Campeãs do Mundo perseguem o sonho olímpico | Espanha

    Integrada no grupo C do torneio olímpico de futebol feminino, a seleção de Espanha era a máxima candidata à medalha de ouro e a rival a bater. Apesar de ser a sua primeira participação nos Jogos Olímpicos, La Roja é a atual campeã do mundo.

    Com a espinha dorsal da equipa centrada no campeão europeu Barcelona (de onde se destacam as últimas Bolas de Ouro Alexia Putellas e Aitana Bonmati), o futebol da seleção espanhola assemelha-se em muito àquele que é praticado pela equipa blaugrana. Um futebol de toque, de posse, de aproximação e com uma identidade muito própria. 

    O seu grupo no torneio olímpico impunha respeito, composto por Japão (uma seleção que a tinha goleado no último Mundial), pelo Brasil, uma seleção histórica no futebol feminino e pela Nigéria, uma seleção sempre perigosa pelo seu físico e velocidade características destas seleções africanas.

    O primeiro jogo do grupo foi contra a seleção do Japão e havia uma grande sede de vingança por parte das jogadoras espanholas. 

    Precavidas para os erros cometidos no jogo do último Mundial no qual foi muito exposta às transições ofensivas rapidíssimas das jogadoras japonesas, a Espanha começou bastante bem o jogo, dispondo de oportunidades, mas cedeu da primeira vez que a equipa japonesa chegou à sua baliza

    À passagem do quarto-de-hora, a Espanha concedeu um livre à entrada da área e Fujino executou na perfeição com um remate ao ângulo da baliza da guardiã Cata Coll, colocando o Japão em vantagem no marcador. 

    Mas esta seleção espanhola (igualmente vencedora da última edição da Liga das Nações) transpira confiança, não se deixou afetar nem permitiu que entrassem fantasmas do passado. Manteve-se fiel à sua ideia de jogo, e conseguiu empatar o marcador por intermédio de Aitana Bonmati menos de 10 minutos depois.

    Esta equipa não sabe especular com o jogo e foi em busca de um golo que as colocasse em vantagem no marcador.  Regressada dos balneários, a equipa foi trocando a bola à espera de encontrar um espaço no qual pudesse ferir a defesa japonesa. Não dispondo de várias oportunidades, o golo da vitória é a imagem de marca desta seleção espanhola, que tem deslumbrado todos os adeptos do futebol (não fazendo qualquer distinção de género).

    Jogada conduzida pelo meio entre Alexia, Mariona e Aitana (que apesar da floresta de pernas que tinha à sua frente), conseguiu perceber a movimentação de Mariona, que com um toque de classe tirou a defesa japonesa do caminho e rematou a contar para o fundo das redes da baliza nipónica.


    Até ao fim do jogo, a Espanha conseguiu congelar a posse de bola, teve uma ou outra oportunidade para aumentar a vantagem, mas preocupou-se essencialmente em conservar o resultado e em assegurar uma vitória preciosa e esse objetivo foi conseguido. O torneio olímpico começava dessa forma com ótimas sensações para a seleção espanhola.

    O segundo jogo do grupo foi contra a seleção da Nigéria, uma equipa que tem na velocidade das suas atacantes o seu ponto mais forte. 

    Com três alterações no onze inicial (Lucia Garcia, Teresa Abelleira e Oihane Hernandez no lugar de Salma Paralluelo, Patri Guijarro e Olga Carmona), a seleção estava bem ciente dos perigos que podia encontrar por parte desta seleção africana.

    Apesar do domínio absoluto do jogo, a seleção espanhola estava com imensas dificuldades em desmontar a bem organizada defesa nigeriana. A Nigéria, por seu lado, tinha a perfeita noção de como podia causar dificuldades à defesa espanhola. Bolas colocadas nas costas das laterais espanholas para poder tirar partido da velocidade de Okoronkwo e principalmente de Oshoala, ex-jogadora do Barcelona e que, portanto, tinha sido companheira de várias jogadoras desta seleção espanhola e as conhecia na perfeição.

    Mas o grande problema é que os recursos técnicos destas duas jogadoras não são muito grandes e apesar de ganharem em velocidade à defesa espanhola, falharam sempre no momento do último passe ou na finalização.

    Antes do intervalo, a Espanha finalmente dispôs de uma clara oportunidade de golo. Cruzamento do lado esquerdo para a entrada determinada de Alexia Putellas, cujo desvio intencional ao primeiro poste, só não colocou a Espanha em vantagem devido a uma grande defesa da guarda-redes nigeriana.

    Ao intervalo, a selecionadora espanhola Montse Tomé fez duas alterações (entraram Athenea del Castillo e Olga Carmona para os lugares de Oihane Hernandez e Lucia Garcia) e a seleção melhorou consideravelmente. Com muita mais intenção no seu jogo e deixando de ter um futebol lento e previsível, a seleção espanhola instalou-se ainda mais no meio-campo nigeriano e foi tendo várias oportunidades para abrir o marcador.

    Algumas dessas oportunidades foram desperdiçadas pela equipa espanhola, outras superiormente defendidas pela guarda-redes nigeriana Nnnadozie e uma delas foi inclusive tirada em cima da linha de golo. Remate a contar de Alexia Putellas, retirado quase de dentro da baliza pela defesa nigeriana.

    A Espanha não desistiu de procurar o golo, mas expôs-se a vários contra-ataques da seleção nigeriana, que podiam ter-se revelado fatais para as aspirações espanholas.

    Até que surgiu um momento de magia de Alexia Putellas (totalmente restabelecida de uma rotura de ligamentos que a deixou muito longe do seu melhor nível durante mais de um ano) e a craque espanhola fez questão de demonstrar que quando está em forma, ainda é uma das melhores do Mundo, senão a melhor.

    Aproveitando o adiantamento da guarda-redes nigeriana, Alexia colocou um livre perfeito ao ângulo da baliza nigeriana, inaugurando finalmente o marcador num golo de belo efeito, só ao alcance de uma predestinada.

    Por fim, a seleção espanhola via o seu domínio avassalador recompensado com a obtenção deste golo a dois minutos do minuto 90.

    O jogo terminou com um resultado bastante escasso tendo em conta as várias oportunidades que a Espanha dispôs, mas a qualificação para os quartos de final já estava matematicamente assegurada.

    No último jogo do grupo contra o Brasil, a selecionadora espanhola decidiu fazer descansar muitas das suas jogadoras principais (Alexia Putellas, Aitana Bonmati, Mariona Caldentey e Irene Paredes foram suplentes) e dar lugar a jogadoras menos utilizadas, destacando-se a titularidade de Jenni Hermoso, que tem sido peça-chave nesta seleção espanhola mas que neste torneio olímpico não tem tido muito tempo de jogo.

    Apesar desta revolução no onze, esta equipa espanhola tem uma personalidade muito grande e uma ideia de jogo muito bem definida, independentemente das jogadoras que o executem.

    A seleção brasileira ainda conta nas suas fileiras com Marta, a melhor jogadora feminina de todos os tempos e alguém que mudou completamente o futebol feminino. Não se entende o reconhecimento e progressão do futebol feminino dos últimos anos sem se falar na Marta.

    No primeiro quarto-de-hora houve uma boa oportunidade para cada lado. Mais uma vez, a defesa espanhola viu-se exposta a alguns contra-ataques da seleção brasileira, destacando uma intercepção de Laia Codina que embateu no poste e quase terminava em autogolo.

    Apesar disso, a seleção espanhola manteve-se fiel ao seu estilo de jogo e ainda se colocou em vantagem no resultado, mas o golo de Lucia Garcia foi corretamente anulado por posição irregular de Patri Guijarro.

    Até ao intervalo, a Espanha foi tendo o controlo do jogo, mas sem criar oportunidades flagrantes de golo. O cariz do jogo mantinha-se o mesmo, a Espanha a ser paciente com bola, mas a exagerar nos cruzamentos para a área, sendo que a maioria não foram bem executados e foram presa fácil para a defesa brasileira. O Brasil tentava sair em contra-ataque, mas foram muito tímidas as investidas brasileiras.

    Perto do intervalo, um lance que mudou completamente o rumo deste jogo. Uma entrada brutal de Marta e que atingiu a cabeça da lateral-esquerda espanhola Olga Carmona. Apesar de não ser de todo intencional, a estrela brasileira foi corretamente expulsa e provavelmente este foi o seu último jogo num torneio olímpico. 

    Fim bastante triste para uma carreira lendária e única, que deixou o relvado lavada em lágrimas.

    Felizmente para o Brasil, esse lance não foi duplamente castigado devido a uma grande intervenção da guardiã Lorena a remate de Teresa Abelleira, uma das melhores em campo.

    Não estando satisfeita com o rendimento de Eva Navarro e Lucia Garcia, a selecionadora espanhola decidiu substituí-las ao intervalo por Mariona Caldentey e Salma Paralluelo.

    A linha defensiva espanhola entrou logo para a segunda parte bastante avançada e muito vulnerável a qualquer contra-ataque brasileiro. Um excesso de confiança manifestamente despropositado da seleção espanhola e que podia perfeitamente ter sido penalizado pela seleção brasileira caso tivesse definido melhor um desses ataques.

    O futebol da Espanha era lento e previsível e não causava grande perigo para uma seleção brasileira bem organizada e a controlar todos os movimentos ofensivos da seleção ibérica. 

    À passagem da hora de jogo, entraram Aitana Bonmati e Alexia Putellas para os lugares das desinspiradas Patri Guijarro e Jenni Hermoso e o jogo da Espanha tornou-se mais objetivo e fluído.

    Não foi surpreendente que a Espanha se colocasse em vantagem à passagem do minuto 68. Cruzamento do lado esquerdo, saída em falso da guarda-redes brasileira Lorena e a surgir Athenea del Castillo a aproveitar para colocar a seleção espanhola em vantagem no marcador.

    A partir daí, o que se viu foram constantes perdas de tempo por parte das jogadoras brasileiras, que incluiu diversas interrupções por assistência à guarda-redes brasileira e acabou com a sua capitã Antônia literalmente ao pé coxinho, o que obrigou a mais interrupções, para total e compreensível descontentamento das jogadoras espanholas.

    Para penalizar esse anti-jogo brasileiro, o árbitro concedeu 16 (!) minutos de desconto. Foi já para lá deste tempo absurdo de descontos (mais uma vez a guarda-redes brasileira necessitou de tratamento médico), que surgiu o melhor momento do jogo.

    Aquele futebol de toque e de constante troca de passes, encontrou Alexia Putellas e a médio-ofensiva espanhola resolveu terminar com o monólogo aborrecido espanhol da melhor forma. Remate em folha seca ao ângulo da baliza brasileira e que ainda embateu no poste. Um grande golo.

    Nos quartos de final, a Espanha irá defrontar a Colômbia e terá que defender muito melhor para não ter a sua defesa tão exposta aos contra-ataques adversários como nos jogos anteriores, pois terão que lidar com o talento das jogadoras colombianas e principalmente de Linda Caicedo, uma das melhores jogadoras do mundo. 

    La Roja terá de ser mais efetiva para que esta aventura olímpica dê lugar à obtenção de uma medalha. E a Espanha não está disposta a aceitar menos do que o ouro olímpico.

    - Advertisement - Betclic Advertisement

    Sabe mais sobre o nosso projeto e segue-nos no Whatsapp!

    Bola na Rede é um órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano. Nasceu há mais de uma década, na Escola Superior de Comunicação Social. Desde então, procura ser uma referência na área do jornalismo desportivo e de dar a melhor informação e opinião sobre desporto nacional e internacional. Queremos também fazer cobertura de jogos e eventos desportivos em Portugal continental, Açores e Madeira.

    Podes saber tudo sobre a atualidade desportiva com os nossos artigos de Atualidade e não te esqueças de subscrever as notificações! Além destes conteúdos, avançámos também com introdução da área multimídia BOLA NA REDE TV, no Youtube, e de podcasts. Além destes diretos, temos também muita informação através das nossas redes sociais e outros tipos de conteúdo:

    • Entrevistas BnR - Entrevistas às mais variadas personalidades do Desporto.
    • Futebol - Artigos de opinião sobre Futebol.
    • Modalidades - Artigos de opinião sobre Modalidades.
    • Tribuna VIP - Artigos de opinião especializados escritos por treinadores de futebol e comentadores de desporto.

    Se quiseres saber mais sobre o projeto, dar uma sugestão ou até enviar a tua candidatura, envia-nos um e-mail para [email protected]. Desta forma, a bola está do teu lado e nós contamos contigo!

    Subscreve!

    PUB

    Artigos Populares

    UEFA deixa grande elogio ao FC Porto

    A UEFA deixou elogios ao FC Porto. O organismo que tutela o futebol europeu gostou da criação do Portal da Transparência.

    Viktor Gyokeres não tem cláusula para o mercado de janeiro e pode custar mais de 100 milhões de euros

    A cláusula de rescisão de Viktor Gyokeres, situada nos 100 milhões de euros, não pode ser ativada no próximo mercado.

    Portugal representado na Homeless World Cup que vai ter lugar em Seul

    Portugal é uma das 56 equipas e um dos 42 países que vai disputar a Homeless World Cup. Competição realiza-se em Seul.

    Botafogo de Artur Jorge empata para a Taça Libertadores

    O Botafogo empatou a zero frente ao São Paulo, em jogo relativo à primeira mão dos quartos de final da Taça Libertadores.

    José Embaló marca no empate do Alashkert frente ao Gandzasar

    José Embaló esteve em destaque no empate do Alashkert frente ao Gandzasar. O avançado de 31 anos marcou e esteve na origem do segundo golo.