodriguez, quer a aparecer nalguma fuga; José Mendes teve uma prova similar, sendo que tinha muito mais liberdade do que o Tiago; sendo que o único português que realmente merece não estar aqui é mesmo Nélson Oliveira, que acabou por ser crucial para a vitória que Plaza teve e ainda tentou a sua sorte nalgumas fugas (de destacar a fuga na última etapa).

    Rui Costa não conseguiu aguentar as consequências desta terrível queda na 1.ª semana e abandonou na 2.ª semana de prova Fonte: Facebook de Rui Costa
    Rui Costa não conseguiu aguentar as consequências desta terrível queda na 1.ª semana e abandonou na 2.ª semana de prova Fonte: Facebook de Rui Costa

     

    Surpresas:

    Van Garderen estava no top 3, estava a ser o grande candidato a intrometer-se na luta com os “Fantastic Four” e, surpreendentemente, por extrema infelicidade, abandona a corrida quando se previa que fosse continuar em grande forma neste Tour. Ainda assim, não era dos que mais contribuíam para o espetáculo, já que pouco atacava e tentava mais segurar a sua posição do que propriamente em conseguir algo mais. Mas é realmente dos grandes nomes para futuras Voltas à França.

    Geraint Thomas tem de ser considerado a maior surpresa deste Tour. Até chegarem os Alpes estava simplesmente no top 5 e a competir com ciclistas como Alberto Contador ou Vincenzo Nibali. Já com provas dadas em clássicas e com bons resultados em provas de uma semana, é verdade que até se poderia imaginar que um dia Thomas chegasse a um nível assim, mas não agora. Foi quase sempre um ciclista de grande ajuda para Froome e merecia que as coisas lhe tivessem corrido melhor na 3.ª semana. Ainda assim, fez top 15 e saiu do Tour com as expetativas mais altas depositadas nele. Quem sabe se não será o líder da equipa no próximo Giro, já que Richie Porte – outro nome que ajudou imenso Froome – irá abandonar a Sky.

    O único ciclista do top 10 a quem ainda não fiz referência: Mathias Frank. O suíço vinha como chefe de equipa e com bons objetivos para este Tour, mas não se esperava que as coisas corressem tão bem para ele. Depois de entrar numa fuga em que vingou e com vários minutos de avanço para o pelotão principal, Frank chegou ao top 10 e de lá não saiu mais. Defendeu muito bem a sua 8.ª posição na geral individual e mostrou qualidade para lutar com aqueles que estavam na luta pelo top 10. Curiosamente, Mathias Frank é um ciclista que Rui Costa já venceu por algumas vezes e esperemos que o que aconteceu este ano a Frank possa acontecer no futuro a Rui (se ele realmente mantiver os seus objetivos iguais para os próximos anos).

    Em conclusão, foi realmente uma boa Volta à França, em termos gerais. Muitos destaques, algumas desilusões, boas surpresas, certas incógnitas para o futuro e também questões que ficarão por responder. Alguns erros e falhas por parte da organização e atitudes não esperadas por parte do imenso público que assistiu nas estradas a esta enorme prova (ainda assim, esquecendo essas partes más, também souberam dar o espetáculo normal de um público da Volta à França).

    PS: Não posso deixar de referir que, tal como no ano passado, é difícil saber onde encaixar Peter Sagan nestas categorias. Foi um grande destaque da prova, não só por ter ganhado a camisola verde dos pontos como também por ter entrado em várias fugas e ainda ter conseguido ajudar o seu líder, Alberto Contador. Ainda assim, é também uma desilusão e uma surpresa por não ter conseguido vencer nenhuma etapa no Tour (já não o faz desde 2013), sendo que voltou a fazer vários top 5. Decerto ele queria mesmo uma vitória que acabou por não chegar (a etapa contra Avermaet e a contra Plaza ficarão como os momentos onde Sagan, se tivesse encarado as coisas de outra forma, poderia ter mesmo vencido – não tirando mérito a quem venceu, claro, mas Sagan poderia ter feito mais e tido mais sorte). É uma pena para um ciclista tão dotado tecnicamente e que faz da sua irreverência uma das suas maiores referências, como podem verificar na seguinte imagem

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    Nuno Raimundo
    Nuno Raimundohttp://www.bolanarede.pt
    O Nuno Raimundo é um grande fã de futebol (é adepto do Sporting) e aprecia quase todas as modalidades. No ciclismo, dificilmente perde uma prova do World Tour e o seu ciclista favorito, para além do Rui Costa, é Chris Froome.                                                                                                                                                 O Nuno escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.