
Ao final da primeira semana de Vuelta, Jonas Vingegaard, Jasper Philipsen e Juan Ayuso já somaram vitórias de etapas e a camisola vermelha está entregue a um homem que a conquistou numa fuga, Torstein Traeen. Nada de inesperado para dar forma ao início da grande volta espanhola.
Sim, houve alguns instantes de surpresas, mas tudo bem ao estilo a que a Vuelta nos tem habituado. O entretenimento de sempre colou-nos ao ecrã e ainda continua tanta coisa em aberto para o que falta. Em suma, e tal como esperado, está a ser um final de época reconfortante para os adeptos da modalidade.
Nem tudo está bem no Reino da Dinamarca
Duas das figuras maiores desta Vuelta são dinamarquesas, Jonas Vingegaard e Mads Pedersen. E, findas as primeiras nove etapas, o trepador já leva duas vitórias de etapa e é o melhor colocado dos candidatos à Geral final, enquanto o sprinter enverga a camisola verde de líder dos pontos, procurando repetir o êxito de 2022.
Porém, ambos têm também razões para se preocupar. Para Vingegaard o problema é a escassez de tempo ganho. O líder da Visma – Lease a Bike tem-se mostrado como o melhor escalador em prova, mas as diferenças que fez ainda não são significativas, particularmente para João Almeida. Ora, com ainda tanta montanha pela frente, se a UAE se encontrar, Vingegaard ainda pode tremer.
Já Mads Pedersen ainda não conseguiu ganhar uma etapa, ficou até bem longe da frente nas chegadas mais rápidas da prova até ao momento e desperdiçou uma oportunidade de ouro ao deixar-se bater por Gaudu numa curva. Além disso, com as etapas que há pela frente e o sistema de pontos da Vuelta, não será tarefa fácil aguentar-se de verde até final.
O puzzle que a UAE não sabe como resolver
Da quinta à sétima etapa, por três dias consecutivos, a UAE Team Emirates subiu ao podium para festejar o triunfo na jornada. Primeiro no contrarrelógio coletivo, depois por escapadas bem sucedidas de Jay Vine e Juan Ayuso. O australiano lidera também a montanha e João Almeida é terceiro à geral, perdendo apenas 38 segundos para o maior adversário, Vingegaard.
O sucesso tem sido muito, mas esta é uma equipa demasiado poderosa para se contentar com vitórias parciais, é preciso ir em busca da camisola vermelha. Resta saber se há capacidade de colocar todos a remar para o mesmo lado. Perante Vingegaard e uma forte Visma em seu redor, Almeida só pode vencer se a equipa for capaz de criar um golpe de magia, mas será difícil de o fazer quando os que seriam principais gregários de montanha, Ayuso e Vine, parecem ter carta branca para priorizar os seus objetivos pessoais.
Três surpresas que não o são assim tanto
David Gaudu continua o seu caminho recente de altos e baixos. Quaisquer ambições a uma boa geral parecem abandonadas, mas já garantiu uma impressionante vitória de etapa e vestiu de vermelho por um dia. A volta e a época estão feitas para o trepador francês que aqui brilhou sprint, primeiro cortando uma curva para bater Mads Pedersen e no dia seguinte ficando à frente de Vingegaard para lhe roubar a liderança pelo desempate na soma de lugares.
Também de vermelho vestiu (e continua a vestir) Torstein Traeen. O norueguês é a rara chama acesa numa Bahrain novamente apagada. Após uma muito positiva Vuelta a Burgos havia alguma expectativa para a sua participação aqui e Traeen aproveitou uma fuga para chegar a primeiro e não tem vendido barata a sua saída de lá.
No mundo dos velocistas, Jasper Philipsen ofereceu duas vitórias à Alpecin – Deceuninck, mas não chegou (para já) ao hattrick por culpa de um homem que nem era suposto estar em prova, Ben Turner. O britânico tem começado a ganhar o seu espaço nesta temporada, mas só surgiu na lista de partida à última da hora por doença do colega Lucas Hamilton. Não se fez rogado e aproveitou da melhor forma a oportunidade.