
A Elite Cup 2025 não foi apenas o pontapé de saída da época. Foi um espelho antecipado daquilo que cada equipa pretende ser — e daquilo que alguns jogadores já são: certezas, líderes silenciosos, vozes dentro do rinque. O torneio ficou marcado pelo domínio do Benfica, é verdade, mas também pela personalidade de quem soube agarrar o jogo quando ele parecia fugir.
O Bola na Rede elabora e destaca as cinco figuras que definiram o torneio.
1. Roberto Di Benedetto – o maestro do novo Benfica
Existem jogadores que fazem parte do jogo e existem outros que fazem o jogo girar em torno deles. Roberto Di Benedetto pertence ao segundo grupo. O francês foi o verdadeiro cérebro do Benfica na Elite Cup — não apenas por ter sido eleito MVP da competição, mas pela forma como comandou o ritmo da equipa encarnada com a frieza de quem já viu tudo e ainda tem fome de mais.
Quando o jogo acelera, ele abranda. Quando o jogo abranda, ele encontra espaço. Di Benedetto tem essa qualidade rara de transformar o caos em ordem. Na final frente ao Sporting, a sua influência foi constante: aparecia no momento certo para recuperar bolas, lançar ataques e definir transições com um toque que parece simples, mas que é pura inteligência táctica.
Mais do que estatísticas, impressionou a sua leitura emocional do jogo — aquele sexto sentido que lhe permite perceber quando a equipa precisa de pausa, de velocidade ou de liderança. O Benfica pode ter muitos talentos, mas o verdadeiro equilíbrio emocional e estratégico vem de Roberto Di Benedetto.
2. Conti Acevedo – o muro que segurou o título
Um guarda-redes pode não marcar golos, mas é quem define o tom da confiança. Conti Acevedo, o argentino que chegou para ocupar a baliza do Benfica, provou na Elite Cup que é um daqueles casos em que o reforço se transforma em garantia imediata.
Durante a final, o Sporting teve momentos de forte domínio territorial e ofensivo, mas encontrou sempre a muralha Acevedo pela frente. Defendeu penáltis, travou remates à queima-roupa e, acima de tudo, manteve-se impassível quando o público e a pressão tentavam quebrar o seu foco. Essa calma — quase fria, quase provocadora — é a marca dos grandes guarda-redes.
Há uma expressão antiga no hóquei: “um bom guarda-redes é meio campeonato”. No caso do Benfica, é justo dizer que Acevedo foi meio título da Elite Cup. Se o ataque fez o espetáculo, ele fez o impossível parecer rotina. E o mais impressionante é que ainda parece ter margem para crescer.
Acevedo não é apenas um reforço; é uma âncora. E numa época longa, essa pode ser a diferença entre uma boa equipa e uma equipa campeã.
3. Nil Roca – o cérebro silencioso do meio-campo
Nil Roca é daqueles jogadores que não precisam de fazer barulho para comandar o jogo. Discreto na forma, incisivo na execução, o catalão foi o equilíbrio tático que manteve o Benfica em harmonia entre ataque e defesa.
O que mais salta à vista em Nil Roca é o seu sentido de tempo: sabe quando travar, quando pressionar, quando sair no contra-ataque. E quando a equipa precisa de alguém que simplifique, ele é o homem certo. A sua influência vai muito além das jogadas de golo — está na maneira como reposiciona os colegas, como antecipa movimentos e como evita riscos desnecessários.
Na final, marcou um golo decisivo, mas o que mais impressionou foi a forma como fez parecer fácil aquilo que é tremendamente difícil: pensar com clareza sob pressão. Nil Roca é o tipo de jogador que raramente aparece nas capas, mas sem ele a engrenagem não roda.
É o cimento entre as peças de luxo. E toda a grande equipa precisa de um jogador assim.
4. Zé Miranda – o instinto do golo
Há jogadores que precisam de tempo, espaço e ensaio para marcar. Já Zé Miranda, que precisa apenas de um segundo e meio de desatenção adversária. O avançado encarnado foi o melhor marcador da Elite Cup, e na final voltou a mostrar o seu faro de goleador — dois golos, um deles de recarga, outro a matar o jogo.
Zé Miranda tem o que se costuma chamar de “faro de baliza”, mas não é só isso. É a leitura, a coragem e a frieza. O que o distingue é a forma como cheira o momento certo — aquele instante em que o guarda-redes está meio metro fora de posição, ou em que a bola sobrou sem dono. Ele aparece, finaliza, e nem festeja muito: como quem sabe que vai voltar a fazê-lo.
Num Benfica recheado de estrelas técnicas, Zé Miranda oferece algo essencial: eficácia clínica. Não é o mais vistoso, não é o mais criativo, mas é o mais letal. E no hóquei moderno, em que cada golo pesa toneladas, essa é a virtude mais rara.
Ele é o espelho da mentalidade que define campeões — estar no sítio certo, na hora certa, e não desperdiçar.
5. Rafael Bessa – a alma leonina que não se rendeu
O Sporting perdeu a final, mas não perdeu dignidade. E boa parte disso deve-se a Rafael Bessa. O avançado leonino foi a faísca de resistência de uma equipa que, durante muitos minutos, pareceu à beira do colapso.
Bessa marcou dois golos, correu mais do que muitos, e nunca desistiu de pressionar, mesmo quando o resultado parecia fechado. O que o torna figura da Elite Cup não é apenas o rendimento técnico, mas a atitude — aquela obstinação que separa quem joga por cumprir de quem joga por acreditar.
Em certos momentos, parecia o único disposto a lutar até ao fim. Pegava na bola, forçava o um-para-um, tentava o remate impossível. E, curiosamente, foi isso que reacendeu o Sporting na segunda parte da final.
Rafael Bessa encarna o espírito que o Sporting precisa de cultivar se quiser desafiar o domínio encarnado: garra, inconformismo e a coragem de enfrentar o adversário de frente. Nem sempre é o talento que ganha — às vezes é a alma. E nessa categoria, Bessa foi o melhor em campo.