O conforto não combina com sucesso

    O (muitas vezes excessivo) mimo e conforto do qual as crianças muitas vezes não têm culpa não as obriga a suar mais que o adversário, a correr a mais uma bola distante, a fazer horas extra fora do court. O sentimento de “para quê fazer o esforço?” é muito comum aqui, entre os atletas dos 8 aos 28 anos, fazendo até por vezes lembrar o famoso caso do “talento perdido” que é Ernst Gulbis – o multimilionário tenista letão que assume jogar “apenas por diversão”. E esta questão estende-se a muito mais que a prática do ténis, é uma questão cultural e de educação que afasta os nórdicos do espírito de sacrifício porque, verdade seja dita, raro é aquele que precisa de se sacrificar para ter/conseguir algo – que a capacidade financeira consiga adquirir claro está.

    É certo que é fácil encontrar exceções para esta regra – a Suécia contou com Bjorn Borg, Stefan Edberg e Mats Wilander no topo da classificação ATP e até a dinamarquesa (que, por coincidência ou não, tem um pai polaco) Wozniacki é, atualmente, a número 2 do mundo. No entanto, se tivermos em conta 23.5 milhões de habitantes (somando população de Dinamarca, Finlândia, Suécia e Noruega) a presença nos circuitos profissionais é, realmente, escassa:

    A dinamarquesa Caroline Wozniacki é um raro exemplo de superação, indispensável para chegar ao topo do desporto mundial
    Fonte: Australian Open

    No ranking masculino, o melhor representante destes quatro países é Elias Ymer (128º, sueco) seguido por Casper Ruud (196º, norueguês) e pelos 545º e 546º classificados, oriundos da Finlândia e Dinamarca respetivamente. No que toca às senhoras, exceptuando Caroline Wozniacki, é preciso descermos até ao 555º posto para voltarmos a encontrar uma dinamarquesa. A melhor representante nórdica torna a ser sueca, desta vez Johanna Larsson na 73ª posição, seguida das 217ª e 569ª classificadas, vindas da Noruega e Finlândia respetivamente.

    A pequena população de cada um destes países parece não servir de razão, visto que “até” Portugal – um país com 11 milhões de habitantes e pouca tradição no ténis – tem 4 atletas no top-200 ATP, a Croácia com menos de metade da população portuguesa tem 3 jogadores no top 100 ATP e 4 no top 100 WTA ou mesmo a República Checa, que com 10.5 milhões de habitantes conta com 10 atletas nos top100 somando mulheres e homens. Todos estes países têm, à partida e de forma generalizada, menos condições para fazer brotar talentos. No entanto, a conclusão a que podemos chegar depois desta breve análise é mesmo que a diferença entre produzir bem e em quantidade ou menos bem não se prende tanto à abundância no que toca a recursos, mas sim à forma como se lhes dá uso.

    Foto de Capa: Ubitennis

    Artigo revisto por: Rita Asseiceiro

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    Henrique Carrilho
    Henrique Carrilhohttp://www.bolanarede.pt
    Estudante de Economia em Aarhus, Dinamarca e apaixonado pelo desporto de competição, é fervoroso adepto da Académica de Coimbra mas foi a jogar ténis que teve mais sucesso enquanto jogador.                                                                                                                                                 O Henrique escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.