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Árbitros para que vos queremos?

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Na semana passada acabei o meu artigo a dizer que não existem árbitros nem no Ultimate nem na sua versão de praia, e achei que este seria um tema interessante para vos apresentar hoje, uma vez que suscita sempre muitas perguntas.

Não havendo árbitro, as decisões dentro de campo cabem aos jogadores. Por exemplo, no caso de um jogador reclamar falta, a discussão é feita apenas entre os jogadores envolvidos na mesma e alguém tem de ceder e assumir o erro. E nisto se traduz a regra mais importante do Ultimate: o Espírito de Jogo, sem o qual este desporto não seria o que é hoje.

Em primeiro lugar é necessário referir que, em 1970, os fundadores do Ultimate não o conceberam como um desporto no qual fosse proibida a presença de um árbitro, mas sim um jogo em que, caso houvesse um árbitro disponível, o que nunca acontecia, este poderia arbitrar. Assim, os jogadores deviam jogar tendo por base um sistema de honra, respeitando-se mutuamente. Ao longo de décadas, foram (e ainda são) várias as discussões entre aqueles que desejavam ver o Ultimate tornar-se num desporto enorme, que atraísse patrocinadores e fosse transmitido pela televisão, e, por outro lado, os que queriam que este desporto continuasse a ser uma actividade recreativa, livre de árbitros e de marcas. O Espírito de Jogo esteve inclusive ameaçado nalguns períodos da história do Ultimate, mas conseguiu sempre prevalecer. Hoje, existem “Observadores” nas competições de mais alto nível da América do Norte que ajudam os jogadores a resolver casos em que seja mais difícil apurar o que realmente aconteceu, mas há quem defenda a inclusão de árbitros no Ultimate. Os argumentos a favor da introdução de árbitros traduzem-se basicamente num melhor aproveitamento do tempo de jogo (menos e mais curtas paragens), na possibilidade de dar aos jogadores oportunidade de se concentrarem apenas no jogo, e na redução das faltas mal contestadas, facilitando ao mesmo tempo a compreensão dos espectadores. Já os defensores de um Ultimate sem árbitro alegam que a auto-arbitragem sempre funcionou e que incluir um árbitro acabaria com a característica que torna este desporto único.

Compreendo que em alguns desportos seja complicada a ausência de árbitro. Imaginemos, por exemplo, um futebol sem árbitro. Neste caso, tenho a certeza de que seria complicado decidir os “foras de jogo”, pois às vezes nem os próprios jogadores sabem se estão ou não a infringir a regra. Outro aspecto interessante seria o facto de os grandes dirigentes não terem árbitros para subornar…que chatice! Pensem no impacto que teria a inexistência de árbitro nos desportos que conhecem: Basquetebol, Voleibol, Corfebol, Hóquei e por ai adiante. Podem achar que sem árbitro acabava tudo à pancada. Ora bem, isto leva-nos a um benefício do Espírito de Jogo no Ultimate. Esta regra é responsável por ajudar a desenvolver nos jogadores valores como a honestidade, integridade e a lealdade, portanto, torna-os melhores pessoas dentro e fora de campo. Não é fácil manter a calma e conter as emoções em jogos onde a pressão e muita, isto é: como gerir o Espírito de Jogo e o espírito competitivo em cada um de nós durante um jogo? É um desafio, uma aprendizagem constante, e para uns será certamente mais difícil do que para outros. É claro que nos outros desportos existe o fair-play; no entanto, por vezes, os jogadores desrespeitam deliberadamente as regras ou o árbitro comete decisões erradas que podem, eventualmente, custar uma vitória. Ora, isto não acontece no Ultimate, onde o cumprimento das regras depende única e exclusivamente dos jogadores. Mas os seres humanos não são perfeitos e, por vezes, há casos pontuais em que o jogador não está a ser honesto, desrespeitando a regra número um deste desporto, o Espírito de Jogo. Nestes casos em que o espírito competitivo não é saudável, o jogador não estará a jogar Ultimate, mas sim o chamado “Uglimate”, e deve ser chamado à atenção pelos restantes jogadores em campo.
Para além do espírito competitivo, há um sentimento de comunidade em todos os jogadores, de respeito mútuo, de preocupação com o outro e em que as relações interpessoais são muito próximas. Penso que quanto maior é este sentimento, maior é a felicidade de cada um e maior é o desejo de contribuir ainda mais para o bem dessa comunidade. Estão a ver a beleza “da coisa”? Há neste desporto toda uma dinâmica social muito interessante a ser estudada.

A título de curiosidade, depois de cada jogo, as equipas reúnem-se na Roda do Espírito e conversam sobre o que aconteceu em campo, e em cada torneio há um prémio para a equipa que demonstrou o melhor Espírito de Jogo. No recente Campeonato Europeu de Beach Ultimate em Calafell, Espanha, a selecção de Portugal ganhou o troféu do Espírito de Jogo na divisão mista, juntamente com a Turquia.

Roda do Espírito depois do jogo dos Vira’o’Disco contra os B.U.F.A no torneio da Taça de Ultimate Relva, em 2012.  Foto tirada por Juan Carlos Ruiz.
Roda do Espírito depois do jogo dos Vira’o’Disco contra os B.U.F.A no torneio da Taça de Ultimate Relva, em 2012.
Foto tirada por Juan Carlos Ruiz.

Voltando à questão dos árbitros, que está intimamente ligada à regra do Espírito de jogo: toda a comunidade dos desportos de disco, mais precisamente a World Flying Disc Federation e a USA Ultimate, está a reflectir e a debater seriamente sobre este assunto e eu deixo-vos algumas perguntas. Na América do Norte já há observadores. Será que esta regra vai ser implementada noutras competições? Será que daqui a uns anos vamos ter árbitros dentro de campo? Se o Ultimate crescer e começarem a surgir interesses por parte de grandes marcas patrocinadoras? Cada vez mais vai ser o dinheiro envolvido e todos vão querer ganhar. Vai ser necessário um árbitro?

Na minha opinião, a presença de um árbitro em campo iria descaracterizar e mudar completamente este desporto, destruindo a sua beleza. Se é necessário um árbitro em campo, então quer dizer que os jogadores não conseguem respeitar a regra do Espírito de Jogo, deixando de ser honestos e de se respeitar uns aos outros. A responsabilidade de todos os jogadores e órgãos institucionais, como o Ultimate Spirit of The Game Comittee, é manter e fomentar esta regra, na qual reside toda a essência do Ultimate e que o torna um desporto tão diferente de todos os desportos de equipas que conhecemos.

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