Tadej Pogacar: O ciclista quase perfeito

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Há cerca de uma semana, estava a circular um tweet (ou um post, para fazer o Elon feliz) com uma ideia bastante pertinente. O post em questão apontava para o facto de Tadej Pogacar não conquistar uma Grande Volta desde 2021, quando venceu a sua segunda Volta à França consecutiva aos 21 anos. Mais concretamente, o post referia que o esloveno estava há 816 dias sem ganhar uma Grande Volta, tendo ganho quatro monumentos nesse período de tempo. Acabava com a conclusão de que Tadej Pogacar é um ciclista de clássicas.

Bem, neste momento a seca de Pogacar em Grandes Voltas já vai nos 839 dias. Mas nesse período de tempo, Pogacar conseguiu mais dois pódios na “Grand Boucle”, mostrando-se como o único capaz de fazer frente a Jonas Vingegaard nas duas edições da corrida. Entrou no Tour deste ano como um dos dois favoritíssimos, uma das duas únicas escolhas com sentido para ganhar a corrida. Portanto será mesmo justo dizer que o maior rival do melhor corredor de três semanas do Mundo é um corredor para provas de um dia, não será esta uma visão demasiado redutora do perfil de Tadej Pogacar?

UM OLHAR SOBRE AS CLÁSSICAS

Sim, Pogacar conquistou 4 monumentos nos últimos dois anos: Lombardia por três vezes e o Tour de Flandres por uma. Antes disso, também já tinha sido campeão da Liége-Bastogne-Liége, no ano de 2021, foi quarto em Flandres no ano de 2022, o mesmo ano em que conquistou a Strade Bianche. Nesse período de tempo, ganhou 10 corridas de um dia, ficando muito perto de fazer o triplete das Ardenas, não fosse a queda na Liége, depois de ter ganho a Flèche Wallone e a Amstel Gold Race, ambas de forma bastante assertiva.

Portanto, é simplesmente inegável que Tadej Pogacar é um ciclista com uma aptidão para as corridas de um dia e não se fica por um tipo de percurso nesse aspeto. Ganha em paralelos, nas corridas das Ardenas, até mesmo no sterrato da Strade Bianche. É um ciclista explosivo, que torna as corridas imprevisíveis, ganhando a partir de um grupo reduzido ou com um ataque a 50 km do fim. Até nos Campeonatos do Mundo já conquistou medalhas.

UM OLHAR SOBRE AS CORRIDAS POR ETAPAS

Ok, tudo bem que Pogacar não ganha uma Grande Volta desde 2021, mas a verdade é que essas não são as únicas provas por etapas que existem. Este ano, o esloveno da UAE Team Emirates participou em três corridas de etapas e ganhou duas, uma das quais frente a Jonas Vingegaard, algo que de resto, só pode ser dito por Sepp Kuss, mas até certo ponto pode dizer-se que a Vuelta foi uma prenda de Natal antecipada da Jumbo ao americano (que fez por merecer essa prenda, diga-se).

 Se limitarmos “Pog” às clássicas, não será justo atirarmos um Primoz Roglic para esse lote? Também ganhou um monumento e provas por etapas, bem antes do compatriota começar a fazê-lo. Entre 2022 e 2023, Pogacar conquistou 5 das 7 corridas de etapas em que participou. As únicas que não ganhou? Os dois Tours que perdeu para Jonas Vingegaard.

E lá está outro ponto que pode pender para os dois lados: Desde 2020 que a Volta à França é a única corrida de três semanas que conta com a participação de Tadej Pogacar. A última e única vez que o esloveno esteve noutra Grande Volta foi na Vuelta de 2019 e fala-se de uma presença no Giro de 2024. Será que o esloveno se consegue adaptar ao perfil mais montanhoso, mais de alta montanha destas Grandes Volta? No Tour, o Col de la Loze tem-se mostrado a fraqueza do Esloveno em França, mais concretamente, uma subida longa com várias rampas acima dos 10 %. A etapa do col du Granon em que Pogacar perdeu o Tour de 2022 também foi semelhante com rampas próximas do mesmo valor, num dia de imenso acumulado.

A resposta deve ser positiva, pelo menos até certo ponto, porque na Volta a Espanha de 2019, Tadej Pogacar foi 3º, não muito longe de Alejandro Valverde, o 2º atrás de Primoz Roglic. Pogacar tinha entrado nessa Vuelta como número 2 de uma UAE liderada por Fabio Aru e não tinha propriamente a equipa dos dias de hoje em seu redor, o que pode ser um bom sinal para uma campanha na “Corsa Rosa”.

Portanto, será Tadej Pogacar um ciclista de clássicas? Sem dúvida, os números falam por si. Mas será um ciclista de corridas por etapas, em três semanas? Claro que sim, os números também mostram isso. Primoz Roglic só ganhou o Giro d’Italia este ano, antes só tinha a Volta à Espanha no palmarés e seria absurdo dizer que o agora ciclista da BORA – hansgrohe é um corredor de clássicas.

Contudo há uma adenda que pode ser feita. Será Pogacar especialista tanto de clássicas, como de Grandes Voltas, ou um corredor de clássicas praticamente perfeito, capaz de ganhar qualquer corrida (e isto não é uma hipérbole) com um limite no seu talento de Grandes Voltas?

 Pogacar foi derrotado nas duas últimas Voltas à França pela sua própria forma, pela má gestão do seu esforço, muito bem aproveitada pela Jumbo-Visma. Terá Pogacar de desviar o seu foco, de mudar o seu estilo de corrida para ganhar a “Grand Boucle” pela terceira vez? Provavelmente, terá de adotar uma postura mais conservadora, escolhendo de forma cirúrgica o momento para lançar os seus ataques. Mas não ficará muito difícil perseguir as clássicas da Primavera, se assim for? Sem dúvida.

É essa a questão que à qual Tadej Pogacar tem de responder em 2024. É o ciclista quase perfeito e o “quase” é o que o impede de derrotar Jonas Vingegaard.Pogacar não é apenas um corredor de clássicas, mas esse é o seu ponto forte. É um corredor de três semanas, um voltista. Mas é nas Grandes Voltas que sobressaem as suas fraquezas.

Filipe Pereira
Filipe Pereira
Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.

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