Football Manager: Um dia real numa realidade virtual

Football Manager é o jogo certo para a tua quarentena numa altura complicada devido ao vírus Covid-19. Se gostas de futebol, se tens paixão pela área do treino e se gostas de jogos de computador, este pode passar a ser o teu passatempo. Os jogadores experientes de Football Manager sabem das pequenas rotinas ou superstições deste jogo de computador: vestir fato em dia de final é eventualmente o exemplo mais conhecido de todos. Mas e se houvesse mais ainda a acrescentar? Passo a partilhar uma pequena experiência com vocês, daquilo que é um dia de Football Manager, para mim, numa espécie de diário com uma realidade virtual. Divirtam-se, sejam responsáveis e fiquem em casa. Porque não a jogar Football Manager?

“É plena madrugada e acordo com um salto, como se tivesse acabado de ter um pesadelo. Fixo o teto por breves instantes até olhar para o relógio. São 4h da manhã. Pego no telemóvel, entro num instante nas redes sociais e faço um rápido scroll, no sentido de ver se há algum jogador acordado. Nem um. Respiro fundo e coloco Beethoven como a grande arma secreta que me fará regressar à terra dos sonhos. Resulta sempre. Resultou mais uma vez.

8h

Bom dia, alegria! Chegou o dia. Antes sequer de sair da cama faço uma rápida revisão de tudo o que tenciono fazer antes do jogo. Por fim, levanto-me, tomo o pequeno almoço e preparo-me para trabalhar um pouco mais antes de ir ter com a equipa para o habitual treino matinal, que fazemos em dia de jogo. Vejo o blazer preparado como se fosse um jogador à espera para entrar. É dia de final da Taça. É dia de ir bem vestido.

Chego ao centro de treinos onde me encontro com a minha equipa técnica, mas primeiro surge o presidente:

-Mister, bom dia. Como se sente?

-Bom dia, senhor presidente. Estamos tranquilos.

-Independentemente do resultado, quero que saiba que…

-Sr. Presidente, nós vamos ganhar. Confiança.

-Nem preciso de dizer mais nada! Bom trabalho e logo falamos novamente.

O futebol é simples de entender. São duas grandes equipas num jogo único e sei perfeitamente que o nosso adversário se preparou da melhor forma para nos enfrentar. Mas a minha confiança é inabalável e tenho de a transmitir a toda a gente como chefe de um grupo de trabalho.

Os jogadores chegam todos bem antes da hora marcada para o nosso encontro. Nota-se que é dia de jogo grande: poucas piadas, pouco ruído, caras de concentração, de foco.

Chegou a hora do nosso pequeno treino matinal, onde nos centramos na marcação e defesa de bolas paradas. Em jogos tão equilibrados como o que se espera de hoje, a bola parada pode ter uma importância muito grande na definição de um resultado. Intensifico o meu discurso na forma como quero que estejamos posicionados numa possível transição do adversário, após um canto a nosso favor. Eles têm dois jogadores muito rápidos que nos podem ferir se estivermos fora das nossas posições. Os jogadores entenderam o que pretendo. Eficiência e concentração.

Falamos um pouco após o treino, onde lhes peço uma coisa simples: tranquilidade até à hora do jogo.

-Desfrutem daquilo que vão fazer, porque o futebol é isto mesmo e nem todas as equipas têm o privilégio de chegar a uma final de uma competição. Mantenham-se relaxados, falem uns com os outros, distraiam-se. Faltam muitas horas.

Os jogadores perceberam o que quis dizer. Apesar de um ou dois atritos com jogadores que não tinham tantos minutos e que queriam jogar, tenho uma relação excecional com este plantel. Todos têm uma fome de vencer enorme, e quando assim é, e quando entendem que a preparação e o treino são fundamentais na obtenção de vitórias, facilitam a minha vida enquanto treinador. Toda a gente quer jogar e eu não tenho um 11 certo: tenho um plantel de 25 jogadores em que qualquer um pode ser chamado. E faço questão que eles saibam isso.

Almoçamos juntos no nosso centro de treinos. Nota-se agora um ambiente mais descontraído entre todos. A comida tem esse efeito. Sou o primeiro a sair da mesa e a dirigir-me ao meu escritório, sozinho. Faço uma retrospectiva daquilo que acredito que vai acontecer no jogo e daquilo que é a nossa estratégia para os vários momentos do mesmo. Está tudo mais que preparado. Tiro sempre 15 minutos por dia para meditar, mas hoje tirei quase uma hora. Por vezes é preciso um pouco de silêncio e eu estava a precisar do meu momento de silêncio.

17h

Chegou a hora de saída e, tal como me prometeram durante a semana, não há vislumbre de ninguém à porta do nosso centro de treinos. A nossa segurança fez, efetivamente, um ótimo trabalho. A partir da chegada ao Estádio, estamos em modo de jogo. Até lá, precisamos de serenidade. Fazemos a viagem, curta, com música, com conversas aleatórias, com a ingestão de uma peça de fruta ou de algum produto energético recomendado pelo nosso nutricionista. Aos poucos começamos a ver uma grande clareira no céu, fruto da iluminação artificial do estádio da final. Estamos a chegar e já se notam filas e filas de carros estacionados. “Esta gente vai ser toda multada”, penso. Foi o pensamento mais aleatório que tive nesse dia. Chegámos. Uma autêntica multidão de adeptos cerca o nosso autocarro com inúmeros cânticos de apoio que se tornam ensurdecedores.

Olho para os jogadores e sinto-me orgulhoso: estão a sorrir. Nota-se que sentem o que está a acontecer e é precisamente esse o grande segredo que quero levar para o jogo: o querer mais do que eles.

Balneário. Limpo, e arrumado com todo o material que precisávamos. Estava tudo pronto. Os jogadores sabem o que têm de fazer. Sem mais nenhuma palavra sobre o jogo, digo-lhes que está na hora do aquecimento. Eles vão como se de uma prisão estivessem a sair. Sempre pensei que esta vontade de jogar, como se fossem crianças, era importante. Hoje, sei que é fundamental.

Falta meia hora para o início do jogo e chegou a hora da nossa última conversa. Estamos todos reunidos em círculo. Coloco uma camisola do nosso clube no centro desse círculo e junto-me aos jogadores:

O futebol é para se jogar pelas pessoas. O nosso é por eles, que estão à vossa espera. Sabemos aquilo que valemos e só nós sabemos aquilo que passámos para chegar até aqui. Mostrem o quanto queremos ganhar isto. Divirtam-se e bom jogo, malta. Tenho muito orgulho em vocês.

Palavras curtas repletas de uma simplicidade completamente enganadora. Estava tão ansioso quanto eles. Noutro dia teria feito uma palestra com pormenores tácticos e motivacionais, mas desta vez não. Era o momento de lhes fazer ver que confio neles.

O estádio está ao rubro e está um ambiente indescritível.

Respiro fundo e bebo um gole de água.

Chegou o momento. Carrego na tecla espaço. Game on.”

 

O momento que vivemos é difícil e insólito para todos nós. Sejam criativos como um treinador, sejam tecnicistas como um extremo e sólidos como um guarda redes. Entretenham-se. Joguem Football Manager, por exemplo. Fiquem em casa e ajudem a salvar-nos a todos. Bons saves!

 

Artigo revisto por Joana Mendes

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O António é um famalicense de gema e um amante do futebol e do desporto. Com o sonho em ser treinador de futebol bem presente, é através da escrita que encontra a melhor forma de se expressar. Apologista do jogo interior e do futebol ao domingo à tarde.                                                                                                                                                 O António escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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