Paris 2024, Atletismo #6: As novas figuras da velocidade olímpica

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    Depois das respectivas vitórias no Atletismo, nos 100 metros, Noah Lyles e Julien Alfred perfilavam-se como os grandes candidatos a fazerem a dobradinha, nomeadamente o norte-americano cujos 200 metros são a sua maior especialidade e que não perdia uma corrida desta distância desde os Jogos Olímpicos de Tóquio (ou seja, há mais de três anos).

    No caso da atleta de Santa Lúcia, entrou motivadíssima depois da extraordinária vitória nos 100 metros mas nesta prova iria ter a forte concorrência da norte-americana Gabby Thomas (já que a outra grande candidata Shericka Jackson desistiu estranhamente antes da sua série nas eliminatórias), uma atleta que tem a curiosidade de ter sido formada na conceituada universidade de Harvard e que tem tido uma ascensão meteórica nos últimos tempos.

    Por fora, corriam a americana Brittany Brown e a campeã europeia britânica Dina Asher-Smith, a única atleta europeia capaz de rivalizar com as atletas americanas e caribenhas. 

    As meias-finais decorreram com absoluta normalidade e com as maiores candidatas a confirmar o seu favoritismo.

    A final foi muitíssimo menos equilibrada do que se previa e Gabby Thomas pulverizou a concorrência, ganhando de forma categórica com um excelente tempo de 21.83 (mas ainda bastante longe do seu recorde pessoal de 21.60), conseguindo o ouro olímpico. A medalha de prata foi para a campeã olímpica dos 100 metros Julien Alfred com o tempo modesto de 22.08 e a medalha de bronze para a norte-americana Brittany Brown com o tempo de 22.20. 

    Na vertente masculina, o americano Noah Lyles, Letsile Tebogo (o atleta do Botswana que está chamado a ser um dos grandes nomes do atletismo nos próximos anos) e Kenny Bednarek eram os candidatos mais fortes ao ouro olímpico.

    A grande desilusão desta prova foi a eliminação precoce do campeão olímpico canadiano Andre De Grasse, não se conseguindo apurar para a grande final. 

    Lyles partia como claro favorito e apurou-se tranquilamente para a final, dando sensação de estar em absoluto controlo. 

    Na final, aconteceu o impensável. Quando nada o fazia prever (pois o atleta norte-americano não abdicou do seu ritual de entrar aos saltos e aos gritos quando o seu nome é anunciado), Lyles quebrou totalmente e ficou-se pela medalha de bronze com o modestíssimo tempo de 19.70. 

    A corrida foi ganha brilhantemente por Letsile Tebogo que conseguiu a primeira medalha de ouro para o seu país com um tempo supersónico de 19.46 (recorde africano e a nona melhor marca de todos os tempos), um atleta africano de 23 anos que prima pelo silêncio ao contrário do lado mais espalhafatoso do atleta norte-americano. A medalha de prata foi conquistada por Kenny Bednarek com o tempo de 19.62 .

    No final desta prova, surgiu uma das imagens mais impactantes destes Jogos Olímpicos. O carismático Noah Lyles cedeu totalmente, pareceu estar com falta de ar e necessitou de assistência médica, tendo acabado esgotado e tendo que sair do estádio numa cadeira de rodas. Duríssimo ver aquela imagem!

    Mais tarde soube-se o motivo da quebra física de Lyles. O norte-americano afirmou à imprensa norte-americana que tinha contraído COVID no dia a seguir à sua vitória nos 100 metros e que por isso tinha corrido visivelmente limitado.

    Não deixo de destacar o mérito que tem conseguir conquistar uma medalha de bronze nestas condições mas também é bastante questionável que Lyles tenha escondido isso dos seus colegas de seleção e principalmente dos seus adversários, de que estava infetado com COVID.

    O norte-americano afirmou que o fez porque não podia dar nenhuma vantagem aos seus adversários, mas esta afirmação tem que ser obrigatoriamente vista como anti-desportivismo e nada condizente com o tradicional espírito olímpico.

    É igualmente inadmissível que a organização do Paris 2024 não tenha um protocolo acionado para estas situações em que os atletas apanham COVID. A saúde dos atletas devia ser a sua prioridade máxima e não foi isso que se verificou.

    Infelizmente, a vitória de Tebogo (atleta que perdeu a mãe recentemente e que a homenageou nesta edição dos Jogos Olímpicos, correndo com o detalhe delicioso de ter a sua data de nascimento gravada nas suas sapatilhas) perdeu o protagonismo merecido devido a toda esta polémica com Noah Lyles. O atleta africano afirmou na conferência de imprensa posterior à final que ele não poderia ser o novo rosto do atletismo porque não era tão arrogante como o seu adversário norte-americano.

    Nos 400 metros masculinos, o grande candidato era o norte-americano Quincy Hall e foi ultrapassando tranquilamente a sua série de eliminatórias e as meias-finais mas nunca se podia descurar Kirani James (o atleta de Granada que tinha sido campeão olímpico em Londres 2012 com apenas 19 anos e que tinha conseguido chegar às medalhas no Rio 2016 e em Tóquio há 3 anos atrás), o britânico Matthew Hudson-Smith que se apresentava em grande forma e do zambiano Muzala Samukonga, uma das novas figuras desta distância e que já tinha conseguido correr abaixo dos 44 segundos.

    A final foi bastante equilibrada e ganha em cima da linha de meta com uma diferença de quatro centésimas de segundo pelo norte-americano Quincy Hall, com o excelente tempo de 43.40 (quarta melhor marca de todos os tempos) correndo de trás para a frente, seguido do britânico Hudson-Smith que ficou com a medalha de prata e correu em 43.44 e a medalha de bronze para o surpreendente atleta da Zâmbia Muzala Samukonga com o tempo de 43.74, batendo o recorde nacional.

    Pela primeira vez na história, cinco atletas correram abaixo dos 44 segundos numa final dos 400 metros. Uma final épica e provavelmente a melhor de sempre.

    Nos 400 metros femininos, havia uma clara candidata à vitória: a dominicana Marileidy Paulino, que já havia sido medalha de prata em Tóquio e que procurava ser a primeira mulher da República Dominicana a obter uma medalha de ouro olímpica.

    Marileidy tem sido a grande dominadora da distância e quis confirmar o seu favoritismo, exibindo-se de forma autoritária na sua série de eliminatórias e meias-finais.

    A bi-campeã olímpica das Bahamas Shauna Miller foi mãe recentemente e como tal, apresentava-se fora de forma e Marileidy sabia que tinha uma oportunidade única para conseguir a maior vitória da sua carreira.

    As adversárias que podiam colocar em causa esse sonho eram a atleta do Bahrain Naser Salwa Eid, a polaca Natalia Kaczmarek e a irlandesa Rhasidat Adeleke, mas tudo que não fosse a vitória de Paulino, teria que ser considerada uma enorme surpresa.

    A final foi ganha pela inevitável Marileidy Paulino mas não sem que antes não tenha apanhado um grande susto. Estando em absoluto controlo no início da prova e ganhando uma grande vantagem aos 200 metros em relação a toda a sua concorrência, abrandou demasiado no final e quase se viu ultrapassada por Naser. No final, foi a última a cruzar a linha da meta mas a atleta dominicana sabe que não pode voltar a ter este excesso de confiança, porque pode pagar caro.

    A final foi ganha por Paulino com o tempo fabuloso de 48.17, batendo o recorde olímpico. A medalha de prata foi para Naser com o tempo de 48.53 e a medalha de bronze foi para a polaca Natalia Kaczmarek com o tempo de 48.98..

    Nos 800 metros femininos, a grande candidata era de origem europeia. Numa prova historicamente dominada por africanos, a grande dominadora da distância tem sido a britânica Keely Hodgkinson.

    Sem uma grande figura africana nesta distância, a medalha de prata em Tóquio 2021 queria beneficiar da ausência da campeã olímpica norte-americana Athing Mu (que contra todas as expectativas, não conseguiu a qualificação para os Jogos Olímpicos nos trials americanos).

    As suas grandes adversárias eram a etíope Tsige Duguma e a queniana Mary Moraa, líder mundial do ano. 

    Em Tóquio, Hodgkinson já tinha surpreendido o mundo do atletismo subindo ao pódio com apenas 19 anos, mas agora queria mais e subir ao lugar mais alto do pódio.

    A prova foi controlada do princípio ao fim pela britânica, sempre na frente da corrida numa estratégia bastante arriscada mas que colheu os seus frutos no final. Nos últimos 100 metros, Hodgkinson aumentou o ritmo e ninguém conseguiu acompanhar.

    A final foi ganha com o tempo de 1:56:72 (tempo muito modesto tendo em conta as marcas que já foram feitas nesta prova nos últimos tempos), sendo que a medalha de prata ficou para e etíope Tsige Duguma com o tempo de 1:57:15 e a medalha de bronze para a queniana Mary Moraa com o tempo de 1:57:42.

    Nos 800 metros masculinos (prova que costuma encerrar os Jogos Olímpicos ao nível da velocidade olímpica), os grandes candidatos à vitória eram o queniano Emmanuel Wanyonyi, o canadiano de origem sudanesa Marco Arop e o argelino Djamel Sedjati, líder mundial do ano.  

    Por fora, corriam o espanhol de origem marroquina Mohammed Attaoui e o norte-americano Bryce Hoppel.

    Nas meias-finais, os candidatos foram confirmando o seu favoritismo e apuraram-se sem grandes problemas para a final, à excepção de Attaoui que teve que ser repescado para poder participar da grande final olímpica.

    A final foi ganha ao sprint pelo queniano Wanyonyi, que conquistou a medalha de ouro com o tempo de 1.41.19, superando por apenas um (!) milésimo de segundo o canadiano Arop e o argelino Sedjati, que correu com o tempo de 1:41.50.

    Pela primeira vez na história, quatro atletas correram abaixo de 1:42 numa corrida de 800 metros. Mais uma final inesquecível e um dos grandes momentos do atletismo nesta edição olímpica.

    Uma final absolutamente imprópria para cardíacos e que fechou em beleza a velocidade olímpica em Paris, onde emergiram as novas figuras do atletismo mundial.

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